sábado, 4 de maio de 2013

TAVARES, MEDEIROS, LUNAS E GRANGEIROS...

Por: João Tavares Calixto Júnior.


     1896. Em dia deste ano chega ao sítio Tipi, em Aurora, Salustiano Grangeiro de Luna, que passaria a atender, à frente do tempo, por Dom Joaquim, Prior e Abade Superior do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.
     Nascido aos 8 de junho de 1881 no sítio Logradouro em Missão Velha, Ceará, era filho do segundo casamento de Manoel Felipe de Luna Alencar, com Raimunda Clara do Amor Divino Grangeiro. Esteve de 1893 a 1895, empregado como caixeiro num pequeno estabelecimento de fazendas, secos e molhados na vila de Missão Velha, antes de mudar-se para o sítio Tipi em Aurora, mais precisamente no sítio Salgadinho, a fim de ensinar as primeiras letras e liturgias aos filhos de seu irmão Antônio de Luna Alencar.
     Regressa a Missão Velha no final de 1896, em decorrência do falecimento de seu pai, e já no ano próximo, exatamente aos 14 de outubro de 1897, conseguira emprego na Casa Sampaio e Irmãos, em Barbalha, o maior empório comercial do Cariri, à época. Paralelamente ao trabalho desenvolvido na empresa barbalhense, frequenta as salas de aula da Escola Noturna mantida pelo Gabinete de Leitura de Barbalha, já então existente e guiado pelo notável professor José Joaquim Teles Marrocos, o mesmo que em 1901, redigiu carta ao mosteiro de São Bento informando das pretensões de Salustiano em ser admitido na Ordem.
     Causa espanto em todo o Cariri, sendo já vastamente conhecido por ilibada reputação, a decisão de tornar-se monge, mudando-se para Salvador no final de fevereiro de 1902, a fim de inserir-se no mosteiro da Bahia, onde, aos 20 de março do mesmo ano, recebe o hábito de postulante. Chega ao mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro aos 23 de junho de 1903, e aos 11 de julho é admitido ao noviciado. Torna-se professo como monge de coro aos 31 de julho de 1904, recebendo a primeira tonsura em 6 de janeiro de 1906. Por ser a profissão simples perpétua, recebeu, no decorrer do curso de filosofia, as quatro ordens menores: a primeira em 17 de junho de 1905 e a segunda em 1 de novembro de 1905. A terceira recebeu aos 22 de dezembro de 1905 e a quarta, aos 16 de março de 1907. Recebe o subdiaconato aos 21 de dezembro de 1907 (na Capela da Tijuca), o diaconato aos 19 de dezembro de 1908, e o Presbiterato aos 4 de janeiro de 1910, sendo todas as ordens sacras, conferidas por Dom Gerardo Van Caloen, Abade do mosteiro de São Bento. Celebou a primeira missa no altar-mor da Abadia, às nove horas da manhã, do dia 6 de janeiro de 1910, na festa dos Reis.
     Foi Prior da Abadia de São Bento e Abade Superior do Mosteiro Beneditino. Foi historiador e tradutor, tendo sido membro correspondente do Instituto do Ceará. Publicou: Lirios Eucaristicos (1934 e 1939, duas séries); Os Monges Beneditinos no Brasil e Os Monges Beneditinos no Ceará (1953).
     Em Um Menino Caipira que se fez Monge – Notas sobre o Tio Monge (Missão Velha, 1979, p.5-28), discorre sobre ele o Pe. Francisco de Luna Tavares, seu sobrinho: "Encaminhou pessoalmente diversos jovens cearenses, sobretudo da Paróquia de Aurora, para a Escola Claustral, dos quais três ou quatro perseveraram em sua vocação. (...) nos últimos anos de seu Priorado, temendo a falta de perseverança de alguns ou por outro motivo justo, deixou de atender a alguns pedidos que daqui partiam. Eu mesmo por esta razão não me fiz também monge beneditino. (...) Amicíssimo do Pe. Cícero Romão Batista do qual fora colega no seminário de Fortaleza onde fizera todo o curso de teologia e recebera o diaconato, jamais comentou perante os alunos os fatos do Juazeiro relativos ao Pe. Cícero e à beata Maria de Araújo (...) Houve um incidente no mesmo ano de sua ordenação que o imortalizou não só entre os co-irmãos, mas o colocou nas páginas de nossa história pátria. Foi na revolta dos Fuzileiros Navais, chamada revolta da Chibata, em dezembro de 1910 (...)".
 
