sábado, 23 de outubro de 2010

Algodão: A Nostalgia da Época do Ouro Branco em Terras Semiáridas


       Nos últimos 35 anos a cultura do algodão passou por períodos de crise e de recuperação.  O setor passou por quatro grandes crises. No final do século XX, na década de 80, foram plantados no Brasil 4,1 milhões de hectares de algodão, sendo 3,2 milhões de algodoeiros arbóreos no Nordeste, sendo a região Centro-Sul e do Salgado, destaques. Neste período, o sistema de exploração que predominava era o familiar ou em parceria. A mecanização ocorria em poucas etapas do cultivo e quase não se utilizavam insumos modernos. Outra característica da cadeia na época é a de que a agricultura empresarial ocorria apenas nas regiões Sul e Sudeste.
     Nesse período do cultivo do algodão no Nordeste surgiu a praga “bicudo do algodoeiro”, mais exatamente em 1983, que se instalou nos algodoais dos Estados da Paraíba  e São Paulo, e se espalhou com muita rapidez para outros campos de cultivo em todo o estado do Ceará. Isso provocou mudanças no trabalho de melhoramento e fez com que mais uma crise se instalasse no setor. A mudança na política de crédito rural, que dificultou o acesso de pequenos produtores, contribuiu para o alastramento do problema. Também fizeram parte do pacote da crise neste período as intervenções governamentais, que restringiram as exportações e a redução da alíquota de importação de 55% para 10% (em 1988) e para 0% (em 1991), além do câmbio defasado, que favoreceu a importação de grandes volumes de algodão, a prazos longos. 



       Por causa dessa  crise o país, e mais especificamente o setor, perdeu um milhão de empregados na lavoura, o fechamento de mais de 1.200 indústrias têxteis de pequeno e médio porte, com a redução de 500 mil empregos, e a perda do mercado exportador de pluma de algodão, além do prejuízo para milhares de pequenos e médios produtores.
      A recuperação da produção do algodão nacional começa a se estabelecer a partir de 1990 com a definição de novas estratégias para garantir o mercado. Duas metas foram definidas e trabalhadas: o algodão colorido no semiárido Nordestino e o algodão em bases empresariais no cerrado do Centro-Oeste e Nordeste.
     Novas cultivares foram desenvolvidas para a implantação do algodão colorido no semiárido, e foi trabalhada a valorização da produção artesanal, orgânica e familiar, com apoio a pequenas indústrias locais, geração de moda própria, consolidação da marca e marketing nacional e a organização da cadeia produtiva.  
     Os resultados colhidos foram significativos e impulsionaram a cotonicultura na região, como, por exemplo, o desenvolvimento e a validação de um sistema de produção de algodão colorido orgânico. A produção orgânica envolve hoje seis municípios e 50 associações de produtores. Na safra de 2005, na Paraíba por exemplo, a área plantada era de 4.600 hectares, com a geração de 1.300 empregos diretos.
     O Brasil tem condições de aumentar a área de produção em 30 a 50%  e a região Centro-Sul do estado do Ceará tem um grande potencial de expansão na cotonicultura. Outra projeção é que em 2010 sejam plantados dois milhões de hectares, abrangendo os Estados de Mato Grosso, Bahia, Goiânia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Tocatins, Maranhão e Distrito Federal, além do nosso Nordeste. 
     Uma ótima alternativa para a volta da produção do algodão em nossas terras seria o plantio em consórcio do algodão com outras culturas. Essas culturas consorciadas com algodão são destinadas à  subsistência  do agricultor familiar, enquanto o algodão é direcionado ao mercado, sendo responsável pela geração de renda desses pequenos produtores. Os pesquisadores da Embrapa Algodão (Campina Grande/PB), por meio de diversos projetos, incentivam essa prática como alternativa para o controle de pragas visando consolidar a produção dealgodão colorido dentro de um sistema de cultivo orgânico de maneira rentável e sustentável. Segundo os entomologistas da Unidade, os sistemas de cultivo em consórcio, também conhecidos como cultivo em faixas ou policultura, aumntam a biodiversidade do agroecossistema, tornando o ecossistema mais estável e reduzindo o problema de pragas em comparação com o sistema de monocultivo. 

