terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Aurora, CE - De Serra Azul

Transcrição: Luiz Domingos de Luna*


NOTAS SOBRE O POETA SERRRA AZUL
Trecho publicado em O Ceará, de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho, Edição de 1939 – editora Fortaleza. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1977

Nos idos de 1919 chegava a Fortaleza o poeta Serra Azul. Tinha 26 anos, pois nascera a 3 de maio de 1893 no sítio Pau Branco do município de Aurora – CE. Aos 4 anos de idade ficara órfão de pai e mãe, sendo criado por uns tios que não tinham filhos. Aprendera a ler valendo-se de retalhos de jornais, fragmentos de livros escolares, almanaques e folhetos que conduzia, às escondidas, para a sombra do marmeleiro e do mofumbo, arbustos que caracterizam as caatingas do nordeste. Aos 15 anos recebera de Luiz Gonçalves Maciel as primeiras noções. Esse Luiz Gonçalves Maciel havia sido seminarista e era tudo em Aurora: professor, mestre de música, sacristão e farmacêutico. Como sacristão, substituía o vigário nas suas ausências, ministrava sacramentos e fazia pregações; como farmacêutico, era o médico do lugar e das aldeias vizinhas. Maciel encontrava-se em Malhada Funda, na zona do ribeirão Tipi, afluente do Salgado, foragido de Aurora, quando a cidade fora invadida, incendiada e saqueada, em 1908, pelas cabras de José Inácio, do Barro, e de Cândido Ribeiro, mais conhecido por Cândido Pavão. De Lavras, onde residiu o nosso perfilado algum meses, saiu a peregrinar pelo sertão como professor de meninos, detendo-se na Serra azul, a leste de Quixadá, em 1912, quando tratou de construir família. Participando de reuniões na chamada Cidade dos Monólitos, começou a fazer sucesso como improvisador, sucesso que repercutiu em Fortaleza. Juvenal Galeno, Rodolfo Teófilo, Antonio Sales, Quintino Cunha e Leonardo Mota convenceram-no a fixar-se na capital, onde conseguiria emprego. Mas do dinheiro que esse emprego lhe rendia nada sobrava para a compra de livros. A família aumentava de ano em ano. Assim, passou a freqüentar todas as noites, a biblioteca pública. Lia muito, lia até se apagarem as luzes do prédio. Ás vezes era visto em companhia de literatos, e os jornais começavam a publicar as suas poesias. A conselho de Rodolfo Teófilo resolveu adotar o nome de Serra azul, Não mais como apelido, porém como nome de família. Hoje além de poeta, é o professor de história natural e geografia. .
Francisco Leite Serra Azul. De uma memória de anjo, sabe de cor mais de 100 sonetos de Bilac, o seu preferido, e conhece, a fundo, as geografias físicas do Brasil, sendo capaz de responder sobre qualquer dos seus acidentes. Publicou Serra azul em 1924 o Alfabeto das Musas e em 1938 Natureza Ritmada. Ambos esgotados. Alfabeto das Musas contém os versos da fase lírica do autor. Alice é o modelo dos demais sonetos dessa fase. Francisco Leite, que veio do interior quase inculto, fixou-se aqui e vencendo terríveis dificuldades conseguiu cultivar seu espírito, manter e educar sua numerosa família. Hoje é professor, e com o nome de Serra Azul tornou-se um de nossos poetas mais conhecidos. É de sua autoria o volume Natureza Ritmada, aparecido ultimamente e que foi uma vitória para o seu talento. Trecho publicado em O Ceará, de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho, Edição de 1939 – editora Fortaleza. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1977. Meu prezado poeta Francisco leite Serra Azul ( Serra Azul )Alameda das Verbenas, 322 – Q. 13 Aldeota Fortaleza – CE. Pax Tenho participado de vários livros do Aparício, menos deste último: anuário de poetas do Brasil – 1 vol. 77, onde, com satisfação acabo de ler os seus 10 sonetos, sob a denominação Versos bucólicos. Confesso – lhe, meu preclaro poeta, que estou maravilhado são 10 sonetos bucólicos muito bons, o que é bastante raro, hoje em dia, acontecer. Meus efusivos parabéns. Gostei muito dos seus: A farinhada Aurora, pequeno munduru e a lua, todos de um fino lavor e bela inspiração. São difíceis de se fazer. Bravos. Queira dar – me a honra de ler o meu segundo livro de poesias: pensamentos poéticos, propaganda anexa, com 134 novos sonetos, entre alexandrinos, decassílabos e sonetinhos que tenho absoluta certeza de que irá gostar. Não o decepcionarei, meu estimado confrade e, desde já, aceite o