quinta-feira, 28 de março de 2013

CÍCERO HENRIQUE BRASILEIRO: FILHO DE AURORA, PAI DE BAIXIO.

Por: João Tavares Calixto Júnior.
Cícero Henrique Brasileiro
 
     Nasceu Cícero Henrique Brasileiro no sítio Malhada Funda em Aurora aos 28 de novembro de 1896. Conforme o que consta em seu assento de batismo, registrado pelo Pe. Vicente Pinto Teixeira aos 28 de fevereiro de 1897 no Livro da Paróquia do Menino Deus de Aurora (Livro 1888-1897, pág. 128), era filho legítimo de Joaquim Henrique d'Oliveira e Maria Esperança da Trindade. Foram seus padrinhos, seu tio paterno José Joaquim Brasileiro e sua esposa, Maria Horinda da Conceição.
     Recebeu as primeiras letras com professores particulares em sua terra natal, tendo ido fixar residência em 1921 no povoado de Alagoinha (hoje Ipaumirim), de onde migrou ao povoado de Baixio, em 1923, onde instalou Indústria de algodão.
     Casou-se com Raimunda Lima Brasileiro, com quem teve quatro filhos: Dr. Líbio Lima Brasileiro (Dentista, assassinado em Baixio em virtude de divergências políticas), Hugo Lima Brasileiro, Líbia Lima Brasileiro e Ivone Lima Brasileiro.
     Aos 17 de junho de 1935 toma posse como Prefeito Municipal da Vila do Baixio, por ato de nomeação do Interventor Menezes Pimentel, tendo sido eleito à mesma, nas eleições de março de 1934. Atentemos ao que registra-se no documento de posse:
     "Aos dezessete dias do mês de junho de mil novecentos e trinta e cinco, nesta Vila de Baixio, Estado do Ceará, no Paço da Prefeitura Municipal, onde pelas treze horas se encontravam o cidadão Joaquim Leite Ribeiro, Prefeito anterior, Dr. Genésio Lustosa Cabral, Juiz Municipal, o Cel. João Augusto, Prefeito Municipal de Lavras, diversas pessoas gradas do lugar e o abaixo assinado, secretário da prefeitura, aí compareceu o Coronel Cícero Brasileiro, nomeado Prefeito deste Município por Ato de 29 do mês próximo findo, do Exmo. Sr. Dr. Governador Constitucional do Estado o qual exibiu o seu título de nomeação e tomou posse do cargo. Para constar, eu, Vicente Brasileiro, secretário da prefeitura, lavrei a presente em que assinam o prefeito anterior, o empossado e demais presentes".
     Em 26 de novembro de 1937 foi novamente nomeado Prefeito de Baixio, permanecendo até 7 de abril de 1938. Aos 22 de maio seguinte, foi lavrado o título de sua nomeação para provimento do cargo de tabelião do termo de Baixio. Posteriormente, em 9 de janeiro de 1946, foi nomeado Tabelião Único do termo de Baixio, comarca de Icó. Elegeu-se Prefeito de Baixo para o período de 1959-1963, e vice-prefeito nas eleições de 1982 (CALIXTO JÚNIOR, João Tavares. Venda Grande d'Aurora. Fortaleza, 2012, p. 268).
     Cícero Brasileiro construiu no município de Baixio, o antigo prédio da prefeitura municipal, em 1936, e o prédio da "Mesa de Renda" ou coletoria estadual. O primeiro, lamentavelmente, destruído em dias posteriores. Cícero liderou no município, a fundação do Partido Republicano Progressista, visando às eleições municipais de 29 de março de 1936. (GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Umari, Baixio, Ipaumirim – Subsídios para a História Política. Fortaleza, 1997. p. 62-66).
     Aposentando-se como Tabelião, cargo que desempenhou por muito tempo, foi batizado em sua homenagem o prédio da Prefeitura do Município de Baixio como Centro Administrativo Cícero Henrique Brasileiro, localizado no Centro da cidade.


Referências Bibliográficas:
 
CALIXTO JÚNIOR, João Tavares. Venda Grande d'Aurora. Fortaleza, Expressão Gráfica e Editora, 2012.
GONÇALVES, Rejane Monteiro Augusto. Umari, Baixio, Ipaumirim – Subsídios para a História Política. Fortaleza, 1997.

 

sábado, 9 de março de 2013

Notas à História Política de Lavras: Divergências no Período Oitocentista nas Páginas de "O Araripe".

Por: João Tavares Calixto Júnior.