 
     Poderíamos certamente ver o nosso orgulho resgatado se a nossa maior riqueza - o nosso ouro branco - pudesse ressurgir denovo. Em questão de lavoura, só se falava em algodão. Foi uma febre que atacava a todos, indistintamente. Funcionários, comerciantes, gente das cidades vizinhas que nunca lidou na terra, todos se aventuravam a ganhar dinheiro com algodão.
     A colheita, no município de Lavras por exemplo, chegava anualmente (década de 70) ao aprecíavel rendimento de 15 mil toneladas. Nossa região viveu o apogeu econômico entre as décadas de 60 e 70 justamente quando o algodão era a cultura mais representativa. Viveram-se dias de glória, de abundância, de mesa farta... Depois veio o declínio e ninguém mais banhava os cavalos com cerveja, nem mais lograva de  posição social por ser proprietário, nem era chamado de coronel por abastecer a cooperativa dos preciosos novelhos brancos. O sonho da riqueza foi substituido pela utopia da migração e nossos trabalhadores do cultivo algodoeiro foram parar em São Paulo.  Hoje, mutios deles ainda resistem, amparados por políticas sociais humilh  antes e desencorajadoras, que fazem com que o sertanejo, o cabra bom de roça, se ausente do prazer de ter em suas costas uma bolsa cheia de algodão, para ter uma BOLSA FAMÍLIA que o indignifica e o retrograda a cada dia...


Apogeu da safra do algodão em Aurora - CE (1974) - Cortesia: Site da Prefeitura Municipal de Aurora-CE.


Por: João Tavares Calixto Júnior - Biólogo, Mestre em Ciências Florestais
Fonte: Adaptado - Nordeste Rural/Embrapa Algodão 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os Ambientalistas Instantâneos

    
  
