sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

"JOSÉ REIS CARVALHO, um artista descoberto 125 anos depois." (*)

Por: João Tavares Calixto Júnior



     Procurando documentos e objetos de sua família na antiga "casa-grande" da Fazenda Catingueira, no sertão cearense, o artista plástico Bruno Pedrosa encontrou por acaso dentro de velho baú, uma coleção de 55 aquarelas do pintor e desenhista José Reis de Carvalho. Documentário de costumes, tipos, paisagens, vilas e cidades do interior cearense. Todos realizados entre 1859 e 1861. Reis Carvalho faz parte da turma fundadora da aula de pintura intalada por J. B. Debret em 1826, na Academia Imperial de Belas Artes. E foi membro da famosa "Comissão Científica de Exploração", que em 1859 empreendeu viagem de estudos pela província do Ceará.

Onde estavam os desenhos

     A família Pinheiro Pedrosa, descendentes do "velho" André Pinheiro, está estabelecida às margens do Riacho do Machado, Município de Lavras da Mangabeira, Ceará, desde sua exploração e colonização. Historicamente foram com os Pinheiros do Riacho do Sangue e os do Cariri, um clã de vaqueiros e pastores das cabeceiras do Jaguaribe. Desde sempre ocuparam e se desenvolveram à margem do Machado. Unidos e casando entre si por gerações e gerações. Constituíram o que se chamaria uma parentela dominante e prevalecente nos seus campos de criação. A "casa-grande" do "velho" André na Catingueira, ainda nos dias atuais, é um marco desta união. Seus "giraus" e "camarinhos" guardam na penumbra, histórias e mistérios daquele clã sertanejo.
     Sem a opulência de outros tempos, o avarandado solar de pau-a-pique, em quase ruínas, encerra consigo tesouros de história e arte. Avaramente guardados por um solitário ancião de quase cem anos. Manoel André Pinheiro, tio-avô de Bruno.

A Descoberta

     Faz alguns anos, remexendo, contragosto deste tio velho que os guarda a sete chaves, alguns baús escondidos num daqueles "quarto-escuro", encontrou ele, entre documentos vários, escrituras, testamentos, correspondências e mais papéis do século XVIII, um pacote enrolado em panos e colado em folhas como se fosse um álbum. Belíssimas aquarelas, pequenas e preciosas, que faziam lembrar em muito os desenhos de Debret. Algumas estavam assinadas com o nome completo: JOSÉ REIS DE CARVALHO, outras, com as iniciais RC e muitas só com a data ou anotações referentes ao desenho. Todas, porém, formando um conjunto. Não deu maior importância ao achado. Nunca tinha escutado falar nesse artista. Mesmo assim guardou os trabalhos consigo. Seu interesse naquele momento estava voltado para os documentos, e principalmente algumas imagens, jogadas e cobertas de poeira.
     Passados alguns anos, já então aluno da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, encontrou Bruno Pedrosa, no fichário da biblioteca, a catalogação de uns "álbuns de desenhos do Ceará do artista José Reis Carvalho". A curiosidade, por se tratar do Ceará, o levou a requisitar tais álbuns. Aí se surpreendeu. Ligou estes àqueles desenhos encontrados anos antes. Nada mais eram, os estudos que agora via, que a continuação daquela séria da Catingueira. Daí para frente foi relativamente fácil. Começou a pesquisar e foi ligando pouco a pouco os fatos.

A Comissão Científica de Exploração

     Reis Carvalho foi membro da famosa "Comissão Científica". Esta expedição ou "Comissão", como chamam alguns, tinha por objetivo a exploração de supostas riquezas minerais existentes no Ceará. Suposições fundamentadas em material geológico recolhido ao Museu Nacional, e na tradição oral dos habitantes locais. Alimentados por um manuscrito quimérico, a "Lamentação Brasílica", engendrado pelo cérebro delirante do Padre Francisco Teles de Menezes. Era um sonho que opulentava os sertões de jazidas inesgotáveis. Semeando tesouros escondidos por toda parte. Estratificando na imaginação popular a crença de uma riqueza ilusória ainda persistente nos dias atuais.
     Tal empresa chegou ao Ceará em fevereiro de 1859 e durante dois anos e meio cruzou em todas as direções os sertões cearenses. Recolhendo material botânico, mineralógico, zoológico, iconográfico, bibliográfico, etc.


Vila de São Vicente das Lavras 
Vista Panorâmica do Crato. 1865
São Benedito na Venda Grande. Distante de Lavras 5 léguas. É Povoação.
Igreja de Nossa Senhora do Ó - Cascavel, CE

Contatos com a família Pinheiro

     Passando por Lavras da Mangabeira, os membros das seções de botânica e zoologia, das quais fazia parte José Reis Carvalho, demoraram-se doze dias. Foi provavelmente neste período a aproximação ente o artista e a família Pinheiro. No Riacho do Machado, florescente campo de criação por todo o século XIX e princípios do XX, encontrou o pintor farto material para suas pesquisas. E daí, certamente, uma amizade recíproca e verdadeira deve ter surgido. Motivo para tão bem guardados ficarem naquela família esta fabulosa coleção de trabalhos encontrados.
     Não conseguiu Bruno descobrir quem poderia ter guardado tais aquarelas. Se o fez por acaso ou outra razão maior. As histórias da família sempre passaram através das gerações, oralmente e, naturalmente o que interessava. Não há qualquer notícia sobre estes trabalhos. Assim como sobre outras obras de arte recolhidas por ele, entre seus parentes. E que hoje formam sua coleção, onde a arte brasileira está representada desde princípios do século XVIII até finais do século XIX. No máximo se dizia, ter sido do "avô", do "bisavô", e era só.
     O curioso é que não existe, pelo menos de conhecimento público, outra fonte de trabalhos de Reis Carvalho no Ceará, a não ser, as três aquarelas existentes no Museu Histórico do Crato, feitas por doação do próprio Bruno Pedrosa. E além destes, só são conhecidos da sua permanência neste estado, os que estão no Museu Histórico Nacional e os já referidos na Biblioteca da Escola de Belas Artes, incorporados ao Museu D. João VI. É quase inacreditável que só tenha produzido isto em quase três anos de trabalho. Como difícil é, de se conceber, ter tudo se extraviado sem nenhuma referência sobre o fato. É provável que, divulgada a notícia, venha surgir mais fontes do seu trabalho.