meu abraço agradecido e os votos de boa saúde e inspiração. Do seu admirador. A poesia de Serra Azul. Francisco Leite Serra Azul é inconfundível com os demais poetas do Brasil. Inconfundível porque a sua poesia é de cunho científico – filosófico ainda não cultivado no Brasil, filiando-se aos gêneros de Lucrécio, Ovídio e Goethe. Seu livro Natureza Ritmada é uma prova disso. E o livro Versos Bucólicos pelas amostras que temos e pelo que verificamos na intimidade do poeta, não é mais do que uma continuação daquele no seu gênero predileto. Apenas a variante está em que Natureza Ritmada é cosmogônico. Dedica-se aos assuntos da astronomia, da física, da química, da meteorologia, da biologia e da fisiologia e anatomia humana. E matematicamente, entra pelos campos da geometria, onde descreve na Força cósmica um universo de círculos, eclipses, triângulos e linhas, falando sobre a curva do tempo e as Dimensões do Espaço, onde entram em choque as leis da gravitação universal de Newton com as da relatividade de Einstein. Penetra ao fundo dos abismos estelares onde se acha a estrela Antares com seus 370 anos de luz distante de nós e que nenhum poeta como Bilac tem ouvidos para ouví-la ou entendê-la. E com a mesma facilidade desce ao profundo vale submarino onde emitido luz como os radiários, fala do motu-continuo e da evolução na luta universal. Este é o enredo de natureza ritmada. Ao passo que versos bucólicos é geogênico ou geofísico. Trata de assuntos relativos ao adubo da terra, aos minerais, as plantas e aos animais. É todo dividido em ordem metódica. Há uma série de poemas e sonetos sobre plantas industriais e alimentícias outra sobre plantas medicinais, ornamentais e hortenses, outra sobre árvores frutíferas, árvores nativas e árvores.
(*) Transcrição – Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora - Ceará

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Personagens esquecidos: O famigerado padre Luís do Calabaço

Por: João Tavares Calixto Júnior (*).


   Em meio a amplo contigente de personagens históricos que pereceram na memória do povo de Lavras da Mangabeira, está um reverendo, célebre em sua época, ao qual aqui, referenciamos como Luis Antônio Marques da Silva Guimarães, ou singelamente, pe. Luis do Calabaço.
  Filho de Antônio Marques da Silva Guimarães e Joaquina Franscisca de Sá, trata-se o religioso, de autor do projeto de implantação da primeira escola pública de Sousa, PB, sua terrra natal. Foi um vigário muito popular ao seu tempo, estando a frente da paróquia de São Vicente Ferrer por 17 anos (1846 a 1863).
   Sobre este paraibano, caem histórias de ações curiosas, como o fato de o mesmo não residir na casa paroquial, e sim, no sítio Calabaço, de sua propriedade, a cerca de sete quilômetros da então vila de São Vicente das Lavras, num sobrado construído próximo à união do riacho do Rosário (margem esquerda) com o córrego das Emas, que inclusive, serviu de guarida a alguns membros da célebre comissão científica de exploração, em sua estada por doze dias em Lavras, no ano de 1859.
   Teve vida marital com Joaquina Maria do Espírito Santo, conhecida por Marica do padre Luis e com esta, formou família com mais cinco filhos (Luis, Joaquina, Maria, Francisca e José), conforme o descrito em seu testamento, provido, aliás de inúmeros bens, e datado de 9 de outubro de 1862. Em um dos poucos livros de óbito que ainda existem na secretaria da paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras da Mangabeira (1839-1864, fls, 317-318), vê-se o registro de encomendação de sua alma, com 54 anos, pelo pe. José Maria Freire de Brito (padre encomendado), no dia 3 de março de 1863.
   Sobre o referido testamento, recaem interessantes passagens, assim, ricamente trabalhadas no clássico São Vicente das Lavras (Fortaleza, 1984), autoria de um dos maiores historiógrafos nascidos do Ceará: Joaryvar Macêdo, lavrense do Calabaço. Dessas passagens, sobre seu testamento, salienta-se o que aqui se transcreve do referido ensaio, a respeito de algumas vontades do pe. Luís: "Quero que o meu corpo esteja vestido como seu eu fosse celebrar, isto é, com sapatos pretos, meias de seda preta, batina, alva, cordão, estola, manípulo e casula, o que tudo tenho. Quero também que se me ponha na mão um cálice de prata, só tirando quando eu tiver de ser sepultado."
