quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Onde estão as Mangabeiras de Lavras da Mangabeira?

        
                                                                             Foto: Fernando Tatagiba

        A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma árvore frutífera de clima tropical, nativa do Brasil e encontrada em várias regiões do País, desde Tabuleiros Costeiros e Baixadas Litorâneas do Nordeste, onde é mais abundante, até os cerrados das regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste. Apresenta frutos aromáticos, saborosos e nutritivos, com ampla aceitação de mercado, tanto para o consumo in natura, quanto para a indústria.
        A palavra mangaba é de origem indígena e significa coisa boa de comer . A mangaba ou mangabeira pertence ao grupo das Eudicotiledoneas, ordem Gentianales e a família Apocynaceae  É uma árvore de porte médio, possuindo de 2 a 10 m de altura, podendo chegar a até 15 m, dotada de copa irregular, tronco tortuoso, bastante ramificado e áspero; ramos lisos e avermelhados. Toda a planta exsuda látex. Apresenta folhas opostas, simples, pecioladas, glabras, brilhantes e coriáceas. Sua inflorescência possui de 1 a 7 flores perfumadas e de coloração branca.       
        A mangabeira é uma planta perenifólia de clima tropical, ocorrendo, sobretudo, em áreas de vegetação aberta, com temperatura média ideal entre 24 e 26°C. Apresenta maior desenvolvimento vegetativo nas épocas com temperatura mais elevada e, a pluviosidade ideal pode estar entre 750 e 1.600 mm anuais. Os solos nos quais se desenvolve são pobres e arenosos, predominantes na região do Cerrado e Tabuleiros Costeiros.
       Apesar de ouvirmos falar nesta planta que empresta o seu nome a nossa cidade, não temos indícios desta árvore por aqui (Lavras e Microregião de Lavras da Mangabeira). A mangaba, que tem um potencial de aproveitamento muito variado, onde principalmente os frutos tem um valor comercial significativo é caracterizada antes de tudo por ter maior aplitude em ambientes de cerrado, e não de caatinga arbóreo-arbustiva e arbórea como temos acá.
        Estudos etnobotânicos realizados com populações tradicionais em Lavras não apontam a presença desta espécie como sendo típica da região. Os mesmos estudos em outras localidades indicam a eficiência da planta quando empregada contra tuberculose, úlceras, herpes, dermatoses e verrugas., já na região em questão, são outras espécies as citadas como úteis para os mesmos fins. Não há registros históricos que a citem como produtora de látex na região, já que foi bastante explorada no período áureo da borracha, entretanto, o melhor desempenho da borracha de Hevea brasiliensis se impôs sobre a sua produtividade.
          Nunca se saboreou na região, um sorvete de mangaba, ou um doce, ou compota, ou geléia ou licor, que fosse feito com o fruto retirado da planta no quintal de casa. Nunca se ouviu comentar por parte de nenhum apicultor local, de mel coletado em floração da planta e nem se viu também, a árvore que batiza a cidade querida, em suas ruas, praças ou avenidas.


          É preciso saber para onde foram as mangabeiras, quem as retirou, ou se pelo menos existiram um dia. Retifiquemos neste blog, portanto, o uso incorreto ou pelo menos incoerente, do termo: "Árvore muito comum na região" como tem-se visto em textos alusivos à etimologia do nome da cidade, inclusive no site Wikipédia e no próprio portal da Prefeitura Municipal. Muito provavelmente, a verdadeira toponímia explica o nome da cidade atribuída à exploração mineral (Lavras), realizada em grande parte na Fazenda do Padre Antônio Gonçalves Sobreiro (Fazenda Mangabeira) em meados do século XVIII. Por que o nome da cidade vêm da homenagem à árvore que insistimos hoje em procurá-la e não encontramos, nem parte de seus resquícios? Poderia desta forma, se elaborar um trabalho etnobotãnico, histórico, dirigiido, onde se pudesse resgatar a origem da mangaba em nossa terra e o motivo do verdadeiro nome da cidade.