Quem foi Reis Carvalho

     No entender de vários  críticos de arte, foi Reis Carvalho um Debret brasileiro, nordestino. Nos sertões isolados e distantes de tudo, documentou para a posteridade, a vida, os costumes, as pessoas, a arquitetura, vilas e cidades por onde passou. Ao lado de Rugendas, Debret, Ender e outros dos inumeráveis viajantes estrangeiros que no século XIX se deixaram fascinar pelas terras do Brasil, ocupa Reis Carvalho um lugar de destaque. Principalmente porque deixou uma memória visual única de uma das mais isoladas províncias brasileiras até quase os dias atuais. Antes dele, só existem notícias de outro pesquisador que tenha explorado aqueles sertões, Gardner, em 1834. Mesmo assim registrou apenas em diário, não documentando visualmente os costumes e lugares onde passou.
     A riqueza de detalhes nos trabalhos de Reis Carvalho, o torna por vezes, superior a Debret. A precisão científica no registro botânico o coloca acima tecnicamente, de qualquer outro brasileiro de sua época.


     Ainda estudante, como aluno da turma fundadora da aula de pintura na Imperial Academia de Belas Artes, na exposição Inaugural de 1826, foi elogiado pelo mestre J. B. Debret. Registro feito no livro "Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil". Na academia foi contemporâneo de José de Cristo Moreira, Francisco Pedro do Amaral, Manoel de Araújo Porto Alegre, Francisco de Souza Lobo e Affonso Falcoz. Participou com assiduidade do Salão Oficial de Pintura, e em 1836 já havia conquistado a Grande Medalha de Ouro.

Onde nasceu

     Segundo alguns autores, teria nascido Reis Carvalho no Ceará. Não existe porém nenhuma notícia do local e ano. Assim como permanece, pelo menos até o presente, ignorado o lugar e data de sua morte.
     Para os historiadores das artes no Brasil permanece uma icógnita a vida deste artista. Nenhum, desde Laudelino Freira até os pesquisadores atuais, conseguiu maiores dados sobre sua vida e obra. 
     Em publicações na Revista "O Cruzeiro", duas vezes Gustavo Barroso escreveu sobre o trabalho de Reis Carvalho. A primeira sobre "A Arquitetura dos Sertões", e a segunda, intitulada, "O Naufrágio da Comissão das Borboletas". Desconhecia, como todos os outros, maiores dados sobre a vida e obra do artista.
     Mais recentemente, discorre sobre o célebre pintor o Historiador paulista Heitor de Assis Júnior, em defesa de Tese de Doutorado, no Instituto de Geociências da Universidade de Campinas, sob o título: A Iconografia de José dos Reis Carvalho durante a Comissão Científica de Exploração, feita a defesa em 22 de julho de 2011.




(*) Texto adaptado de Bruno Pedrosa in: REVISTA ITAYTERA, Crato (nº 29, p. 201-205, 1985)
     


sábado, 15 de dezembro de 2012

Venda Grande d'Aurora. Por: Emerson Monteiro


Sob esse título, João Tavares Calixto Junior reúne em livro dos mais significativos o propósito de enfocar o município cearense de Aurora, encravado no Vale do Cariri. Obra para consulta e aprofundamento da sua história, seus costumes, etnologia, personalidades e perspectivas, eis uma edição de 300 páginas a ser lançada no próximo dia 22 de dezembro de 2012 (sábado), às 19h, no Arco Íris Magia, situado na Vila Paulo Gonçalves, daquele município.

Ganha nisto o mundo literário caririense, com produção de fôlego e estruturada nos valores da historiografia científica, totalizando trabalho que enriquecerá as letras interioranas, conduzido no nível da formação acadêmica do autor, professor aurorense vinculado profissionalmente à Secretaria de Saúde do Ceará, área da graduação do escritor.

O empenho dos autores resulta bem sucedido ao vir a lume. Nisso, horas de produção chegam a público e preenche buscas talvez improdutivas se levadas através das fontes insuficientes. Os escritores pesquisadores oferecem, destarte, meios necessários aos leitores para atender ao conteúdo e à forma. João Calixto propicia, no que tangem suas origens, a feliz concretização da presente obra, vinda a leitura e sabedoria o privilégio de poucos, de um jovem de texto acessível e pródigo.

Sou entusiasta das produções cultas do Sertão, responsáveis pela civilização do lado silencioso desta Nação. Desde as primeiras presenças humanas, esse grau de maturação cultural reserva surpresas tais esta que ora comentamos nesse momento das letras caririenses.

Qual resposta ao que andava em aberto naquilo de ler o que conta a gente, Venda Grande D’Aurora vem referenciando conteúdos úteis ao povo do lugar e ao dos demais lugares, que propõe palmilhar os territórios da Fazenda Logradouro e chegar aos páramos interpretativos logo em breve nas nossas mãos.

De novo de parabéns o universo intelectual do Sul do Ceará com este próximo lançamento.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

LAVRAS: UMA SINGELA PROPOSTA À EDUCAÇÃO

    
   Já há algum tempo em que o povo da velha Rainha do Salgado, a terra do São Vicente Ferreira, do sítio Mangabeira, não vê, com entusiasmo, algo que lhes anime, no tocante á melhoria da educação de seu povo. Poderia ter visto, se o atual Colégio Agrícola, praticamente em desuso, tivesse realmente aberto as suas portas com um intuito de objetividade. A malsinada terra dos Augustos, não precisa, evidentemente, de mais uma escola de ensino médio! Poderiam ter tido ainda, motivo de orgulhamento, se houvesse implantado no decorrer dos últimos oito anos, uma política voltada à educação; com investimentos em setores primordiais, e outras séries de eventos básicos não ocorridos. Pois bem, diante da situação em que anda o município, detentor de índices baixos de desempenho educacional, venho preocupar-me, porém, em sugerir algo de utilidade aos lavrenses, principalmente aos que enxergam educação como a base elementar da pirâmide social.
     Dói-me ver, rotineiramente, mototaxistas com três ou até quatro crianças na garoupa, pela manhã, na perigosa rodovia que corta a cidade. As duas escolas municipais existentes, convenhamos, são mal localizadas. Os pais de famílias se preocupam com seus filhos submetidos à longa distância para irem à Escola... Pois bem, e por que não, uma escola de ensino fundamental no centro da cidade? E por que não, uma escola de ensino fundamental no centro da cidade, e mais precisamente no prédio do mercado novo? E por que não uma escola de ensino fundamental no centro da cidade, mais precisamente no prédio do mercado novo, e com o nome de EEIF JOARYVAR MACÊDO? Desafogaria as Escolas Stela Sampaio e Virgílio de Aguiar Gurgel, traria mais segurança às crianças da parte central de cidade, tendo desta forma, um número menor de alunos nas duas escolas, propiciando melhor aprendizado. E quanto aos comerciantes do mercado novo? Iriam para o mercado velho!!! É algo evidente! Isso seria uma realização para eles, que clamam por isso há muito tempo. A priori, seria feita uma revitalização do mercado velho, com uma melhora estrutural significativa, obedecendo a todos os padrões sanitários, garantindo qualidade pra quem vende e pra quem compra. E o povo de Lavras, sairia ganhando... Com uma escola que realmente iria funcionar, um mercado que eficientemente iria ter vida, e um nome que, com muitíssima justiça,  iria ser homenageado, face à grandiosa contribuição dada à sua terra berço, a sua e nossa SÃO VICENTE DAS LAVRAS,  a terra d'OS AUGUSTOS, outrora, o IMPÉRIO DO BACAMARTE.