     Morreu como viveu. Talvez ao toque da sineta para o Ofício das Matinas, às 4 horas da manhã do dia 22 de novembro de 1969, levantando-se como de costume, sendo encontrado morto à soleira de sua cela de monge, no velho Mosteiro do Rio, onde havia se consagrado 65 anos antes.

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     Ocorria aos 5 dias de julho de 1909, o falecimento de Joanna de Jesus Tavares, filha do Alferes João Luiz Tavares, e esposa de Antônio de Luna Alencar, pioneiros do Sítio Salgadinho em Aurora. Atenta-se que deste casal, procedem os Luna Alencar e grande parte dos Tavares Luna, Luna Benício e Marinho de Aurora e região. Foram seus filhos, todos nascidos e residentes no Salgadinho:

1 – João de Luna Alencar (casado com Júlia Rangel de Luna);

2 – José de Luna Alencar (casado com Maria Benício de Luna);

3 – Manoel de Luna Alencar (casado com Vicência Benício de Oliveira);

4 – Anna Anunciada de Luna (casada com Alfredo Benício de Oliveira);

5 – Raimundo de Luna Alencar (casado com Maria Tavares de Luna);

6 – Maria Luiza de Luna (casada duas vezes, sendo a primeira com Joaquim Batista de Luna);

7 – Lídia Joanna de Jesus ou Lídia Joana de Luna (casada com Vicente Tavares de Medeiros);

8 – Luiz de Luna Alencar (casado a primeira vez com Ana Tavares de Luna e a segunda com Maria Tavares de Luna – Mariquinha);

9 – Domingos de Luna Alencar (casado com Lica Carneiro de Aquino);

10 – Esperança de Luna Alencar – ou Esperança Joana de Luna (casada com João Marinho de Luna);

11 – Maria Concebida de Luna (casada com Francisco Marinho de Luna – Chiquinho de Luna).
(Autos de Inventário de Joanna de Jesus Tavares, 1912, processo 4, p.4-5).


     Os velhos aurorenses, mais em dia com os acontecimentos da terra, informam ter conhecido a fama atribuída ao referido Antônio de Luna Alencar, Toinho de Luna, como era mais conhecido, desbravador primevo do Salgadinho, no sítio Muquém, na região do Tipi. Ao edificar engenhoca de rapadura, tornou-se popular, não tão somente pela produção dos derivados da cana, mas ainda, pelo carisma que lhe era peculiar, assim como pelos dotes de curandeiro que carregava. A despeito de tudo, viveu Toinho de Luna a sua vida, e teve seus incontestáveis méritos.
     Era filho do primeiro casamento de Manoel Felipe de Luna Alencar, com Ana Tavares Simões. Deste primeiro enlace, além de Toinho de Luna, foi pai o referido Manoel Felipe, de Vicente de Luna Alencar, Caetana de Luna Alencar, Pedro Tavares de Luna e Maria Luzia Tavares de Luna. De seu segundo matrimônio, com Raimunda Clara do Amor Divino Grangeiro, foi pai do já citado Salustiano Grangeiro de Luna (Dom Joaquim), José Grangeiro de Luna (falecido inupto), Antônia Grangeiro de Luna e Ana Grangeiro de Luna (Santana), casada com Agostinho Tavares de Medeiros, irmão do já apontado Manoel Tavares de Medeiros (Nezinho do Tipi). Acrescentamos terem sido, conjuntamente os referidos, ancestrais dos que hoje carregam os genes dos Grangeiro de Luna, Luna Benício, Tavares Luna, Tavares Medeiros, Luna Tavares, Luna Marinho e Luna Alencar, espalhados por Aurora e região.
 
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1920 (21 de setembro) – É deste dia o nascimento de Francisco de Luna Tavares (Padre Luna), filho de Agostinho Tavares de Medeiros e Ana Grangeiro de Luna (Santana).


