quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O Conflito de Lavras em 1922

Joaryvar "Imortal" Macêdo


     Os dias que marcaram a transição de 1921 para 1922 carrearam para a então vila de Aurora momentos de agitação e pavor, em virtude de reiterados choques envolvendo a polícia, desafetos e homens de Isaías Arruda de Figueiredo, cuja liderança política começava a firmar-se, mas já despontando ele com um séquito de capangas.
     Aos 6 de janeiro do citado ano de 1922, os embates tornaram-se mais violentos. Famílias abandonaram a localidade, fugindo, espavoridas aos repetidos tiroteios no meio das ruas e até as casas residenciais.
     Todavia, um dos mais deploráveis conflitos e de mais larga repercussão em todo o Estado e além dele, notadamente porquanto redundaria no assassinato do prestigioso coronel Gustavo Augusto Lima, um ano depois, ocorreria em Lavras da Mangabeira, aos 9 de janeiro daquele agitado 1922.
     Já nos são bastante conhecidas as antigas rivalidades no seio da família Augusto de Lavras da Mangabeira, ou, mais precisamente, entre os descendentes das irmãs, dona Fideralina Augusto Lima e Dulcéria Augusto de Oliveira - dona Pombinha, protagonistas alguns deles do lutuoso episódio, provocado, no momento, por um filho do coronel Gustavo, Gentil Augusto Lima, que entretanto, se afastou do campo da pugna.
     Naquela data, em pleno centro da cidade, exaltaram-se em luta armada primos e cunhados entre si, com exceção do cabra Andrelino Jacó, partícipe da contenda. De uma das facções beligerantes, saiu baleado Raimundo Augusto Lima, então prefeito municipal, filho do coronel Gustavo e neto de dona Fideralina e de dona Pombinha. Da outra, perderam a vida, além do major Eusébio Tomás de Aquino, sobrinho das sobreditas dona Fideralina e dona Pombinha, e os irmãos Simplício Augusto Leite e José Leite Filho, Zezinho, netos de dona Pombinha, genro o último, Zezinho, do coronel Gustavo (*).
     A notícia da tragédia, que abalara, profundamente, a população lavrense e da região, circulou pela imprensa livre de Fortaleza e do Rio de Janeiro. O estro popular também encarregou-se de divulgá-la, através de versos plangentes. Familiares dos três mortos da chacina de 1922 distribuíram, largamente m folheto contendo um ABC, cujas estrofes, a primeira e a última, ora se transcrevem:

Acabou-se José Leite,
a flor desta freguesia,
deixou pena a muta gente
pelas coisas que fazia.
Foi a nove de janeiro
às doze horas do dia.

Zombaram deste ABC,
todo ele feito por mim;
se tem alguma pessoa
que reclame ou ache ruim,
a derradeira desgraça
é se morar com mau vizim.

     Após a perda dos filhos Simplício e Zezinho, no conflito, o coronel José Leite de Oliveira, líder oposicionista e concunhado do coronel Gustavo Augusto Lima, em face do clima de insegurança em Lavras da Mangabeira, abandonou os haveres e negócios, transferindo-se para Juazeiro. Ali, ainda se tentou contra sua vida. Achando-se na sala de visitas de sua nova residência, atiraram nele. Correndo para o interior da casa, saiu ileso do atentado. Viveria ainda, por cinco anos, o sofrido coronel Zé Leite, vindo a expirar aos 3 de janeiro de 1927.
     No começo de abril de 1922, havia três meses, portanto, do conflito sangrento, na residência do bacharel Antônio de Alencar Araripe, no Crato, o coronel José Leite de Oliveira foi entrevistado por Gazeta do Cariri, relatando os pormenores do que o jornal chamou "a hecatombe de Lavras".



Transcrição do Livro: Império do Bacamarte
Joaryvar Macêdo, Casa de José de Alencar, UFC, 1990
p.197-199.
(*) MACÊDO, Joaryvar. Um Bravo Caririense. Crato, Empr. Gráfica Ltda., 1974
p.74-75.

4 comentários:

  1. João,

    Nesse conflito morreu meu avô, Simplício, que meu pai jamais conheceu. A esposa do Simplício, Alice, estava grávida e deu a luz em julho de 1922. Eu gostaria de saber mais detalhes, até mesmo se se trata do mesmo caso. Nós, os netos nunca fomos a Lavras e nunca tivemos nenhum contato com ninguém da família do meu avô (a que restou). Somos os descendentes de Smplício, filho do cel. José Leite de Oliveira? Não sei. Precisamos de mais dados de pessoas que conheciam a esposa dele para saber se se trata de Alice.
    Conto com sua ajuda.

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  2. Prezada Maria, Simplício Augusto Leite (seu avô), foi o segundo dos sete filhos do casal José Leite de Oliveira e Amélia Augusto Leite. Simplício foi assassinado junto ao seu irmão mais velho, José Leite Filho (Zezinho) no conflito acima referido. Era casado com Alice de Oliveira Leite, irmã de Dom Expedito, Bispo de Patos, PB, e era filha do Dr. Alfredo Augusto de Oliveira, então Juiz de Direito de Lavras da Mangabeira, e de Elvira Espíndola de Oliveira. Acredito que vc seja filha do único filho de Simplício (Geraldo de Oliveira Leite). Espero ter contribuído, Abraços!!!

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  3. Ajudou muito, obrigada! Eu tinha dúvidas se se tratava do mesmo caso. Mas você me confirmou com os nomes de minha avó e pai. É Verdade, meu pai foi filho único do Simplicio e já morreu há 20 anos. Meu pai sempre foi pobre e trabalhava na UFC, na administração, com um salário que não sustentava a fam[ilia. Nem a mãe dele tinha nada, morava em uma das casas do Dom Expedito, depois da morte dos dois, as irmãs dela tomaram posse da casa no bairro de Fátima e venderam.
    Eu fico pensando, nem minha avó, filha de juiz, nem meu pai, neto de juiz e coronel, herdaram nada? E os bisnetos do juiz e o coroonel, eu e meus irmãos, não temos um teto pra mora!
    Como eu poderia saber se existe alguma herança do meu avô pro filho dele Geraldo? Você pode me ajudar e orientar?
    Agradeço imensamente.

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    1. Maria, procure no Arquivo Público do Estado do Ceará (APECE), centro de Fortaleza, Rua Senador Alencar 348, esquino com Senador Pompeu. Lá procure a Liduina, ela poderá lhe orienar sobre o inventário de Simplício. Procurar na pasta de Lavras. Boa sorte!

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