João Tavares Calixto Júnior         

domingo, 30 de setembro de 2012

VENDA GRANDE D'AURORA

Por: Dimas Macêdo




           Nenhuma das globalizações levadas a efeito pelo historicismo conseguiu eliminar da vida social aquilo que lhe é intrínseco: a afirmação das sociedades regionais e o desenvolvimento das instituições municipais. A globalização corresponde a um modelo de organização material, mas é incapaz de deter o curso da vida e a expansão criativa daqueles que se associam em nome de uma nova conquista social.
             Na região centro sul do Ceará, entre meados do século dezoito e final do século dezenove, firmou-se uma de nossas melhores civilizações, cuja capital localizou-se na velha Princesa do Salgado, a malsinada terra dos Augustos e do oráculo de São Vicente Ferrer.
              Ao seu redor, várias comunidades foram surgindo e se afirmando a partir de capelas e oratórios, construídos por núcleos civilizatórios de caráter parental, com o fim de preservar a religião católica romana e expandir o poder político do Império.
             A Povoação da Venda, hoje município de Aurora, é um desses núcleos civilizatórios a que me refiro. Liga-se à cidade de Lavras da Mangabeira pelo duto cavado pelo Rio Salgado e é recortada por vales e baixios que fariam a glória de qualquer comuna cearense.
            Surgiu do oratório ali levantado pelo Padre Antônio Leite de Oliveira, que em torno de si, a um só tempo, reunia as condições de pastor, proprietário, criador e reprodutor da gênese humana, que se foi expandindo para toda a região do Cariri.
           Vários acontecimentos históricos fizeram de Aurora uma comuna bastante conhecida em todo o Ceará. Cito o rumoroso caso das Minas do Coxá e as agitações que cominaram com a Questão de Oito, especialmente porque esses episódios foram escritos com sangue e com o tecido de diversos conflitos que se tornaram traços da história de toda a região.
             Aurora também se destaca por ser Pátria de Aldemir Martins e Hermenegildo de Sá Cavalcante e por ser a Terra Natal de Paulo Quezado e Lúcio Brasileiro, e por estar vinculada à história de Marica Macedo do Tipy, a brava cearense que enfrentou a polícia de Nogueira Accioly e se fez respeitada para além da sua região.
            Os historiadores do Sul do Ceará sempre se referiram a Aurora com entusiasmo, alguns condenando o seu banditismo, outros louvando a sua tradição ou exaltando a sua história gravada com fogo e heroísmo, outros ainda destacando a sua vocação econômica e social; mas nenhum deles pensou em Aurora como personagem principal ou como boca de cena de uma grande narrativa.
              O território de Aurora, enquanto objeto de pesquisa, agora está minado, e já não tem como ser diferente, pois o Professor João Tavares Calixto Júnior assumiu a condição de arauto da história de Aurora, a condição de seu pesquisador, privilegiando o seu burgo e a sua gente com a abertura de uma grande janela, voltada para a memória e para o registro de caráter cultural.
            Um método escolheu o autor para o registro da sua narrativa: a cronologia dos acontecimentos, com destaque para a louvação do calendário histórico e para a verificação apodítica, fazendo da história de Aurora uma ciência de grande interesse acadêmico, porque permeada pelos fatos e comprovada pelo rigor da pesquisa.
             Venda Grande d’Aurora (Fortaleza, Expressão Gráfica, 2012) é um livro que já nasce aberto para a louvação, pois foi escrito a partir de uma linguagem vigorosa, e com a paixão e o denodo dos que querem tomar a história em suas mãos, fazendo do sentido da vida a sua experiência.
            Trata-se, no caso do autor deste livro, de um historiador que sabe respeitar as suas linhas de pesquisas, que tem a história do Cariri gravada no seu sangue e o orbe do Salgado insculpido na sua consciência.
             Não me compete neste texto fazer a apresentação do autor nem resumir para o leitor a vertente dos acontecimentos. Cumpre-me, isto sim, falar da importância deste livro, da sua precisão histórica e da sua utilidade para os aurorenses e para os historiadores de todo o Ceará.
              Honrou-me o autor com o convite para escrever o prefácio deste livro, mas o que ele fez, em essência, foi homenagear a sua terra e distinguir a sua gente qual a espécime da raça cearense que ainda faz o Ceará renascer, pela tradição do seu povo e pelas lições de vida e de história que deu ao Nordeste do Brasil.
     

                                                        Fortaleza, 11 de agosto de 2012

sábado, 2 de junho de 2012

A Política e Sua Perversão





Por: Dimas Macêdo (Mestre em Direito, Professor da UFC, Membro da Academia Cearense de Letras - Cadeira nº 11 cujo o Patrono é o  historiador Barão de Studart)            