   Proveitoso se faz ressaltar, ainda, que uma grande quantidade de objetos de ouro e prata foram deixados pelo sacerdote, assim como cerca de 450 cabeças de gado bovino, 5 engenhos no termo de Lavras (São Caetano, Bacupari, Canabrava, Limoeiro e Caraíbas), várias propriedades (Calabaço, Fundão, João Ribeiro, Bacupari do Baixio, Pimentas, Cachoeira, Alagoa Nova, Olho d'água - os três últimos em Sousa, PB), além de 300 braças no sítio Logradouro, sendo que nestas haviam grande quantidade de utensílios e implementos, assim como açudes e 12 escravos.
   De Marica de pe. Luis, que após o trespasse do sacerdote contraiu núpcias com Antônio Caetano de Galiza, narra-se que às madrugadas das sextas-feiras, transformava-se numa mula que percorria as estradas do riacho do Rosário, onde escaramuçava-se e espojava-se. Em face da mancebia em que viveu com o padre, tornara mal-assombrado o trecho do sítio em que moravam, no qual segundo a crendice popular, era comum aparecerem visões. A respeito do funeral do padre, contava-se ter sido acompanhado por gatos pretos e urubus do Calabaço até a matriz de São Vicente Ferrer, e desta, ao cemitério, por garças. Estórias de botijas enterradas eram apregoadas ainda, porém nunca se viu alguém ter tido proeza à façanha, porquanto, poucos se arriscariam a desenterrá-las visto à suposta aparição de um velho padre de barbas longas, lançador de fogo pela boca.
   Todavia, seu testamento foi passivo de requerimentos. Em 25 de julho de 1863, D. Joaquina Francisca de Sá reivindicava bens na qualidade de "sucessora de seu finado filho...", declarando renunciar à metade da herança à amásia Maria Joaquina do Espírito Santo, embora estivesse no testamento instituído como herdeiros universais seus cinco filhos. A convenção amigável, entrementes, dizia respeito apenas aos bens deixados pelo vigário, requeridos por sua mãe, e mais nada...



(*) Professor, pesquisador.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Achegas à História de Aurora - CE

Por: João Tavares Calixto Júnior (*).


   Diante do livro de tombo da Matriz do Senhor Menino Deus, no município aurorense, lêem-se abonados apontamentos que se constituem como peças importantes, possíveis chaves elucidativas à biografia tão fragmentada desta terra que, magramente referenciada, se apresenta coetaneamente como um enigma em desvendo diante de suposições sobre sua verdadeira origem. 
   Historiadores caririenses ao longo dos tempos tentam chegar à anuência sobre a derivação exata dessa cidade sertaneja, importante, do ponto de vista cultural e histórico, por ter fincado na orbe cronológica cearense, seu marco contribuitivo. 
   Tem-se em nomes como Antônio Martins Filho, Raimundo Girão, Waldery Uchoa, Antônio Bezerra, Joaryvar Macêdo, Irineu Pinheiro, Renato Braga, José Cícero, Amarílio Tavares, Luiz Domingos de Luna e Jean Tavares, os três últimos, inclusive, meus congêneres, exemplos de literatos preocupados em aferir à Aurora um embasamento histórico fundamentado. Esse tentame, certamente não terá validade se a continuidade na realização dos trabalhos e a devida importãncia de sua existência não for, assim, devidamente valorizada por seus filhos e simpatizantes.
   Busca-se aqui, neste trabalho, particularmente a elucidação; tendo como subsídio, o desapego em contentar-me exclusivamente com a tradição, a oralidade e as informações algumas vezes falhas. Sobre esses equívocos, naturalmente são vistos em referências sobre historicidade das nucleações urbanas, e situam-se, esporadicamente e localmente, em detrimento da verdade histórica sobre as origens aurorenses, devendo, conquanto, serem reparados e repassados aos jovens, motivo maior de se procurar emendar as ditas incorreções.
   Sabe-se, portanto, que além da contribuição de Lavras da Mangabeira para a constituição da freguesia de Aurora, se apresentam os municípios de Milagres e Missão Velha como importantes no processo de criação da freguesia.
