sábado, 13 de abril de 2013

AS MINAS DE SÃO JOSÉ DE AURORA DO PADRE CÍCERO - PARTE I.

Por: João Tavares Calixto Júnior.
 
  
 
     Realizado em 31 de janeiro de 1918, registro de documento pertencente ao Padre Cícero Romão Batista a respeito da Jazida Cuprífera da Zaíra antigamente denominada Coxá, encravada em parte no município de Aurora. Foi a invenção assentada no Termo do Jardim, em livro competente, sendo transcrito pelo Juiz de Direito de Jardim ao Ministro da Aviação, secção de Minas, conforme Art. 2º do Decreto Federal de 6 de janeiro de 1915. Eis integralmente a reprodução da escritura:
 
"A fazenda Cuprífera acha-se na Fazenda Zaíra, antigamente denominada Coxá ou Riacho Seco. Um terço da Fazenda pertence juridicamente ao município de Aurora e os outros dois ao de Milagres, deste termo de Jardim, no Estado do Ceará, a distância de Zaíra a Aurora é de 12 Kilômetros. A Estação Ferroviária mais próxima é a de Aurora. O riacho que refrigera a fazenda é o Riacho Seco. Este corre do oeste a leste e faz barra no riacho das Antas, afluente do rio Salgado que deságua no rio Jaguaribe. Em junho de 1903 extraí e levei da cidade do Crato, 1.125 kilos de mineral escolhidos e num forno de manga para tratar ferro pertencente ao ferreiro hoje falecido Antônio Fernandes da Silva. Fundi o aludido material, obtendo 23,3 por cento de matta e 98 por cento. Em outra experiência no crisol, um kilo deu 21,6 por cento. Ou seja, para as duas experiências uma média de 22,45. desta matta moldei umas barrinhas que mandei de amostra a várias casas estrangeiras. O processo que segui foi o seguinte: 1º – Fundição no forno de manga de ferro. Este engasgou. 2º – Extração do cobre encontrado sob forma de pérolas da grossura duma cabeça de alfinete até a dum grão de uva, na ganga engasgada e quebrada a martelo. 3º – Nova fundição no crisol. 4º – Moldagem em lingote de dimensões 18 c x 3 c + 8 multímetros. Uma casa alemã tendo submetido uma dessas barras a ação da martelagem à frio na bigorna, tanto se admirou da perfeita maleabilidade sem quebradura alguma, que duvidou ter sido obtida essa mata em duas fundições únicas. A análise dessa mata deu: Cobre – 98; Ouro – 0,0005; Prata – 0,00175; Ferro e outros componentes – 1,982. A meia da porcentagem de toda a parte da jazida estudada até hoje é 7 por cento. Quando, em 1909, o Engenheiro Dr. Józimo Barroso em Comissão do Governo federal para estudo da estrada de ferro, passou em Milagres, tinha ele na viagem, quebrado uma de suas esporas de prata, tive o prazer de oferecer-lhe, para o seu conserto, um resto de prata que tinha eu obtido nas experiências do mineral da Zaíra. Depois de ter feito a fundição no forno de manga do Crato, parti para a Zaíra a fim de proceder à prospecção necessária da jazida. Dediquei-me exclusivamente e sem auxílio alheio a esse serviço e com o pessoal e material preciso, durante dez meses, de setembro de 1903 ao fim de junho de 1904. Tendo remetido a Paris, mineral e matta, Aí organizei um sindicato de capital inicial de sete milhões de francos. No começo de julho de 1909, o Revmo. Padre Cícero Romão Baptista, então maior possuidor da Zaíra e hoje, único proprietário da fazenda mineira, requereu a demarcação e divisão judicial da Zaíra. No dito mês recebi um telegrama do Engenheiro Francês Frochot, participando-me ter chegado no Recife com uma Comissão a mandado do Syndicato Parisiense. Então o convidei a vir entender-se comigo na Estação ferroviária mais próxima de Aurora".
 
 
 