          A política, que é a latitude máxima da ação humana, em busca de um fim social, e de uma práxis civil e emancipadora, corre em todas as sociedades qual rastilho de pólvora. Não há como deter a sua força, a sua energia dadivosa, o seu poder absoluto de envolvimento e de transformação.
       Não podemos pensar em qualquer forma de sociedade sem que nela não esteja presente o exercício da política. A política é o que é, existe porque tem que existir. É a espinha dorsal e a coluna vertebral do Estado, do município, do poder político de uma forma geral.
          Claro que a política não se submete aos limites da ética, porque a conquista do poder e a sua manutenção constituem, com certeza, um campo de guerra e não tem como ser diferente. Mas é claro que ela pode ser limitada pelas regras do Direito e pelas aspirações de Segurança que rondam o habitat da vida social.
           Em face das conquistas da técnica e da clarificação das consciências, penso que, nos dias de hoje, a política poderia ser um pouco diferente. Deveria estar prioritariamente voltada para o homem, para as suas necessidades e para a superação das misérias sociais, que desafiam a paz e a busca dos Direitos Humanos.
      A política, infelizmente, virou uma grande equação capitalista: transformou-se em patrimônio material de uns e em forma de extorsão com que outros se mantêm no poder, roubando os cofres da Administração, assaltando a partilha do orçamento, transformando tudo em uma mesa de jogo da corrupção e do desvio de recursos.
       Após os avanços da globalização econômica, especialmente a partir da década de 1990, o capitalismo e os seus valores de ordem financeira foram assaltando, gradativamente, a máquina do Estado.
       O mercado substituiu a política e os intelectuais foram expulsos do espaço público, porque a equação capitalista não precisa de ideias, mas de pessoas dóceis à sua sedução material.
         O capitalismo, como sabemos, abomina qualquer discussão de ideias que não seja em proveito da sua utilidade, e que não seja a favor dos monopólios de todos os setores da vida; e a ideologia de ordem econômica e monetária passou a ser, ao que parece, a religião oficial do planeta.
         A cultura, a arte e a educação, que são bases primordiais do humanismo, vêm sendo ultrapassadas, de último, pelos valores da tecnologia; a preparação técnica das pessoas assumiu o lugar da sua formação, do seu aprendizado sistemático e da sua capacidade de interação com os seus semelhantes; e a defesa da Ética e dos Direitos Humanos igualmente vem perdendo o seu lugar nessa nova forma de sociedade, calculadamente fria e esquisita.
           Grande parte das pessoas, hoje, sucumbiu à sedução do consumo, e trocou sua alma pela exibição do seu ego. Muitos não estão nos espaços midiáticos da web porque fizeram alguma coisa de proveito no mundo, mas porque desejam promover as suas fantasias.
           Assusta observar, por outro lado, que o homem perdeu a sua condição de reagir, de se indignar, de denunciar os desmandos da classe política, e de ocupar as ruas e as praças para reivindicar os seus direitos.
            Os que se julgam acima do bem e da verdade, decretaram a morte dos princípios, como se fosse possível convencer os semelhantes com o barulho de suas teses enfadonhas.
            A completa conivência de muitos chefes de Estado, e assim também do último governo do Brasil, para com a mentira e a falsificação da verdade, e para com aqueles que já estão cansados de mandar, tais os exemplos de Fernando Color, Renan Calheiros e José Sarney, são situações que estão, por outro lado, a desafiar a paciência das pessoas.
           No caso específico do Brasil, a busca da justiça social e o resgate da política enquanto vocação parece que não são, decididamente, valores que agradam aos integrantes da classe dirigente.
           E o povo, sempre alimentado de muitas ilusões, se acostumou demais com a mentira e com as esmolas que lhe são destinadas pelas autoridades que estão de plantão, e não desconfia sequer das intenções dos que estão no centro do poder.
 Parece ser mesmo doloroso, para os homens de boa vontade, e para os que lutam pela ética e a dignidade, assistir a ascensão de pessoas despreparadas e gananciosas para a representação parlamentar, e para os postos de comando da máquina do Estado.
           A política não constitui um fim, e o exercício da política, como sabemos, é uma vocação. Não é um patrimônio que se transmite por herança para os apaniguados do poder. A política é uma missão e exige de quem a ela se entrega um compromisso integral e efetivo para com as exigências da vida coletiva.
            No Brasil, infelizmente, a maioria dos políticos ainda não despertou para a grave questão do ambiente e o povo ainda não se sente motivado para os desafios da educação ambiental, o que é lamentável, e a consequência de tudo será a transmissão, para as gerações futuras, dessa conduta irresponsável.
Essa perversão em que a hegemonia da política foi transformada, é a causa da violência social e da violência simbólica que nos cercam; é a causa da proliferação das drogas e das deformações que atacam as novas gerações, e entorpecem a mente dos que gravitam ao redor da máquina do poder.
 Parece mesmo que existe uma desordem no cosmos, causada pela perversão em que se transformou a política, pois a sinfonia planetária, que há séculos encantava a audiência humana, hoje se encontra ameaçada. Empresários inescrupulosos e políticos de visão mesquinha têm feito da ganância e da especulação instrumentos de violação da paz e do equilíbrio da vida em sociedade.
    O meio ambiente vem perdendo a sua qualidade. Agredido pela insensatez e a irresponsabilidade de muitos, agoniza qual um animal sangrado, e pede clemência para a tragédia da degradação ambiental e cosmológica.
            Depois que o homem decretou a morte de Deus e do sagrado, parece mesmo que tudo se tornou possível, cumprindo-se assim a profecia do grande romancista russo Fiódor Dostoiévski.
           A degradação ambiental, que hoje se espalha pelo mundo, tem recebido respostas muito convincentes da própria natureza, que aqui e ali vai se defendendo como pode, através de vulcões e terremotos, degelo das calotas polares, tsunamis marinhos e aquecimento de todas as regiões do planeta.
        O ser humano, contudo, não recua e a sociedade de consumo vai achando normal a circunstância de conviver com o lixo e com as embalagens nunca recicláveis das mercadoras que consome, rejeitando o ciclo natural do ambiente à sua volta e  substituindo-o pelo consumo de mercadorias e serviços provenientes da indústria do tóxico.
          O homem que consome, de forma obsessiva, o ópio do mercado, e que sonha com o desejo do lucro, e que apoia, a seu turno, a poluição da natureza, parece mesmo que decidiu morrer abraçado com a sua imperfeição e com a sua teimosia de viés egoísta. Parece que decidiu sufocar a natureza, almejando assim o seu poder absoluto sobre o cosmos.
            É possível que a voz dos ambientalistas, e daqueles que defendem a natureza, continue clamando no deserto, mas aceitar as coisas de forma diferente, e não reagir contra o agravamento da crise ambiental, me parece o jeito mesquinho de estar no mundo e de aceitar a sua total degradação.
            Assim sendo, urge que as pessoas de boa vontade continuem resistindo ao avanço do mal e ao poder de degradação do universo, resultado da teimosia dos que não acreditam no amor e na compreensão, que maltratam a sensibilidade e tudo corrompem em nome dos bens materiais e dos interesses políticos inconfessos.
          Para além de tudo, no entanto, está a esperança, a dignidade dos que sonham com a vida, que replantam a semente do bem e a partilha da Paz e da Justiça, porque os frutos perenes do amor, a defesa da ética e o denodo dos que lutam pelas formas de afirmação do bem e da verdade são as nossas crenças e os nossos valores de maior valia.


                                                                                                             Fortaleza, inverno de 2012                                                

Rápidas pinceladas sobre alguns personagens e mazelas da Povoação da Venda: A questão da seca de 1877 e a decadência da escravatura.


