Por: João Tavares Calixto Júnior.
PARTE I - O Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira.
PARTE I - O Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira.
Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira (1959)
Era 1947 o ano. Neste tempo,
em que o Brasil era regido pelo General Dutra, via-se o fechamento do partido
comunista brasileiro e o rompimento de relações diplomáticas com a União
Soviética, período coincidente à expansão norte-americana sobre o ocidente e à
retomada brasileira à crise econômica.
Esta mesma época, em que o
País efetivamente subordinava-se aos interesses políticos e econômicos
norte-americanos, pode ser julgada uma das mais importantes da história de
Lavras da Mangabeira, município antigo da região do centro sul Cearense. Naquele
ano, em que no dia 20 de janeiro criava-se na capital federal através do
decreto nº 22.470, a rede de estabelecimento de ensino agrícola no território nacional, Lavras da Mangabeira cravava como um dardo, um marco em sua tábua cronológica, o que dividiria sua história em antes e depois de até então.
Diante do exposto, e através de projeto de autoria do então deputado federal Raul Barbosa (Deputado de 1946 a 1951),
surgiria a Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira, sendo já, em
02 de agosto do mesmo ano (1947), pela portaria nº 55 do Ministério da
Agricultura, designado o Engenheiro Agrônomo Dr. José Aristóbulo de Castro
Filgueiras, para inicialmente providenciar a instalação da referida. Era Aristóbulo
homem de confiança do governo, e por ser possuidor de um conhecimento técnico
da área agrária e mais precisamente da região semiárida, foi-se assim, durante
a vida e em sua época, um dos poucos do país. Foi, portanto, indicado ao cargo
de diretor da Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira em 22 de
janeiro de 1953, pela portaria nº 87 do Ministério da Agricultura. Ao chegar à cidade ainda desconhecida, logo
após a indicação pelo governo, Aristóbulo conheceu o Dr. Waldemir de
Albuquerque e Sousa, chefe então do posto Agropecuário local, ao qual foi seu
auxiliar imediato no processo de viabilização para a construção do iminente
estabelecimento.
O fato de o Dr. Aristóbulo
ter sido nomeado diretor (janeiro de 1953), corresponde a caráter meramente
burocrático, não tendo, entretanto, participado efetivamente como administrador
da escola em seu exercício pleno.
A
Primeira Administração: Dr. Gustavo Augusto Lima (1954 – 1963)
Jornalista João Coelho Cordeiro e Gustavo Augusto Lima (Jornal Gazeta de Notícias, Fortaleza -1959)
Integrante do clã dos
Augustos, era prefeito de Lavras da Mangabeira em 1947, o Engenheiro Agrônomo
Dr. Gustavo Augusto Lima, sendo assim por dois mandatos. O primeiro, entre
março de 1946 e março de 1947, nomeado pelo Interventor Federal Dr. Pedro
Firmeza. O segundo, eleito já pelo pleito municipal de 7 de dezembro de 1947,
entre janeiro de 1948 e janeiro de 1951.
Portador de um pensamento
desenvolvimentista extremamente ativo, o Dr. Gustavo Augusto antecipara através
de pedido ao então deputado estadual lavrense, e seu primo Vicente Férrer
Augusto Lima, prefeito de Lavras até 17 de novembro de 1945, que conseguisse
juntamente ao deputado federal Raul Barbosa, a concessão de uma escola de porte
agrícola para Lavras, para isto, em contrapartida, seria doado um terreno para
instalação de suas dependências.
Feito tudo conforme o
esperado foi assim, autorizada pelo Governo Federal, a criação da tão sonhada
obra para Gustavo. Enquanto prefeito, cedeu conforme o prometido, um terreno com
vastos 352 hectares denominado Sítio Pereiro à União. A doação foi oficialmente
realizada pela Lei Municipal nº 32, de 11 de dezembro de 1950, que citava
ainda, o incremento ao Governo Federal do então Posto Agropecuário local,
localizado no Sítio Volta.