     Na tentativa de cortejar quase 20 milhões de eleitores da candidata derrotada do PV à Presidência, Marina Silva, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) decidiram abraçar a causa verde no segundo turno. Mas a preocupação com o meio ambiente passou ao largo da propaganda eleitoral da petista e do tucano no primeiro turno.
     Dilma usou cerca de cinco minutos, dos 400 a que teve direito em seus programas de TV, para abordar o tema, o que corresponde a 1,25% do tempo. Serra gastou 2 minutos num total de 280 minutos, ou 0,71%.
     O levantamento feito pelo GLOBO levou em conta qualquer menção a obras, projetos ou compromissos ligados ao meio ambiente nos 40 programas de TV de Dilma e Serra no primeiro turno (de 17 de agosto a 30 de setembro).
     Nesse pálido discurso verde, o saneamento foi, de longe, o tema mais explorado. O assunto foi mencionado em 17 programas de Serra e em dez de Dilma. Por outro lado, problemas como as queimadas na Amazônia ou as mudanças no Código Florestal, que geraram calorosos debates, ficaram fora da propaganda da petista e do tucano.
     Depois de 3 de outubro, o discurso dos dois candidatos mudou. Serra disse, em São Paulo, que é um ambientalista convicto. Quatro dias depois, em entrevista a uma rádio de Chapecó, em Santa Catarina, voltou a desfraldar a bandeira verde: - Sou ambientalista, defendo muito o patrimônio florestal.
     Serra defendeu a flexibilização no projeto do Código Florestal, de modo a respeitar as características de cada região. E disse que a discussão não deveria ocorrer em ano eleitoral: - Nós vamos pegar isso ano que vem e discutir com todo mundo. E ter em mente a necessidade de preservar e ter incentivos econômicos para o desenvolvimento do país. Acho perfeitamente possível compatibilizar.
     Dilma também afinou o discurso. Tentou apagar o incêndio causado pelo fato de o governo ter realizado um seminário para discutir mudanças no Plano Amazônia Sustentável (PAS), herança da ex-ministra Marina Silva: - O meu programa de meio ambiente é o programa desenvolvido no governo nos últimos anos. É aquela base. É preciso avançar. Agora, as bases do Plano Amazônia Sustentável, eu acho que elas estão absolutamente corretas. Até porque seria uma contradição comigo mesma. Eu ajudei a elaborar, a participar. Coordenei uma parte.
     Os motivos pelos quais o meio ambiente ficou fora da propaganda dos dois candidatos são muitos. Para José Eli da Veiga, professor da USP e escritor, tanto na coligação que apoia a petista quanto na que está com o tucano, a maior parte das pessoas pensa o meio ambiente como "uma espécie de gavetinha".
- Num debate, uma jornalista perguntou para a Marina, que falava sobre meio ambiente: "Mas e as questões maiores do Brasil?". Para ela, o meio ambiente era menor. Ora, o meio ambiente é maior do que o Brasil. Os candidatos do PT e do PSDB não acordaram para essa questão. Se é que vão acordar. Eles estão com uma agenda do século passado. E esse discurso adotado agora é puramente oportunista - diz José Eli.
     O cientista político e jornalista Sérgio Abranches cita três razões para o fato de a questão ambiental ter passado em branco. Em primeiro, diz ele, as pesquisas que orientam os programas eleitorais no Brasil são focadas nos problemas, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde elas são mais amplas, retratando as expectativas dos eleitores.
      Por último, diz que nem Dilma nem Serra pensam a questão ambiental como ela deveria ser no século XXI: - Eles acham que o meio ambiente é um capítulo, não a espinha dorsal. E, como ele não está na lista de problemas, eles tratam muito pouco disso. A mídia também não pergunta muito, porque não está na agenda da sociedade brasileira. O Brasil está atrasado nisso. Os candidatos expressam o atraso da sociedade na qual vão buscar os votos.
     Estudioso de programas eleitorais, o cientista político Emerson Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná, diz que quase 50% do tempo da propaganda são gastos para passar a imagem do candidato, ficando a parte temática reservada para a outra metade. - A gente tem percebido que metade do programa é usada para apresentar a trajetória, a família, para mostrar pessoas falando do candidato - afirma Emerson. Na outra metade, diz ele, a propaganda fica atrelada às pesquisas de opinião, que ressaltam os problemas de sempre: - Há quem diga que meio ambiente importa para uma sociedade pós-economia consolidada. Se você tem problemas sociais, de educação, se você ainda tem mortes por doenças do século XIX, o meio ambiente não vai aparecer.
     Na saída de uma reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a coordenação da campanha de Dilma o presidente do PT, José Eduardo Dutra, admitiu que houve uma cobrança ao publicitário João Santana sobre a pouca abordagem, nos programas de TV, de temas ambientais: - Com certeza, é um dos temas que vamos abordar mais no segundo turno. Tivemos uma posição ousada em Copenhague, houve diminuição do desmatamento na Amazônia no governo Lula. Temos de ter capacidade de mostrar que esse conceito sempre fez parte do nosso ideário. 

João Tavares Calixto Júnior - Adaptado de O Globo (Paulo Marqueiro 16/10/2010)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um pouco sobre a polítca ambiental pós-eleições no Brasil e em Lavras

   