      

        Registrou-se no ano de 1877 uma das maiores secas enfrentadas pelas populações do semiárido brasileiro da história. Maciça foi a migração dos campos para as cidades, assim como a mortandade que se generalizou sobremodo à falta de alimentos na zona rural.
Na Venda, antiga povoação elevada à Distrito da Vila de Lavras em 1870, assim como nos sítios que hoje formam o território atual do município de Aurora, vários foram os vitimados pela fome em decorrência da seca, algoz e persistente. Esclareçamos:
“Aos vinte de novembro de mil oitocentos e setenta e sete, faleceu de fome o adulto Joaquim Gomes, pardo, de idade de doze anos, foi envolto em branco e sepultado no campo (Calumby), sendo depois encomendado por mim. E para constar fiz este e assignei. O Vigário Meceno Clodoaldo Linhares” (Livro de Registro de Óbitos da Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras, 1877-1885, p.5).
Aos vinte e nove de novembro de mil oitocentos e setenta e sete, faleceu de fome a párvula Úrsula, de idade de quatro anos, filha legítima de Antônio dos Santos e Rita Maria de Jesus, foi envolta em branco e sepultada no Cemitério da Venda, sendo depois encomendada por mim, etc (...)” (Livro de Registro de Óbitos da Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras, 1877-1885, p.5).
Aos seis de dezembro de mil oitocentos e setenta e sete, faleceu de fome o párvulo José, de idade de dois anos, filho legítimo de Vicente Monteiro e Maria Joaquina, foi envolto em branco e sepultado no Cemitério da Venda, sendo depois encomendada por mim, etc (...)” (Livro de Registro de Óbitos da Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras, 1877-1885, p.6).
Assim como estes, concernentes à Venda e adjacências, observam-se vários outros registros de falecimentos ocorridos nesta fase, em virtude da seca.  Párvulos padeceram, assim como adultos e idosos, todos, impiedosamente.

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        Precisamente no dia 4 de abril do ano de 1880, realizaram-se na Capela do Menino Deus na Venda, 12 (doze) batizados pelas mãos do Padre João Carlos Augusto, e dentre estes, um de filho de escravos: Era Vicente, preto, filho natural de Carlota do Amor Divino, nascido aos vinte de março do dito ano, que teve como padrinhos a Deodato Lopes de Oliveira e Balbina Maria da Conceição. Assina Meceno Clodoaldo Linhares (Livro de Batismos da Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras, 1877-1882, p.101).
       Curiosamente, ressaltamos aqui ter sido este um dos últimos lançamentos relativos a escravos nos livros eclesiásticos da Paróquia de Lavras, concernente aos residentes na Venda ou sítios que compunham o atual território de Aurora. Apesar de a abolição da escravatura ter sido oficializada em 1888, diminuíram-se a partir deste ano as referências a escravos, muito comumente citados nos ditos livros de registros. Exemplifiquemos:
     “Aos vinte e um de novembro de mil oitocentos e setenta e três, na Capela da Venda, feitas as diligências necessárias, confessados e crismados na doutrina cristã, sem comprometimento algum, de licença minha, em presença do Pe. Joaquim Machado da Silva e dos testemunhos Antônio da Silva Martinho e Pedro Carneiro de Oliveira, se (ilegível) em matrimônio os nubentes Vicente Ferreira, escravo de Bárbara Maria, com Raymuda Izabel, viúva por falecimento de Antônio Apolinário de Souza. São naturais e moradores, ele no Barreiro, desta Freguesia e ela, na (ilegível), da mesma Freguesia de Lavras, etc... Pe. Vicente Férrer de Pontes Pereira”. (Livro de Registro de Matrimônios da Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras, 1870-1875, p.141).
“Aos doze de março do ano de mil oitocentos e sessenta e seis foi sepultado no cemitério da Capela da Venda o adulto Antônio Jacintho, casado com Maria, escrava de Manoel Joaquim Carneiro, morador no Barro Vermelho, faleceu de morte natural aos trinta anos de idade do dito mês e ano. E para constar mandei lavrar o termo que assinei. Pe. Antônio Pereira de Oliveira Alencar”. (Livro de Registro de Óbitos, Paróquia de São Vicente de Lavras, 1865-1871, p.40).
  Como estes, diversos outros assentos foram observados, inclusive, de escravos pertencentes ao citado cidadão Manoel Joaquim Carneiro, que como se verá em momento oportuno, foi o primeiro Presidente da Câmara Municipal da Vila d’Aurora, à época, a principal autoridade administrativa do município.
Era o referido Manoel Joaquim Carneiro, que exercera ainda o cargo de subdelegado de polícia na Venda (Tenente), casado com Maria de Jesus Tavares (irmã de Maria de São José Tavares, Alexandre Luiz Tavares e do Padre José Luiz Tavares), e conforme se observa no Livro de Registro de Matrimônios da Paróquia de São Vicente Ferrer de Lavras (1870-1875, p. 185), assistiu ao casamento realizado pelo Pe. Francisco Tavares Arco-Verde, de sua filha Joana Maria de Jesus, aos 3 de junho de 1875, em sua residência no sítio Barro Vermelho, com Valdevino Leite Teixeira, viúvo este, de Ana Rosa Leite. Da mesma forma, aos 17 de novembro de 1886, viu seu filho José Joaquim Carneiro contrair núpcias com Maria Joaquina da Conceição, filha de José Antônio Carneiro e Maria Joaquina da Conceição (Livro de Registro de Matrimônios da Paróquia de São Vicente de Lavras, 1884-1891, p. 37).     
Outras considerações a despeito de Manoel Joaquim Carneiro, notável figura da historiografia aurorense, sobretudo política, serão anotadas  em textos que se seguirão.



Trechos extraídos de obra em elaboração.


domingo, 6 de maio de 2012

AS MÃES DO MONSENHOR


Luiz Domingos de Luna*

Aurora porta no seu seio protetor, na amamentação diária, na maternidade responsável, a candura de uma mãe dedicada ao seu primeiro filho da Rede Pública Estadual de Ensino no cariri cearense ,o educandário Escola Monsenhor Vicente Bezerra, {15 de março 1927}, o zelo, a predisposição, o planejamento prévio, a aglutinação do pensar feminino, já impresso e timbrado no DNA de preservação da espécie, característica básica da mulher, faz do querido Bairro do Araçá o berço esplêndido para o acolhimento primeiro, deste filho no cariri.

A Luz da racionalidade, da razão pura, sendo entregue este projeto aos racionalistas, com certeza, este filho ilustre de Aurora teria sido abortado, pois o espaço geográfico e a paisagem social não tinham o ouro nem a prata para oferecer ao recém nascido, Muitos gritavam que o Educandário iria ser um uma criança raquítica, frágil, doente e que seria melhor levar a criança para um centro mais desenvolvido. 