   O já referido Livro de Tombo da Matriz aurorense divulga a "História da Paróquia do Senhor Menino Deus da Vila de Aurora", em 30 de julho de 1893. Segundo Irineu Pinheiro (1950), corroborado pelo conterrâneo Amarílio Gonçalves Tavares em Aurora, História e Folclore (1993) a antiga fazenda Logradouro era propriedade do coronel Antônio Leite de Oliveira, a qual por sua morte ficou pertencendo aos seus herdeiros Alferes João Luiz Tavares e Davi Cardoso dos Santos, e que, por morte deste, a parte que tinha  na referida fazenda houve por herança o seu genro, coronel Francisco Xavier de Sousa, que para cumprir um voto de sua mulher, Maria dos Santos Xavier, requereu edificar a pequena capela do Senhor Menino Deus, à margem do rio Salgado, em terras da sobredita fazenda, no lugar denominado Venda, nome que teve a sua origem de uma única casa que então existia, na qual o seu possuidor tinha mercadorias para vendas.
   Sugere-se aqui, terem sido vítimas de erro de revisão, os escritores, assim como outros que pré ou pós, comentam o citado evento. Os herdeiros das terras não seriam os alferes, e sim, diante de documentação comprobatória, os cinco filhos de vida matrimoniosa conferida ao suposto coronel Antônio Leite. O "coronel" apontado, na verdade tratava-se de um reverendo. Seria o Padre Antônio Leite de Oliveira, segundo consta em livros de tombo de igrejas em Icó e Crato, no século XVIII, e conforme texto divulgado na Revista Itaytera de 1967 (nº11, pág. 16) exercera funções sacerdotais em Missão Velha, sendo pró-pároco de maio a novembro de 1805, pároco interino de novambro de 1805 a agosto de 1808, e como vigário de agosto de 1808 até novembro de 1809. Comenta-se mais adiante acerca do padre Antônio Leite, citado aqui, como sendo o verdadeiro pioneiro aurorense.
   Sobre o coronel Francisco Xavier de Sousa, conforme se vê nos anais da história do Ceará, era filho de um português que, abandonando-o ainda criança, em Aracati, faleceu na vila de Campos dos Goitacazes, no Rio de Janeiro, por volta de 1830. Considerado por alguns historiadores como um dos maiores filantes produzidos em Aracati até então, pôs-se a caminho dali, e conseguiu, assim como ludibriar uma mulher na qual viveu maritalmente por longa data, obter toda fortuna do pai. Na volta da viagem de Aracati, Francisco Xavier montou fazenda de plantar, e almejou, ao mesmo tempo, eregir uma vila.
   Segundo o pesquisador Antônio Bezerra (Algumas Origens do Ceará, 1918), o cel. Xavier, em 1837, depois de cumprir a promessa feita por sua mulher tendo edificado a casa e a capela do Senhor Menino Deus, pretendeu mudar o nome do lugar, chamando-o Xavielina e não Venda, porém não aceitando o povo, ficou sendo Venda e não Xavielina. Com a morte do coronel Xavier, tempos depois o Ten. Manuel Joaquim Carneiro, Capitão Antônio Pinto Teixeira e João de Melo Borborema, auxiliados pelo povo, procuraram dar maior acréscimo à pequena capela do Senhor Menino Deus, quando em 1864 apareceu apareceu o Pe. Agostinho Afonso Ferreira, sacerdote que, conhecendo a boa disposição do povo da Venda, empreendeu na capela novos serviços, deixando-a coberta, com corredores e um pequeno consistório pegado à capela. 
   As coisas estavam neste pé quando em 1863 por uma Lei Provisória, no pequeno arraial da Venda elevado já a Distrito de Paz; foram aparecendo outros padres no correr dos anos como bem: o Pe. Joaquim Machado da Silva (conhecido por Padre Gangan), lavrense, marcado na história por ter sido acusado (e após julgamento, inocentado) de crime de morte em 21 de janeiro de 1874, a Hernesto Carlos Augusto, irmão da lendária Fideralina Augusto; Pe. Francisco Tavares Arco-Verde (construtor da primeira capela do município paraibano de Princesa Isabel e fundador do município de Tavares, também na Paraíba) e Pe. Vicente Pinto Teixeira, aurorense, os quais procuraram, sempre ajudados pelo povo, dar à capela do Senhor Menino Deus à devida atenção. 
