Por: João Tavares Calixto Júnior.
O município de Lavras da Mangabeira, centro sul cearense, já conhecido por de tão longe fazer-se presente na configuração sócio-política do Nordeste brasileiro, seja pelo escopo de sua criação, seja pela robustez histórica de seus régulos, apresenta, conquanto, uma gama de narrativas na orbe da história natural.
O município de Lavras da Mangabeira, centro sul cearense, já conhecido por de tão longe fazer-se presente na configuração sócio-política do Nordeste brasileiro, seja pelo escopo de sua criação, seja pela robustez histórica de seus régulos, apresenta, conquanto, uma gama de narrativas na orbe da história natural.
O Naturalista João da Silva Feijó (1800)
A primeira manifestação literária sobre
o lugar, tristonha vilela parva ainda, no entanto, data de 1800. Por volta do
segundo semestre, atravessava, indo à zona do Cariri, a comitiva do governador
da então capitania cearense, Bernardo Manuel de Vasconcelos. Com ele, o
naturalista João da Silva Feijó (1760 - 1824), homem que, através de
decreto da Rainha Dona Maria, assinado pelo regente Dom João de Bragança (01 de
fevereiro de 1799), recebeu patente no posto de sargento-mor das milícias da
capitania do Ceará, sendo incumbido de vários estudos e exploração no campo das
ciências naturais. A comitiva, no lugar Mangabeira, inspeciona as já
antigas lavras de ouro, que demonstraram ser pouco produtivas, adequando-se
porém, ao emprego da faiscação e não por conta da Real Fazenda, obrigando-se
possíveis interessados a pagar o quinto e sendo submetidos ao controle por
denúncias públicas, dada a facilidade de contrabando possibilitada pela
localização das lavras. Os trabalhos eram prejudicados pela escassez de água em
detrimento da seca.
A decadência aurífera que se aferiu no
povoado de São Vicente se deu, muito provavelmente, em conseqüência do mal
aproveitamento, acontecimento idem noutras partes do país, como Minas Gerais.
Sabe-se, contudo, que o ouro brasileiro
é, em sua maior parte, de aluvião, ou seja, depositado, ao longo dos milênios,
nos leitos dos rios e nas margens próximas, pelas águas que atacaram rochas
matrizes. Daí a pequena concentração e o rápido esgotamento das jazidas, a mais
importante causa da decadência da mineração. Raras e pobres, as rochas matrizes
não puderam ser exploradas no século XVII pela simples razão de que eram
deficientes os recursos e os conhecimentos técnicos dos mineradores.
Feijó cita ainda jazidas de ferro e
amianto que os acha excelentes e escreve uma memória sobre as lavras de ouro da
mangabeira, enviada de Fortaleza, em anexo a carta do dia 11 de dezembro de
1800 para Dom Rodrigo de Souza Coutinho, Secretário do Estado dos Negócios da
Marinha e Ultramar. Pode este anexo à carta, resguardadas às devidas proporções
literárias, ser equiparado em importância histórica, à celebre Carta de Pero
Vaz de Caminha que enviada a Portugal, revelava pioneiramente o
"achamento" do Brasil em prosa poética ao Rei. Lavras, era portanto,
não especificamente "achada", mas registrada sob as impressões do
naturalista que redigiu ao seu "El-Rei", fragmentos da conceituação
natural do lugarejo.
Necessário se faz outrossim, salientar
publicação do Barão de Studart de 1912, intitulada: "Memoria sobre as
Antigas Lavras do Oiro da Cappitania do Siará". O próprio vem a achar
que este escrito parece ser o citado pelo Professor Caminhoá (Membro do
Conselho do Imperador Pedro II), possivelmente, o original com outro nome:
"Memória sobre as Minas de Ouro do Ceará." No texto, o médico
e historiador reforça o argumento histórico da implantação da exploração do
ouro: "... são antigas escavações de minas de ouro, que há 40 ou
50 anos se abriram nesta capitania, no Distrito da Vila do Icó, por ordem
ministerial, e que por motivos de fraudes, ou talvez por vaxações, foram
sustadas e proibidas, passando-se poucos anos..." .Cita a localização
das lavras (..."dez léguas ao Sudoeste da Vila do Icó, nuns montes
áridos, à margem esquerda do rio chamado Salgado..."). Relata a existência
de povoação: "... uma pequena Povoação ou Arraial, denominado de
S. Vicente...".
George Gardner (1838)
Grande contribuinte à história natural
brasileira foi George Gardner (1812-1849), naturalista escocês, percorredor de
áreas ainda não exploradas até então por outros europeus, como Spix e Von
Martius. Gardner adentra os sertões da província do Ceará, indo à parte austral
saindo de Aracati, passando por Russas (antes São Bernardo), Icó e Lavras da
Mangabeira (constante de umas 80 a 100 casas na época), antes de chegar ao aprazível Cariri.
Cita em suas obras literárias, deixadas
como prova de suas passagens pela região seca da província cearense, a mudança
da vegetação a partir do Icó, prosseguindo por Lavras, até apartar-se
fisiograficamente na região do Araripe, onde as carnaúbas dariam lugar aos pés
de macaíba. Cita-se frustrado pelo fato de estar seca a vegetação herbácea no
período de sua passagem, embora, somente em Crato, quando passou cerca de cinco
meses, tenha herborizado cerca de 600 plantas. Na região que compreende Icó e
Crato, provavelmente região de Lavras, coleta e descreve uma nova espécie:
Mikania variabilis, uma Asteraceae herbácea, comumente encontrada.
A Comissão Científica de Exploração (1859)
Contudo, se faz de importância suprema,
a consideração do texto de Renato Braga de 1962 sobre a História da Comissão
Científica de Exploração. Nascido no Acre, mas filho de cearense de Acopiara,
Raimundo Renato de Almeida Braga consegue destacar com imensa riqueza de
detalhes, o trabalho da comissão científica designada pelo Imperador Pedro II
em 1856. O autor cita, inclusive, a passagem e a estada da Comissão na Villa de
São Vicente das Lavras da Mangabeira por 12 dias, onde os mesmos elucidaram efantasticamente
o Boqueirão e a gruta pela primeira vez na história.
Jules Jean Revy (1880)
Visitou
Lavras em setembro de 1880 para fazer estudos sobre o melhor local para a
construção de um reservatório de água, sendo fruto desses estudos o trabalho,
que apresentou sob o título: Relatório da Comissão de Açudes sobre o Reservatório de Lavras, apresentado ao Ministro da Agricultura, Manoel Buarque
de Macêdo, 1881.
Vários
planos do ponto por ele proposto foram contrariados pelo Engenheiro P. O’Meara,
com relação, por exemplo, ao local escolhido para represa e a forma que se lhe
devia dar, opinando Revy pela forma circular e O’Meara pela reta através do
rio, ou curva rio acima.
Patrick
O’Meara (1883)
Esteve
em Lavras em setembro de 1893 com o objetivo de realizar estudos sobre a viabilidade
da construção do reservatório do Boqueirão. Segundo ele, cheio o reservatório,
as águas passariam a 3 metros acima da torre da matriz de São Vicente Ferrer, e
ocupariam um espaço superior a 34 km. Como resultado de importantes
investigações acerca das condições ambientais em Lavras, ficou o trabalho:
Irrigation of the Jaguaribe Valley, que inédito permaneceu por muitos anos e
posteriormente, foi vendido por sua viúva ao governo por 2 contos de réis.
continua...
Gostei do texto, parabéns Junior.
ResponderExcluirHistória natural é importante menionar, inclusive seus patrimônios!