Foi uma verdadeira guerra entre a Razão pura, cristalina e a emoção do universo feminino das queridas mães do bairro Araçá e por extensão as mães de Aurora como um todo.

A refrega continuou, até quando os racionalistas cansados de ouvir tanta cantilena emotiva por parte das mães aurorenses, desabafaram em alto e bom tom: - Esta criança deveria ser abortada, mas dada a teimosia de vocês não mais que 05 anos ela será vitimada pela desnutrição o morrerá a míngua, isto servirá de lição para todas vocês em tentar lutar por uma vida que nós sabemos que é uma sobrevida para a morte.

Foi feita uma corrente forte e coesa das mães de Aurora para amamentar a criança, as pioneiras foram às mães do bairro Araçá, que mobilizaram toda zona rural, num verdadeiro arrastão digno do heroísmo e a bravura da mulher aurorense.

Assim, com o leite doado pelas heroínas do universo feminino de Aurora, o rebento – Educandário Monsenhor Vicente Bezerra foi criado e alimentado, nutrido e amado pelas mãos carinhosas das mães do querido bairro do Araçá.

A Criança hoje tem 85 anos, mas continua sob o manto protetor do universo feminino, uma luz a brilhar no horizonte da educação no cariri cearense, não por acaso, o dia das mães comemoração da luta incansável destas heroínas – o pátio interno da Escola Monsenhor Vicente Bezerra sempre foi, é, e será a maior concentração de mulheres aurorenses neste dia que representa a vitoria de todas as mulheres de Aurora.

(*) Professor da Escola e Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra- Aurora –CE. CEP: 63.360.000. TEL: (88) 35433903. Email do autor: falcaodouradoarte@gmail.com


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Acerca do Monsenhor Meceno

Por: João Tavares Calixto Júnior.

Monsenhor Meceno Clodoaldo Linhares


Nasceu Meceno Clodoaldo Linhares no município cearense de Icó, aos 7 de setembro de 1838, filho do Capitão Francisco Gonçalves Linhares e Josefa Teresa de Jesus Linhares.
Realizou os primeiros estudos na cidade de Milagres de onde saiu para o célebre Colégio do Padre Rolim em Cajazeiras, Paraiba, a fim de aprender os preparatórios. Em 1856 partiu para o Seminário de Olinda, onde realizou todos os exames necessários, e todo curso teológico, sempre com aprovações plenas. Em 1860 recebeu ordens desde a Tonsura até o Diaconato, que lhe foram conferidas pelo Bispo Dom João da Purificação Marques Perdigão. Tendo Dom Luiz Antonio dos Santos tomado posse do Bispado do Ceará, veio receber em Fortaleza o Presbiterado, em 1º de dezembro de 1861 juntamente a Manoel Francisco da Frota, de Sobral e Manoel Rodrigues Lima, de Missão Velha, tendo sido, portanto, o primeiro padre ordenado no Bispado do Ceará, pelo que D. Luiz (1º Bispo do Ceará) o intitulava “meu primogênito”.
Celebrou a primeira Missa na cidade de Milagres aos 21 de dezembro de 1861.
Tendo falecido de cólera-morbus o Vigário de São João dos Inhamuns, foi nomeado para substituí-lo. Partiu imediatamente, tomando posse da Freguesia no mês de junho de 1862, onde paroquiou até o fim de 1874.
Falecendo seu pai na cidade do Crato, para estar mais perto da família, conseguiu do Bispo Diocesano que, de acordo, houvesse permutas dos Vigários de Lavras, Várzea Alegre e S. João dos Inhamuns, ficando ele paroquiando na então vila de São Vicente Ferrer das Lavras da Mangabeira.
Tomou posse da Freguesia de São Vicente Ferrer de Lavras aos 24 de janeiro de 1875 (permanecendo até o falecimento).
Foi deputado provincial por quatro biênios. Em 1893 foi autorizado pelo Bispo Diocesano a administrar o Sacramento da Confirmação aos fieis de sua Freguesia e aos das Freguesias de Várzea Alegre, Aurora e Umari. Foi um dos Examinadores Sinodais do Bispado. (Dicionário Bio-bibliográfico Cearense).
Embora natural de Icó, viveu grande parte de sua vida em Lavras da Mangabeira, onde deixou imperecível memória. Foi o vigário que por mais tempo se demorou na Paróquia, dela cuidando com dedicação e zelo inexcedíveis.
Homem de saber e altas virtudes sacerdotais, Mons. Meceno foi nomeado Camareiro Secreto do Papa Pio X aos 11 de junho de 1909, título confirmado aos 28 de maio de 1915 pelo Papa Bento XV. (Joaryvar Macêdo – São Vicente das Lavras, Fortaleza, 1984)
Seu trespasse ocoreeu aos 2 de janeiro de 1924, jazendo os restos mortais na Capela do Cemitério Público de Lavras da Mangabeira.



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Rio Solidário (Na barragem do Salgado)



Joaryvar Macêdo (O "Mito" da Estirpe da Santa Teresa)


Fui à barragem, um dia, soluçando,
ver as bonitas, rumorosas águas,
para amenizar a dor, que carregando
vinha, de muitas e profundas mágoas.

Do rio amigo fui-me aproximando,
acabrunhado ao peso destas fráguas
que, dia a dia, vão me aquebrantando
e por sina cruel, sem querer, trago-as.

Mas as vozes das águas na barragem
- talvez de mim o rio condoído -
eram soluços tétricos na aragem.

E triste cena ali se realizava:
ouvindo o rio, soltava meu gemido
e ouvindo a mim, o rio soluçava.




Extraído de: Dimas Macêdo (Lavras da Mangabeira - Roteiros e Evocações. Fortaleza, 1986)



sábado, 28 de janeiro de 2012

Subsídios à História da Freguesia do Menino Deus - Aurora, CE.