   Em 1887, já tendo sido por uma lei provisória nº 2.047 de 10 de novembro de 1883 (apesar de alguns historiadores apontarem a lei nº 2.111, de 1884), elevado à Vila de Aurora, desagregando-se assim, da de Lavras, retirou-se o Pe. Vicente Pinto Teixeira, indo à capital a passeio. Ao chegar, foi o eclesiástico nomeado vigário de Trairi pelo Bispo paulista Dom Joaquim Vieira (segundo Bispo do Ceará), o mesmo que solicitou a autorga do título de Barão à Guilherme Studart, em 1900. Diante deste fato, não conseguiu o Pe. Vicente Pinto Teixeira prosseguir com a conclusão do novo cemitério a edificar-se em Aurora. 
   Aponta-se o Pe. Vicente, pela contribuição eloquente à sua terra natal, como um dos grandes nomes da história do município aurorense. Nascido a 19 de julho de 1856, era filho do referido Capitão Antônio Pinto Teixeira e Maria de São José Tavares. Ordenou-se aos 7 dias do mês de novembro de 1880 no seminário da Prainha, em Fortaleza, cidade onde posteriormente exerceria a função de professor da Cadeia Pública, Vigário Geral e Governador interino do Bispado do Ceará, e bem assim, na ordem do tempo, coadjudor em Barbalha, vigário em Aurora e Trairi como já referido, assim como em Aratuba. Faleceu em 1941, aos 19 dias do mês de setembro, após ter sido elegido à Monsenhor e ter sido Deputado à Assembléia cearense por algumas legislaturas.
   Em setembro de 1888, em visita à família, demorou-se o Pe. Vicente por alguns dias em Aurora, e já no mês de outubro, cria a conferência de São Vicente de Paulo, a saber o salão São Vicente de Paulo, localizado em rua do mesmo nome, em Aurora.
   Durante esta visita, ao qual funda em sua terra natal a conferência e um conselho oferecido à São Vicente de Paulo, afirma o historiador Irineu Pinheiro, em O Cariri, (Fortaleza, 1950), que em meio às súplicas contraídas pelo povo à sua permanência, coincididas com o pedido de exoneração em Trairi que lhe havia feito ao Bispo Dom Joaquim,  subsistiu o Pe. Vicente e, após 5 anos, conseguia a elevação da capela do Senhor Menino Deus da Vila de Aurora à condição de matriz, por provisão de 27 de junho de 1893, compreendendo em seu território partes desmembradas das referidas freguesias de Lavras, Milagres e Missão Velha.
   A nomeação do Pe. Vicente Pinto Teixeira deu-se por provisão de de 6 de julho do mesmo ano (1893), tomando posse aos 30 dias daquele mesmo mês. 
   Torna-se prócero comentar-se aqui, em texto publicado a 4 de setembro de 1858, no periódico O Araripe, referências feitas à outra capela existente no município e por muitos referenciada como a primeira a existir no local, de forma errônea.
   Salienta-se a existência na sede da freguesia, de capela dedicada a São Benedito, a qual estaria em completo abandono e bastante arruinada. Teria sido, com o adjutório do povo e das comarcas vizinhas, edificada por um homem negro alforriado denominado Benedito José dos Santos, que por suas viagens ao Rio de Janeiro, a título de visitar a família imperial, se tornou célebre. Menciona-se ainda, a existência de dois filhos seus residentes na capital imperial por ocasião da guerra do Paraguai. Teria trazido à Venda, o Benedito, muitas alfaias que, em parte, teriam sido vendidas para remir a si e a sua família, contudo ainda existindo nos dias atuais, parte dos presentes do Imperador ao corajoso viajante das terras do Salgado, como o sino com armas do império, da Igreja Matriz de Aurora, uma imagem do senhor na então capela de São Benedito, no Bairro de mesmo nome (Aurora Velha) e hoje, relíquia existente à capela do cemitério público municipal de Aurora, uma de N. Senhora dos Remédios, assim como quadros pintados em homengam ao casal imperial. 