 
     Natural de Abaiara, à época município de Milagres, foi ordenado sacerdote no quarto dia do mês de dezembro de 1949, no seminário da Prainha, em Fortaleza. Recebeu sua primeira Paróquia na cidade de Parambu, Ceará, onde permaneceu por dois anos. Mudou-se em seguida para Iguatu, Ceará, onde foi Vigário Coadjutor, e de lá para o Crato, onde exerceu várias funções no Seminário Episcopal, inclusive, o cargo de Professor.
     Chega ao município de Aurora aos 2 de fevereiro de 1953, recebendo a Paróquia em virtude do falecimento do Monsenhor Vicente Bezerra. Permaneceu em terras aurorenses por mais de 18 anos, antes de mudar-se para Missão Velha, onde vicariou a Paróquia de São José até o seu trespasse, ocorrido em face de acidente automobilístico (caminhão) junto a seu sobrinho Raimundo Grangeiro de Luna (Duca) aos 7 de fevereiro de 1980.
     Deixou registrado no Livro de Tombo da Freguesia do Menino Deus de Aurora a relação das alfaias encontradas por ele ao tomar posse, em 1953:
 

"Na Igreja Matriz: um relógio na torre; dois sinos, sendo um histórico; um harmônico francês; um sacrário de metal embutido; um sacrário de madeira; duas custódias; duas âmbulas; dois cálices sendo um de prata; o cálice de prata do Pe. Vicente. paramentos: dourados, vermelhos, roxos, pretos, brancos, todos porém muito estragados com exceção de um vermelho, um branco e um preto mais novos. Umas cinco ou seis alvas velhas, algumas tralhas de linho, vários corporais, sanguinhos, manustérgios e palas. Singelos dois pares de galhetas. Uma estante de metal para missal. Três estantes de madeira. Três jogos de bacias. Uma cômoda de madeira. Um missal romano novo e dois velhos. Um missal de defuntos novo e um velho. Uma bandeja de comunhão. Um trono para exposição. Três pedras d’ara. Um púlpito, dois genuflexórios velhos, dois confessionários velhos, alguns bancos velhos quebrados, duas banquetas de metal sendo uma nova, dois turíbulos de metal, uma cruz de metal, duas lanternas e algumas tochas da irmandade. Um pálio, uma capa de asperges branca, um preta e uma roxa. Três estolas paroquiais e uma preta. Dois vasos para santos óleos. Um relicário para o viático".
"Nas Capelas: Iara: Uma casa paroquial velha, Dois sinos, Um cálice de metal dourado, Uma custódia, Uma âmbula, Um harmônio nacional, Uma cômoda de madeira  Paramentos: Um dourado, um vermelho, um verde e um preto, Uma capa de asperges com véu de ombro, Duas alvas velhas, Dois rouquetes, Duas estolas, Duas pedras d’ara Um sacrário de madeira, Um turíbulo velho, Algumas toalhas de linho para os altares Um genuflexório, uma mesinha de cimento armado para o batistério, Seis castiçais de madeira grandes e seis pequenos, alguns jarros de vidro para flores, Dois missais sendo um novo, Um par de galhetas, Uma bandeja de comunhão, Uma campainha de metal, Uma estante de metal para o missal, Duas cômodas de madeira na sacristia".
 
     Dinâmico e profícuo defensor dos dogmas eclesiásticos deixou, dentre outras importantes contribuições em Aurora, o prédio da atual casa paroquial, executada por ele, assim como a Casa São Vicente de Paulo, na Rua Santa Maria e o Colégio Paroquial Menino Deus, um dos mais importantes educandários de Aurora e região, resistente ainda aos dias atuais.



Referências Bibliográficas:
Autos de Inventário de Joanna de Jesus Tavares (Processo 4, p.4-5, 1912, In: Arquivo Público do Estado do Ceará, Fortaleza).
CALIXTO JÚNIOR, João Tavares. Venda Grande d'Aurora. Expressão Gráfica, Fortaleza, 2012.
TAVARES, Francisco Luna (Pe.). Um Menino Caipira que se fez Monge – Notas sobre o Tio Monge Missão Velha, 1979.

 

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