Registraremos em rápidos traços neste ensejo, algumas achegas para a história da Igreja Católica Apostólica Romana no município sertanejo de Aurora, denominado outrora, e antes de se proclamar Vila d'Aurora, de Venda ou Venda Grande, pertencente em primórdios à circunscrição de Icó e posteriormente, Lavras da Mangabeira.
            Antes, entretanto, de quanto interessa neste tocante, lembremos que, de fato, não foi a atual igreja do Senhor Menino Deus de Aurora, o primeiro domo erigido nesta comuna cearense. Trata-se o primeiro, conforme adjutórios documentos recolhidos nas Paróquias de Icó, Missão Velha, Lavras da Mangabeira e na Cúria Diocesana em Crato, assim como em escritos dos mais abalizados historiadores cearenses, da Capela de São Benedito, solevada por Benedito José dos Santos, ao qual, oportunamente, e em outra ocasião, destacaremos.
            Importante diante do ineditismo que o cerca, pomos termo ao vertente delineamento observando o que consta no Livro de Tombo da Matriz do Senhor Menino Deus, escrito aos 30 de julho do ano de 1943 pelo Padre Murillo de Oliveira Campos, secretário da visita do Bispado Diocesano à citada Freguesia, em virtude da comemoração dos 50 anos de sua criação (1893-1943).
Segue na íntegra a transcrição da Ata solene com convenientes atualizações ortográficas:

Ata da Sessão Solene comemorativa do Cinquentenário da criação da Freguesia do Senhor Menino Deus de Aurora.

            “Aos trinta dias do mês de julho do ano de mil e novecentos e quarenta e três, nesta cidade de Aurora, Estado do Ceará, no Auditório da “Associação Beneficente Aurorense”, na presença dos Exmos e Revmos Srs. D. Francisco de Assis Pires (1), Bispo Diocesano, Pe. Vicente Augusto Bezerra (2), Vigário desta Paróquia, Pe. Januário Campos (3), Pe. João Begon, Pe. Francisco Blieste, estes dois últimos missionários da Sagrada Família, e de uma numerosa e seleta assistência, realizou-se a sessão solene comemorativa da criação da Paróquia do Senhor Menino Deus de Aurora.
            Antes de aberta a sessão foi cantado pela assistência um hino de saudação ao Exmo. Sr. Bispo, sendo as últimas notas abafadas por uma calorosa salva de palmas.
            Abriu a sessão o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra que passou a presidência ao Exmo. D. Francisco.
            Em primeiro lugar, ocuparam a tribuna o Revmo Pe. Januário Campos, que proferiu brilhante e comovedora oração (ilegível), sobre a criação da Paróquia de Aurora, elogiando o desbravamento dos ex Vigários e enaltecendo a laboriosa obra espiritual e moral do Pe. Vicente Augusto Bezerra, que empregou e sacrificou a sua mocidade em fazer o bem a esta terra.
            Lembrou, também, a signa humilde e respeitável de Luiz Gonçalves Maciel (4), zeloso fundador, nesta terra, das confrarias de S. Vicente de Paulo, sob cujos auspícios foram celebrados estas festas.
            Terminando, fez uma linda e justa saudação ao Exmo. Sr. Dom Francisco.
            A Professora Ivone Macêdo (5) recitou uma encantadora poesia intitulada “Prece de uma Brasileira”. Em seguida usou a palavra o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra, que numa piedosa alocução, disse da emoção que estava possuído, agradecendo a colaboração sincera de seus paroquianos para um desfecho tão lindo desta grandiosa festa.
            Agradeceu, ainda, com palavras cheias de reconhecimento, as referências feitas à sua pessoa pelos oradores dessa sessão. Leu a provisão que criou a Freguesia de Aurora e o certificado de posse do primeiro Vigário Mons. Vicente Pinto Teixeira, de saudosa memória.
            A senhorita Maria José, recitou a linda poesia “No Jardim das Oliveiras”. Com a palavra o Exmo. Sr. Dom Francisco de Assis Pires, Bispo Diocesano, fez uma conferência repleta de belos ensinamentos e luminosos conceitos em torno da situação atual do mundo, salientando a necessidade imperiosa de uma coação perfeita no seio pela Santa Igreja, onde não devem mediar desfalecimentos.
             S. Exa. multiplicando as razões porque se dignara compartilhando-se das alegrias desta festa que era (ilegível) ser esta Paróquia pela integridade da fé católica e de sua disciplina irrepreendendo almas das mais importantes da sua diocese. Destacou-se a pessoa do Revmo. Pe. Vicente Augusto Bezerra, pelo zelo ardente que abrasa a sua alma de sacerdote piedoso e apostólico.
            Finalizando, congratulou-se com o povo aurorense nas festas comemorativas da criação canônica da Paróquia.
            Numa demonstração de sadio patriotismo e de amor a nossa querida Pátria, foi encerrada a sessão com o “Hino Nacional”.
            E para constar, lavrei a presente ata que vai assinada pela mesa. Eu, Murillo de Oliveira Campos, servindo de Secretário, a escrevi e assino. Francisco, Bispo Diocesano.”

        _______________________________________x x x______________________________________

(1)    – Foi o segundo Bispo do Crato, natural de São Salvador na Bahia. Tomou posse aos 10 de janeiro de 1932, ficando à frente do Bispado até 21 de abril de 1955. Aposenta-se em 11 de julho de 1959. Faleceu em 10 de fevereiro de 1960 como Bispo Emérito.
(2)    – Foi o segundo Padre da Freguesia do Menino Deus da Vila da Aurora, e o que permaneu por mais tempo, tomando posse aos 18 de novembro de 1906, por provisão do Exmo Revmo D. Joaquim José Vieira, 2º Bispo do Ceará. Faleceu como Pároco desta Freguesia no dia 1º de fevereiro de 1953, na capital federal (Rio de Janeiro). A 16 de outubro de 1951 foi agraciado pelo Papa Pio XII com o título de Monsenhor. Faleceu o lavrense Vicente Augusto Bezerra aos 72 anos de idade, 50 anos de sacerdócio e 47 anos de Paroquiato nesta Freguesia, tendo sido homenageado com nome de rua no Distrito de Boa Esperança (hoje Iara, Barro, CE) e nome de Escola Pública em Aurora, cidade a qual dedicou a sua juventude em favor do seu desenvolvimento religioso e social.
(3)  – Aurorense, nasceu aos 19 de setembro de 1898, filho de Cândido Ribeiro Campos (Coronel Cândido do Pavão) e Ana Ribeiro Campos. Ordenou-se na cidade cearense de Sobral, aos 7 de março de 1925, celebrando a sua primeira missa, três dias depois em Canindé, CE. Foi vigário da cidade de Palmas, CE (hoje Coreaú), durante quatro anos, dez anos como pároco em Santa Quitéria (9 de fevereiro de 1930 a 5 de fevereiro de 1936), onde fez intensas reformas na atual igreja matriz, e três anos em Jucás, CE. Residiu e trabalhou vários anos em Iguatu, CE, onde exerceu o cargo de Coadjutor do então vigário Monsenhor Coelho e, depois, Capelão e Professor no Colégio Senhora Santana. Passou a residir em Fortaleza, em 1949, onde foi Capelão do Carmelo, Delegado de Ensino, Diretor do Departamento de Proteção ao Menor, Professor no Liceu e no Ginásio Municipal. Faleceu em 19 de dezembro de 1965, vítima de desastre automobilístico (desastre de jipe), na rodovia BR-13, proximidades de Cajazeiras, Paraíba, aos 67 anos, deixando saudades aos seus familiares, amigos e conterrâneos. É homenageado através de empréstimo de seu nome à uma rua na capital cearense (Parque Manibura), assim como à uma escola municipal em Iguatu, decorrente de seus importantes trabalhos enquanto diretor da delegacia de ensino.
(4)    – Era o Fabriqueiro da Freguesia do Menino Deus de Aurora, à época do Pe. Vicente Bezerra. Era o seu braço direito. Residia na casa situada vizinha ao casarão construído pelo Cel. Xavier e a casa do Prof. José Gonçalves Primo (Zezinho Saburá). Exercia ainda a função de boticário local, professor de música e ministrava os sacramentos na ausência do Pe. Bezerra.
(5)    – Nasceu em Aurora (9 de julho de 1921), filha de Antônio Landim de Macêdo (Quarto filho de Marica Macêdo e Cazuzinha do Tipi) e Rosa Teixeira Leite (Filha do Coronel Manuel Teixeira Leite). Foi professora pública de relevantes serviços prestados em Aurora e no Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira.