   É valiosamente necessário acentuar que, o nome de Venda, atribuída primordialmente a Aurora, vem de período muito anterior à chegada do Coronel Xavier à esta região do Salgado. Isto pode ser comprovado, através da observação do livro de notas de 1812-1813 (folhas 114 a 116) do Cartório de Maria Albertina Feitosa Calíope em Crato (hoje Cartório Calíope 1º Ofício), à época, dirigido pela tabelioa e professora de mesmo nome na antiga Quixará, hoje Farias Brito, filha do Oficial do Exército Joaquim Calíope de Araújo. No livro, vê-se que no dia 14 de dezembro de 1812, passava o Padre Antônio Leite de Oliveira um sítio de sua propriedade (Sítio de terras nominado Venda, com pouco mais ou menos meia légua, comprado ao preço de 100 mil réis de Antônio Lopes de Andrade - primeiro comandante do corpo de cavalaria da Vila Real do Crato - e sua consorte Arcângela Maria, herdeiros de sesmarias no vale do salgado), para seus "afilhados" a saber: Antônio Lima de Mendonça, Venceslau Patrício, Ana Rakel, Antônia e Maria Luiza (filhos de união com Josefa Leonor da Encarnação). Desta forma, a hipótese de um coronel que repassou as terras a dois alferes, um dos quais, sogro do Coronel Xavier, torna-se improcedente.
   Interessante se faz ressaltar, que a fazenda repassada em testamento aos cinco herdeiros, pioneiros gênicos do lugar, dos quais fizeram a família Leite ser uma das mais numerosas até a hodiernidade, em nada era ralacionada com as terras dos pais do eclesiástico, apontadas como extremando com a parte sul do riachinho da Venda, e descendo pelo rio Salgado abaixo até o curral queimado com as terras de Miguel Álvares da parte do Norte, e do nascente, com o mesmo rio Salgado e do poente com terras da Canabrava.
   Manuscritos antigos redigidos em face à corroboração do supra-citado, se vê ainda em livro de registro de batizado da paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras da Mangabeira 1814-1821 (folhas 7 e 8) - (os quais hoje se encontram em acervo da Diocese do Crato). Neste livro de assento, evidencia-se um batizado, assim como vários outros realizados, de um filho de moradores da então Várzea dos Martins, ainda hoje conhecido por Sítio Martins, celebrado pelo sacerdote em seu oratório na Venda ao primeiro dia de dezembro de 1817, portanto, muito antes da chegada do Coronel Xavier na localidade.
   Em face de documentos como esses, e em meio à corroboração de teses defendidas por outros escritores, a exemplo Joaryvar Macêdo, em texto publicado na Revista do Instituto do Ceará, nº 97, pág. 93-111 (1983),  tem-se consubstancialmente como fundador da nucleação urbana aurorense, o Pe. Antônio Leite de Oliveira (patriarca da família Leite de Aurora), sendo, os outros (Cel. Xavier e o Benedito), co-fundadores.
   Trata-se o Sacerdote Antônio Leite, verdadeiro fundador de Aurora, de filho de outro padre, o jesuíta português Alexandre Leite de Oliveira, proprietário no Crato dos Engenhos Rosário e Cabreiro, onde se casou com Teresa de Jesus Maria José. Este casal, seria mais adiante na escala cronológica, os pais de outro cura, o Pe. João Marrocos Teles, pai do célebre abolicionista e fundador do histórico Gabinete de Leitura, em Barbalha, José Joaquim Teles Marrocos, padrinho intelectual, juntamente ao Abade do Monsteiro de São Bento no Rio de Janeiro, Dom Gerardo Van Caloen, de Salustiano Grangeiro de Luna (Dom Joaquim Grangeiro de Luna), um dos meus ancestrais do clã terésio dos Lunas, conforme referenciado pelo pesquisador e genealogista aurorense Luiz Domingos de Luna em bestial ensaio: Um menino caipira que se fez monge (2008).  
   Na revista Itaytera, nº 4 de 1958, em sua pág. 7, vê-se o emérito pesquisador Pe. Antônio Gomes de Araújo, convergir para a já supracitada origem sócio-religiosa aurorense. Referindo-se às povoações do Ceará, particularmente do Cariri, dizia o escritor, originarem-se ao redor de capelas ou casas de oração, a exemplo, Aurora, que surgiu ao pé de uma capela de oração, substituída, a posteriori, por capela da fazenda da "Venda" do Pe. Antônio Leite.
   Segundo se viu, em documentos históricos e não meramente em argumentação especulativa ou textos de escribas não adeptos às pesquisas aprofundadas, doou o referido Pe. Leite aos seus cinco filhos o sítio da Venda, propriedade comprada por este a recebedores de sesmarias, para somente depois, arredarem pé na nova princesa do Salgado, as figuras do preto Benedito e do Cel. Xavier, citado o último, muitas vezes e equivocadamente, como o fundador de Aurora.


(*) Filho de Aurora - Professor e pesquisador.
Doutorando em Biotecnologia de Recursos Naturais - UECE