      Os 135 milhões de brasileiros que foram às urnas neste domingo (3) tinham nas mãos a maior biodiversidade do planeta e a responsabilidade de escolher governantes preocupados com a temática. Entre os principais desafios brasileiros estão: reverter a derrubada de florestas, garantir meio ambiente saudável nas pequenas e grandes cidades e aliar crescimento econômico com preservação.
      Principal vitrine natural do país, a Amazônia já perdeu mais de 15% da cobertura florestal original. Em 2009, a taxa anual de desmatamento da região, medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi a menor dos últimos 20 anos, o que ainda representou 7,4 mil quilômetros quadrados (km²) de floresta derrubada em 12 meses.
      No Cerrado, a situação é mais crítica. O bioma já perdeu quase metade de sua vegetação original, principalmente para dar espaço à formação de pastos, áreas agrícolas e produção de carvão. Por ano, o Cerrado perde 14 mil km² de cobertura nativa, segundo cálculo do Ministério do Meio Ambiente.
      Os números mais recentes do desmatamento da nossa Caatinga mostram que 45% do bioma já foi derrubado. Apenas entre 2002 e 2008, a região perdeu 16,5 mil km², área equivalente a metade do estado de Alagoas.
      No Sul, o Pampa também está ameaçado, e atualmente está reduzido a 46% de sua área original, com 95 mil km² de vegetação derrubados até 2008, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
      Fora das florestas, os números também apontam desafios ambientais compatíveis com o tamanho do país. Depois de quase 20 anos em tramitação no Congresso Nacional, a Política Nacional de Resíduos Sólidos terá agora que ser implementada. Com a sanção da lei, o Brasil passou a ter um marco regulatório na área de resíduos sólidos. O texto prevê mecanismos para reverter, por exemplo, o baixo nível de coleta seletiva no país – apenas 8% dos municípios brasileiros têm o serviço – e a má destinação do lixo.
      Nas negociações ambientais internacionais, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil tem o desafio de conseguir ser um dos mediadores entre os países ricos e os pares emergentes para garantir a preservação da biodiversidade e, em outra frente, tentar chegar a um novo acordo sobre redução de emissões de gases de efeito estufa.
      O certo é que os novos governantes terão que enfrentar problemas ambientais muito sérios no Brasil. Problemas estes, meandros de políticas desorganizadas elaboradas por esta mesma gente que sempre chega ao poder, a qualquer custo.
     Esperemos agora as próximas eleições, daqui a dois anos para prefeito e vereadores. Esperemos também, anciosos, que durante estes dois anos e alguns meses que ainda restam deste pleito em Lavras, possa ser feita alguma coisa em favor da causa ambiental e da educação.
     Colecionadora de uma grande quantidade de atitudes deselegantes, a atual prefeita municipal de Lavras da Mangabeira conseguiu ainda mais aumentar seus índices estatísticos de hostilidade com a população. Um desrespeito sem tamanho com o povo tão sofrido, desta terra que padece diante de tanto despreparo político coronelístico e feudal. Não se admite um descaso tão grande com a educação, ao ponto de se cortar o combustível do transporte escolar da zona rural, em virtude de indignação pessoal da excelentíssima gestora com o povo de sua terra, que começa de vez a dar o troco a esta forma de governo perversa e hostil.
      O ocorrido foi que o candidato a deputado estadual apoiado pela prefeita (Seu filho - Danniel Oliveira), não obteve uma votação representativa em sua terra natal. Alunos do Distrito de Iborepi, por exemplo, ficaram privados de irem à escola por causa desta "pirracinha" da nossa querida prefeita. Ora, ela queria ter votação expressiva numa terra abandonada por ela, onde os porcos acirradamente disputam com jumentos o título de maior população distribuída em suas ruas. Um distrito onde não existe água para o povo beber! É um absurdo!
      O imbróglio surgiu por que a soma da votação dos deputados estaduais contrários à vontade da nossa inquisitora foi de quase 3000 votos de maioria, sobre a votação de Danniel. Isto sem falar em mais de 7000 pessoas que não compareceram às urnas para manifestar o seu direito democrático. O Distrito de Quitaiús que praticamente não tem assistência nenhuma em segurança, saúde e habitação foi prova sucinta que o povo está mudando o seu pensamento diante da oligarquia implantada por um grupo que agora diz que não manda somente em Lavras, mas em todo o Ceará!
      O Rio Salgado terá grande enchente em breve (fenômeno natural sazonal em rios de ambientes semiáridos), nada foi feito após a última terrível inundação, existem ruas sem saneamento, o aterro funciona como lixão a céu aberto, o Riacho do Rosário está sendo contaminado por agrotóxicos, a arborização urbana está esquecida e a final, para onde está indo os 2% do orçamento do município destinado ao meio ambiente?

João Tavares Calixto Jùnior é Biólogo, Mestre em Ciências Florestais, Professor de Botânica e Saúde Ambiental da Faculdade Santa Maria - PB e de Biologia da Escola Alda Férrer em Lavras.