 Por: João Tavares Calixto Júnior
 Professor e pesquisador.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Raiz da Educação Pública no Cariri -Monsenhor Vicente Bezerra - 85 anos

No dia 07 de Setembro de 1920, ao som do apito do trem é formalizada a inauguração oficial da linha férrea, Aurora – Fortaleza- Fortaleza-Aurora a população aplaudia como um presente do Estado do Ceará, a chegada à plataforma na agencia da estação em Aurora-CE, o povo boquiaberto com aquela enorme máquina do progresso sobre linhas, os mais céticos a observarem como tão potente estrutura se equilibrava em retas tão finas de aço – Trilhos. Aurora passa a ser o centro do cariri, pois todos os viajantes teriam que vir a Aurora para a capital alencarina, Era uma festa só, pois ao ritmo do progresso velhas casas se transformaram em restaurantes, as famosas “bodegas” em tempo recorde passaram a ser mercearias de secos e molhados, enfim,o fluxo econômico foi multiplicado em cem por um. Com o terminal em Aurora, ao retorno a Fortaleza foi necessários vários funcionários para atender as demandas crescentes, assim inúmeros iluministas sociais vieram de outras urbes residir na terra do sol nascente. Cria-se uma solução no sistema de transporte coletivo, mas um problema para os filhos dos humanistas sociais. - Como educar os filhos em Aurora? O Que existia, tão somente, as Escolas Reunidas na função de “desarnar” os filhos da região, principalmente, os filhos dos mais abastados, vez os jovens, cuidarem com os pais das atividades campestres, pois na época exigia-se todo o esforço da família, às vezes precisando contratar trabalhadores para o famigerado trabalho de alugado. Foi ai que a comissão de humanistas, iluministas sociais, tiveram a brilhante idéia de consolidar a educação pulverizada das Escolas Reunidas com autonomia geográfica e estrutural em um prédio feito em alvenaria. A comissão com o apoio dos proprietários, comerciantes, agricultores e o povo em geral, com anuência do Estado do Ceará, conseguiram alavancar o sonho do povo com a sua primeira casa de Educação Publica no Cariri Cearense – Aurora-CE, a hoje, Escola de Ensino Fundamental Médio Monsenhor Vicente Bezerra, que garbosa ao tracejado dos pioneiros sempre em reforma estrutural e intelectual para entregar ao cariri cearense o modelo de luta, tenacidade, determinação a servir sempre ao povo da linda região do cariri e, neste próximo dia 15 de março, 2012 - 85 anos educando na eterna dialética de envelhecer no rejuvenescimento. Núcleo Gestor atual - 2012 Diretora Administrativa: Profa. Francisca Edvania TavaresCoordenadora Escolar: Profa. Fátima Pereira da Silva Coordenador Escolar: Prof. Vicente Luna Alencar Secretária Escolar: Francisca Auristela Fernandes França 
Artigo feito pelo Professor da Escola - Luiz Domingos de Luna-

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Arranque a ignorância da máscara

Luiz Domingos de Luna*

O Processo de civilidade dos seres humanos é um objetivo que remonta os mais distantes períodos da história, ou mesmo da pré-história. A civilidade tem um gráfico que oscila de forma muita violenta na escala existencial, não rara, ser paradoxa, pois a brutalidade de uma época pode fomentar o seu nascimento em outra, assim como a normalidade não assegura a sua continuidade linear na esfera do espaço tempo.
A Cultura deveria ser um bem comum para o convívio interativo dos seres humanos, o que cria uma grande disformia ,quando a cultura de um agregado social passa a ser um instrumento de diferença com o outro com o agravante quando, o outro se sente ameaçado pela diferença, a abstração ao modelo é betume de unificação social, outrossim, o exemplo é fonte de atrito.
A Inquietação das inúmeras formas de analisar um mesmo dado amostral na realidade deveria ser instrumento de construção social afirmativa, porém a tonalidade destoa quando há o abandono das técnicas da harmonia social já vistas, provadas e aprovadas  nas mais distintas situações para {o ódio emocional dirigido}, ou seja,  quando a causa em si, perde a substância, e o defensor um alvo de violência, assim nasce na sociedade o terrorismo  moral, pois a distorção de um ver difente, pensar de um ângulo  distante ao alcance  do outro sendo  uma  fonte geradora da bestialidade humana  para destruir o outro,  retirar do convívio social, expulsar do quadro existencial, é uma situação sempre temerária, pois a  uniformia do pensar coletivo é sempre um atraso, o certo dando continuidade ao certo, ou o errado  dando continuidade ao errado, são, a luz da razão, a base  para o  a criação de dogmas  sociais, que pode gerar a civilidade em um dado momento,  e a bestialidade em outro.
Essa quebra no convívio interativo do seres humanos tem como vetor básico: ver os acertos no que é oportuno e as falhas desprezíveis ou um mal necessário na forma conjuntural, e ver as falhas do outro como um fim negativo e maléfico a todos e os acertos do outro como uma distorção de princípios falhos que redundarão sempre em um mundo inoportuno. A falta de aprofundamento a exaustão do pensar do outro, para gerar uma visão sólida em todas objetivas possíveis, formará sempre a máscara que esconde a ignorância.

(*) Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora – Ceará.