                                                      Foto: Fernando Tatagiba
                                                  
        Já que não se pode ignorar a homenagem batizada há tanto tempo e imortalizada, que pelo menos se plante a espécie em nossos fincões, e que seja divulgada como sendo de importância histórica e cultural, pra que um dia possamos falar de suas vantagens ecológicas e se lambuzar com o delicioso doce de sua fruta retirada do pé em frente a calçada de casa.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os dez anos mais quentes do milênio


         Embora não possa ser cientificamente comprovado (ou, a propósito, negado) que o aquecimento mundial causou algum evento extremo em particular, podemos dizer que o aquecimento mundial muito provavelmente torna vários tipos de condições meteorológicas extremas mais frequentes e mais intensas", escreve Stefan Rahmstorf, professor de Física dos Oceanos na Universidade de Potsdam e membro do Conselho Consultivo Alemão sobre Mudanças no Mundo, em artigo publicado pelo jornal Valor, 17-08-2010.
         Segundo o cientista, "com ações débeis, como as prometidas pelos governos na conferência de Copenhague em dezembro do ano passado, estaremos a caminho de 3º ou 4º Celsius de aquecimento mundial. Isso provavelmente ultrapassará a capacidade de adaptação de muitas sociedades e ecossistemas. E se nada for feito, o planeta poderá até mesmo aquecer entre 5º e 7º Celsius até o final deste século - e ainda mais, depois. Marchar conscientemente nesse caminho seria insano".



 Sobre o artigo:

         Este verão tem apresentado extremos relacionados com o clima na Rússia, Paquistão, China, Europa, no Ártico - e muitos outros lugares. Mas terá isso algo a ver com o aquecimento mundial, e serão as emissões humanas as culpadas?
        Embora não possa ser cientificamente comprovado (ou, a propósito, negado) que o aquecimento mundial causou algum evento extremo em particular, podemos dizer que o aquecimento mundial muito provavelmente torna vários tipos de condições meteorológicas extremas mais frequentes e mais intensas.
        Durante semanas, a Rússia central esteve nas garras da sua pior onda de calor na história, que provavelmente causou milhares de mortes. Como resultado da seca e do calor, mais de 500 incêndios grassaram, descontrolados, sufocando Moscou com fumaça e pondo em risco várias instalações nucleares. O governo russo proibiu as exportações de trigo, o que fez disparar os grãos em todo o mundo.
         Enquanto isso, o Paquistão está lutando com inundações sem precedentes que já mataram mais de mil pessoas e afetaram outros milhões. Na China, as enchentes já mataram mais de mil pessoas e destruíram mais de um milhão de casas. Em menor escala, países europeus como a Alemanha, Polônia e República Checa também sofreram graves inundações.Enquanto isso, as temperaturas mundiais nos últimos meses estiveram em seus níveis mais elevados em registros que remontam a 130 anos. A capa gelada do mar Ártico atingiu seu mais baixo nível médio registrado num mês de junho em todos os tempos. Na Groenlândia destacaram-se dois enormes pedaços de gelo em julho e agosto.
           Todo clima é influenciado por energia, e o sol, em última instância, fornece essa energia. Mas a maior mudança na conta corrente energética terrestre deve-se, de longe, à acumulação, na atmosfera, de gases causadores do efeito de estufa, que limitam a transmissão de calor para o espaço. Devido às emissões de combustíveis fósseis, há hoje um terço a mais de dióxido de carbono na atmosfera do que em qualquer momento há pelo menos um milhão de anos, como revelou a perfuração da mais recente amostra de gelo na Antártida.
           As mudanças no balanço energético do planeta causadas por variações solares são pelo menos dez vezes menor, em comparação. E elas vão na direção errada: nos últimos anos, o sol tem estado mais fraco desde que as mensurações por satélites começaram em 1970. Assim, quando eventos climáticos extremos sem precedentes ocorrem, o principal suspeito é, naturalmente, a maior mudança na atmosfera ocorrida no curso dos últimos cem anos - que foi causada por emissões humanas.
          O fato de ondas de calor como a registrada na Rússia se tornarem mais frequentes e extremas num mundo mais quente é fácil de compreender. A ocorrência de chuvas extremamente fortes também se tornou mais frequente e intensa em um clima mais quente, devido a outro simples fato da física: ar quente pode reter mais umidade. Para cada grau Celsius de aquecimento, 7% mais água fica disponível para despencar de massas de ar saturado. O risco de secas também aumenta com o aquecimento - mesmo onde a chuva não diminui, maior evaporação seca o solo.
         O efeito do dióxido de carbono também pode alterar os padrões dominantes da circulação atmosférica, o que exacerba extremos de calor, secas ou chuvas em algumas regiões, reduzindo-os em outras. O problema é que a redução nesses extremos aos quais já estamos bem adaptados resulta em benefícios apenas modestos, ao passo que novos extremos aos quais não estamos adaptados podem ser devastadores, como mostram os recentes acontecimentos no Paquistão.
          Com ações débeis, como as prometidas pelos governos na conferência de Copenhague em dezembro do ano passado, estaremos a caminho de 3º ou 4º Celsius de aquecimento mundial. Isso provavelmente ultrapassará a capacidade de adaptação de muitas sociedades e ecossistemas. E se nada for feito, o planeta poderá até mesmo aquecer entre 5º e 7º Celsius até o final deste século - e ainda mais, depois. Marchar conscientemente nesse caminho seria insano.
         Devemos encarar os fatos: nossas emissões de gases estufa são, provavelmente, ao menos parcialmente culpadas por esse verão de extremos. Apegar-se à esperança de que tudo é fruto de acaso e natural parece ingênuo. Esperemos que este verão de extremos seja um grito de alerta de última hora a ser ouvido por autoridades decisórias, pelo mundo empresarial e pelos cidadãos.