Passados depois os mandatos
de prefeito, nos quais o município adquirira ainda o prédio dos Correios e Telégrafos,
o prédio da Prefeitura e o da Escola Filgueiras Lima, o grande nome lavrense
irrequietou-se por não estar mais a participar de forma direta, do progresso de
seu lugar de origem. Segundo a escritora Rejane Augusto, era o mesmo um
imitador da conduta transparente de seu avô, o também denominado Gustavo
Augusto Lima, vice-governador do Ceará e que era, segundo o historiador
Joaryvar Macêdo, dono de 1/3 do eleitorado cearense.
Três anos sucederam-se à
construção da escola e em 31 de dezembro de 1953 era nomeado pela portaria nº
1.861 do Ministério da Agricultura, o Engenheiro Agrônomo Dr. Gustavo Augusto
Lima, enfim, como diretor da Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da
Mangabeira, já tão esperada, e de forma entusiasmada pela população de Lavras e
região a abrir seus imponentes portões emadeirados de ipè.
Formado pela Universidade
Federal do Ceará em 1939, foi o Dr. Gustavo diretor da escola por quase
10 anos (da inauguração até 1963), quando renunciou ao posto para assumir vaga
de deputado estadual na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.
Sendo prontamente entregue a
escola à comunidade, iniciaram-se as aulas, enfim, em abril de 1954, já à sua
frente o Dr. Gustavo Augusto. Com o curso de iniciação agrícola e a subseqüente
introdução do curso de mestria agrícola, foram matriculados nas primeiras
turmas um número que variava de 120 a 150 alunos sendo a maioria em regime de
internato. Situado a 3 km da cidade, o grandioso terreno apresentava em seu
início cerca de 200 hectares para o campo de pastagens, cultivo de cereais,
cultura de algodão, etc.
O edifício principal,
medindo 92 m de frente por 48 de fundos, era de suntuosidade inigualável e se
confundia às grandes construções da capital. Suas inúmeras divisões internas foram
edificadas quando da inauguração: dormitórios, centro social com palco e 150 cadeiras,
salas de aula (salões), almoxarifado, gabinete médico e odontológico, cozinha,
inspetoria de alunos, depósitos de bagagens (malarias), bibliotecas,
secretaria, diretoria, sala de professores, bebedouros, banheiros industriais,
etc.
Além do bloco principal,
viu-se ainda o Dr. Gustavo Augusto erguer em antigas terras de sua propriedade:
residência para o diretor, residência para o agrônomo auxiliar, residência para
auxiliar de campo, estábulo para 24 bovinos, apiário, aviário, galpão de
máquinas, pocilga, caixa d’água, casa de força, casa para abrigar a bomba
d’água, e ainda, uma guarita de entrada.
De
Iniciação Agrícola à Agrotécnica
Através do termo de aditivo
publicado no D.O.U. de 22 de junho de 1959, a Escola de Iniciação Agrícola era
transformada em Escola Agrotécnica, passando a formar agora técnicos em
agricultura e não mais mestres agrícolas como antes, num total de sete anos de
estudos. A sua elevação à esta categoria
superior ocorreu graças ao empenho do deputado federal Dr. José Martins
Rodrigues que, ao prever a referida transformação, apresentava emenda ao
orçamento da união para o ano de 1959, equiparando a verba à prevista para o
nível Agropecuário (passando de Cr$ 1.200.000,00 para Cr$ 3.000.000,00),
tornando-se assim, necessária a admissão de novos professores.
Alunos da turma de 1959 da então Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira, CE.
Continua ...
Sobre o autor:
Biólogo (CRBio: 36.967/5-D)
Especialista em Educação Ambiental
Mestre em Ciências Florestais
Doutorando em Biotecnologia
Professor: Rede estadual de ensino (CE), Universidade Regional do Cariri, Faculdade Santa Maria (PB)
Biólogo da secretaria de saúde do estado (CE)
Membro da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU)
Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE)
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