"Miguel Calmom deixando o resto da Comissão e o material no Recife. Já com a divisão de Zaíra pelo facto, toda a duração de processo a propriedade ficava em litígio entregue à justiça e que por conseguinte, atualmente não se podia nela fazer estudos e pesquisas. Ambos achamos melhor a Comissão voltar á França até a conclusão. Quando meses depois, terminada a demarcação e divisão, julgada e a sentença homologada, por cabograma avisei ao Presidente do Syndicato. No começo de maio de 1910, este enviou de novo a Comissão. O chefe dela ainda foi o mesmo Dr. Frochot e, como sub-chefe, outro Engenheiro o Dr. Dubreton. Era acompanhado de um Chemist, um mestre de fundição e um pessoal prático como todo o material necessário. Acordamos o Dr. Frachot e eu, que nos encontraríamos no porto de Mossoró onde, antecipadamente, foram enviados o pessoal e o material. No dia da minha partida para o ponto combinado, foi-me entregue um telegrama a mim dirigido de Milagres, pelo qual o sub-chefe comunicava-me que o Dr. Frochot vinha de falecer vitima de febre amarela, na casa de Banhos onde, no Recife, se tinham hospedado. Então a comissão, privada do chefe, resolver voltar a Paris. A jazida cuprífera atravessa a Fazenda Zaíra do oeste a leste procurando ligeiramente o Sul. A largura da propriedade é de 7 k 9h e 20 m ou légua e meia de sesmaria. Os minerais encontrados na jazida são hidrocarbonetos, o chakopiryte. Existem vários afloramentos. Para a exploração, dever-se-á empregar o sistema misto, isto é, elaborar na mina mesmo o mineral de baixa porcentagem e simplesmente extrair e exportar diretamente o mineral rico. Deste modo economizar-se-ão onerosos fretes de pesos mortos. Conclusão – As observações obtidas dos estudos e prospectos são bastante animadoras e esperançosas para uma exploração prolongada e lucrativa. Conde Adolpho Van den Brule. Em seguida o lançamento de um documento escrito na língua francesa e a sua respectiva tradução: "Sociedades Francesas, Minas de carvão e meta lherzicas. Sociedade anônima d'exploração das minas de cobre d'Aurora (Brasil), em formação sobre ou conforme as leis francesas. Sede social em Paris, provisoriamente, 69, rua d'amsterdam. A sede social definitiva será designada a Paris pela Assembleia constitutiva. Duração: trinta anos. Capital social: 4 milhões de francos divididos em 8000 ações de 500 francos cada uma, inteiramente liberadas. A sociedade sendo ainda em formação, não teve lugar de estabelecer balanço. A sociedade tem por objetivo fazer valer as minas de cobre, sitas no Brasil, a Aurora (Estado do Ceará) e executar toda transação que possa, em tudo ou em parte, ligar-se-á realização de seu objeto. O Sr. Van den Brule, de Régis, em seu nome e como mandatário do Sr. Adolpho Van den Brule seu irmão, residente em Triumpho (Brasil), conforme uma procuração passada pelo Sr. Carneiro da Cunha, Tabelião no Recife (Brasil), no dia 25 de agosto de 1904, dito Sr. Adolpho Van den Brule, agindo tanto em seu nome pessoal, como sendo mandatário do R. P. Barboza de Menezes, residente em São Pedro (Caririaçu) (Brasil), conforme instrumento particular passado em Aurora (Brasil) no dia 2 de janeiro de 1904, entrega á Sociedade todos os direitos que estes têm sobre um grupo de minas de cobre sitas no Brasil no Estado do Ceará e compreendendo tudo ou parte das minas de São José da Aurora, Escondido, Taveira, Diamante, que são sitas nos municípios de Aurora e Milagres e que ocupam uma superfície total de 1.972 hectares 6 ares e 89 centiares e compreendendo: 1 – 1066 hectares ar. 45 cent. Do dito sítio São José de Aurora, cujos proprietários são o Sr. Adopho Van den Brule e o Rev. Pe. Augusto Barbosa de Menezes; 2 – 906 hec. 1 ar. 44 cent composta do sítio Escondido com 257 hect. 85 ar. 48 cent. Do sítio Taveira com 176 hect. 55 ar., e do sítio Diamante com 471 hect. 60 ar. 96 cent, nos quais o Sr. Adolpho Van den Brule e o Sr. R. P. Barboza de Menezes têm licença perpétua de exploração, contatos, acordos e convênios, especialmente com as autoridades locais, o Sr. Charles Descolles, entrega á Sociedade, os benefícios dos documentos que ele tem recolhido relativos às minas de Aurora, seus conhecimentos especiais em matéria de explorações minerais, como também o valor dos estudos, gastos, e diligências feitas por ele, em vista da constituição e bom funcionamento da Sociedade. Em indenização dessas entregas lhes é atribuído: a) um milhão de francos pagáveis em dinheiro logo a constituição da Sociedade; b) duas mil ações de 500 francos inteiramente liberadas; c) de uma participação de 10 por cento na segunda distribuição dos benefícios líquidos – os administradores terão direito a gratificação de presença, etc. a uma de 10 por cento na segunda distribuição dos benefícios líquidos - Os administradores terão direito a gratificação de presença, etc, a uma de 10 por cento na segunda distribuição dos benefícios líquidos – Assembleias Gerais – As convocações serão dirigidas oito dias antes por um aviso público no jornal de anúncios legais do departamento do Scine aviso resumido indicando a ordem do dia. O quarto do capital não sendo representado, uma nova reunião de Assembleia será convocada do mesmo modo. As assembleias constitutivas, serão convocadas por cartas dirigidas, para a primeira, dois dias antes, para a segunda, cinco dias antes. As assembleias terão lugar na rede social, (em Paris), Charles, Descolle" - Declaração do proprietário Revdo. Pe. Cícero Romão Baptista - "Hoje todas as terras das minas de São José de Aurora são minhas por compras legais, de forma que serão entregues à Sociedade pelo proprietário e pelo Conde Adolpho Van den Brule. O grupo de minas de São José de Aurora, antigamente chamado Riacho Seco, depois Coxá, depois São José de Aurora, desde 1910, foi denominado Zaíra".