Fonte: IHU - João Tavares Calixto Jùnior (Adaptado - Portal do Meio Ambiente)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Uso do "SAP" para o Combate à Desertificação no Semiárido.


       O Brasil passa a ter, a partir deste mês (08/2010), uma importante ferramenta para combater e controlar a desertificação na região do semiárido. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, assinaram um acordo que trata da elaboração do Sistema de Alerta Precoce de Secas e Desertificação (SAP). A cerimônia foi na sede do Ibama, em Brasília, durante a II Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD).
      Com o SAP, o Governo Federal terá informações fidedignas que serão capazes de prever períodos de seca no semiárido brasileiro e, dessa forma, identificar exatamente os cenários atuais de vulnerabilidade resultantes do uso da terra, com ênfase nas questões da desertificação. Além disso, o sistema pode traçar situações futuras em decorrência das mudanças climáticas. "Esse monitoramento vai permitir que haja uma antecipação nas ações contra a desertificação, e não esperar acontecerem os problemas para depois agir", argumentou Izabella Teixeira.
      No primeiro ano do acordo será elaborado o banco de dados estatísticos e meteorológicos de sensoriamento por satélite, com informações que assegurem a observação dos danos em regiões afetadas e ampliem o conhecimento e avaliação dos efeitos da seca e desertificação. Isso permitirá o acompanhamento das consequências do aumento da temperatura global sobre a região do semiárido. Essas informações vão orientar a construção de políticas públicas integradas, em conjunto com a sociedade, para enfrentar a degradação das terras nas regiões mais secas do País.
      A ministra do Meio Ambiente fez uma ressalva em relação ao período de transição que o mundo está passando por causa das mudanças climáticas. "Estamos falando do uso sustentável dos recursos naturais, da conservação da biodiversidade, da conservação da vida. Com as ações desse novo acordo e com todas as decisões que o Governo Federal tem tomado, queremos chegar a um ponto: ter o menor dos prejuízos do prejuízo que inevitavelmente vai acontecer", afirmou Izabella Teixeira, referindo-se às incertezas climáticas.
      O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, frisou que o SAP vai apoiar a Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD) num momento em que o mundo está vivendo uma "tragédia anunciada" por causa dos efeitos das mudanças climáticas. "Com o sistema, vamos ampliar a qualidade das informações. Em particular, no Nordeste, onde há aumento da vulnerabilidade", citou Câmara, acrescentando que a falta de ação mundial, principalmente por parte de alguns países desenvolvidos, possibilitou a piora desse quadro.

Rogério Ippoliti (Icid + 18) - Adaptado

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nossa Flora em Chamas: Boqueirão de Lavras pactua com aumento de 85% dos focos de incêndio no Brasil.

      Pesquuisador Luiz Domingos de Luna em visita ao Boqueirão de Lavras - período antecedente aos incêndios . (Julho de 2010). 

      Ao se prolongar o período de estiagem (época das secas nas caatingas nordestinas), vê-se normalmente o hábito das queimadas em áreas agrícolas e florestais a se alastrar, agravando o problema que tende a crescer a cada dia, de Norte a Sul. Vê-se entretanto, grandes dificuldades de logística para a sua contenção. De acordo com relatório do Inpe, é a primeira vez, desde 2007, que se registra crescimento no número de focos de incêndio. Este número, acumula-se desde o dia 1.º de janeiro até ontem (15/08) e cresceu 85% em comparação ao mesmo período de 2009. O satélite NOAA-15, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou 25.999 focos de incêndio em todo o País. De janeiro a agosto de 2009 haviam sido registrados 14.019 focos.
      Em Lavras da Mangabeira, boa parte da vegetação caducifólia espinhosa intacta existente na Serra do Boqueirão está ardendo. O fato acontece de forma sazonal constante e é principalmente inflamado pela falta de fiscalização e controle na região. A ação de caçadores e dos moradores do entorno da Serra  ajudam  a dar início às queimadas descontroladas, que aliada às caracteríticas naturais do ambiente xeromórfico, facilmente são disseminadas. Não existe uma política de punição a infratores, trabalhos de educação ambiental (salvaguardando alguns projetos isolados em alguns educandários), ou mecanismos de prevenção e controle de focos de incêndio.

Presença do fogo: Rastro visível de destruição da biodiversidade

      A flora do boqueirão, por vegetar em condições geo-litológicas diferentes da parte mais baixa do municipio, apresenta peculiaridades que gritam por conservação. Espécies arbóreas que frequentam a lista do IBAMA das ameaçadas de extinção, se transformam lentamente em carvão em meio ao descaso e impunidade vigentes. São Mulungus, Aroeiras, Braúnas, Golçalos-Alves, Carobas que gritam por socorro e pedem urgência. A caatinga é o bioma mais negligenciado com relação à conservação de sua biodiversidade, e apenas 3% de seus domínios estão protegidos sob forma de Unidades de Conservação, sendo apenas 1,7% em Unidades de Proteção Integral. 
      O Boqueirão de Lavras, área de relevante beleza cênica, paisagística e ecológica, suplica por um olhar, por um abraço amigo que deixe transparecer respeito e gratidão, e atente ao fato da inigualável importância que o mesmo tem para Lavras da Mangabeira e o Estado do Ceará. Esquecido como está, sem haver sequer uma sombra de interesse em  transforma-lo em  Unidade de Conservação (nunca se pensou em abrir licitação para contratação de empresa especializada para esta função), o Boqueirão está padecendo, e sucumbirá num futuro não muito distante, diante de ações e omissões que o assemelham mais a um comentário besta no jornal de ontem, do que prontamente a um cartão postal bestial, de tamanha imponência e magnitude como o é.


Aspecto da Composição Florística da Serra do Boqueirão de Lavras (Antes e após incêndio) 














Imgens: João Tavares Calixto Júnior
Cortesia: Blog do Geopark Araripe (incêndio)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Lavras: Política Municipal de Educação Ambiental completa 1 ano (de esquecimento)!

      No dia 03 de junho de 2009 foi promulgada na Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira o projeto de Lei nº 012/2009 que insituiu a política de Educação Ambiental no municipio de Lavras da Mangabeira e outras providências. O texto foi colocado em apreciação e posteriormente aprovado pelos vereadores de forma unânime. Seria este um passo importantíssimo para uma maior valorização do Meio Ambiente na Terra de São Vicente Ferrer. O projeto de autoria do vereador Nilton Alves de Queiroz trouxe à tona uma importante ferramenta à educação e ao meio ambiente do município: A implantação da disciplina de educação ambiental no currículo da rede pulibca municipal de ensino, além de outros pontos. Depois de feitas as discussões sobre o tema no próprio paço municipal e sugeridas modificações e incrementações ao projeto, a Lei foi criada e divulgada aos lavrenses perante os meios de comunicação, a exemplo a Rádio Boqueirão FM.  Um passo importante para uma real valorização do que temos de mais precioso: o futuro dos nossos jovens.
      A problemática está na ação (ou omissão) dos que realmente deveriam dar execução ao projeto (PODER EXECUTIVO), já que a parte primordial já tinha sido feita pelo Legislativo (A LEGISLAÇÃO). Na teoria seria tudo muito bonito, o legislativo legislando (fazendo a lei) e o executivo executando-a. Acontece que até agora nada foi feito pela atual gestão municipal que virou as costas para os problemas ambientais do município.
      Se já não bastasse todo o imbróglio vivido pela educação municipal (INGERÊNCIA ADMINISTRATIVA, ATRASO NO PAGAMENTO AOS PROFESSORES E MOTORISTAS DO TRANSPORTE ESCOLAR, DISCUMPRIMENTO DA LEI DO PISO, DESVALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO, INOPERÂNCIA DE PCC, IRREGULARIDADES NA MERENDA ESCOLAR, FECHAMENTO DE ESCOLAS NA ZONA RURAL, ENTRE OUTROS), temos que conviver agora com todo esse descaso para com o meio ambiente.
      Não cabe neste momento ao autor deste blog sugerir ações a serem tomadas, o mais oportuno é, entretanto, esperar por dias melhores.. Pedir a Deus que ilumine a cabeça dos eleitores nestas próximas eleições e nas que se seguem, para que escolham representantes que não nos façam vergonha ou pelo menos que não riam tanto, e de forma tão escrachada da nossa boa vontade.