Ildefonso Correia Lima

   O Jornalismo no interior da Província do Ceará surgiu com a publicação na metade do decênio de 1850, do impresso O Araripe (1855-1864), jornal de cunho liberal de grande notoriedade, redigido e publicado por João Brígido dos Santos, político e jornalista cratense. Segundo Nobre (2006), é considerado até hoje, uma das maiores expressões da referida atividade no Brasil, superando qualquer outro jornal cearense.
     Através das páginas de O Araripe, Brígido escreveu e publicou também documentos e apontamentos sobre fatos do passado, artigos sobre os homens e episódios ocorridos na zona meridional do Ceará (ALVES, 2010). Dentre estes fatos, alguns passados em Lavras da Mangabeira, à época, Vila das Lavras, mentoreada já pelo clã dos Augustos, hegemonia que perdurou por cerca de um século. 
     Ressaltemos aqui, sem prolegômenos, o que notícia o periódico cratense em 1857 (nº 37, p. 3), acerca de persistente querela entre o então Padre Luis Antônio Marques da Silva Guimarães (Padre Luis do Calabaço), e o então Delegado de Polícia local, Ildefonso Correia Lima, em nota publicada a pedido do referido sacerdote, endereçada ao Presidente da Província:
     "Não podendo eu soffrer a persiguição atrós, que me fez o delegado dessa Villa, Ildefonso Correia Lima, vou queixar-me a V. Exc. e o motivo passo a expôr. Não merecendo eu as simpathias desta authoridade, pelo simples facto de pertencer á opposição, tem este persiguido meos moradores com recrutamento, mandando escoltar os casados, que vivem em vida marital, os filhos unicos de lavradores, que tem isenção da lei, só com o fim de saciar odio, que contra mim tem, e muito mais aquelles que commigo votarão, dando isto lugar, Exm. Sr., a que andem foragidos pelo matto os meos trabalhadores, soffrendo assim a agricultura. V. Exc. conhece mui bem quanto esta industria tem deminuido com a falta dos escravos, e que indispensavelmente se fasem precisos braços livres, principalmente a mim, que trabalho em quatro sitios differentes, em cada um dos quaes já tenho engenho de moer canas, esforço este bastante pesado; e vivendo eu Exm. Sr. com meos moradores persiguidos da policia, que lucro tirarei e elles para manterem suas familias e pagar de disimo 300$ a 400$ rs. annuaes?"
     "Exm. Sr. a vida sedentaria, em que era occupado, como vigario desta freguesia, me tendo feito adquerir a molestia Diabetis, fui aconselhado pelos medicos a que viesse para o campo, afim de transpirar com o trabalho, e com licença do Rd. Visitador me acho no sítio Calabaça legoa e meia da Villa, onde me é preciso ter por meos moradores homens, que usão do trabalho ex vi de que tenho nelle um engenho alem dos tres outros ja mencionados, e nestas circustancias a policia só acha a elles para seos desabafos, mandando um individuo de nome João Francisco, meo desafecto cercar as suas casas à meia noite abrindo portas e entrando pelo interior das casas allumiando-as com fachos pelos quartos e assoalhos, que os camponeses costumão faser em suas cabanas para deposito de seos legumes: não respeitando mesmo as famílias em seos agasalhos, como as senhoras de casa e suas filhinhas môças. Entretanto a nada se move essa authoridade não respeitando nem a lei, que prohibe correr casas à noite, nem o sagrado das famílias."
     "Por tanto Exm. Sr., imploro a V. Exc. dê remedio a essas persiguições com que desde março não cessão de me faser todo o mal. Tudo provarei, se necessario for. Deos Guarde &. Engenho Calabaça, 26 de Janeiro de 1857. Illm. e Exm. Sr. Dr. Francisco Chavier Paes Barreto, Presidente da Província. O Vigário Luis Antônio Marques da Silva Guimarães.        
     
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     Frisemos, por ser relevante, a exposição do motivo exposto pelo Sacerdote Paraibano de residir no sítio Calabaço: Indicação médica de se "exercitar na roça", por ser vítima de diabetes. É verdadeiro, porém, que o levita residiu por muito tempo em um sobrado ainda hoje existente próximo à confluência do Riacho das Emas com o Riacho do Rosário, nas férteis terras de São Vicente das Lavras, onde desfrutou de vita marital, e foi pai de cinco filhos, o que consta nos autos de seu testamento. Poderia ter sido este, portanto, um motivo mais "intenso" de se morar no Calabaço e não na Casa Paroquial.
     Faziam-se evidentes as pendengas políticas entre o Padre e o então delegado de Lavras, Ildefonso Correia Lima, um colecionador de adversários, esposo da lendária Fideralina Augusto, o que podia ser constatado em outros noticiários da época. Admitindo-se o predito, atentemos ao que comenta O Araripe em correspondência redigida por "O Lavrense" de 12 de janeiro de 1857, enviada ao Redator do Jornal caririense :
     "Me é preciso diser lhe que não tinha vistas algumas de occupar as paginas de seu conceituado jornal, e a rasão puderosa e forte para assim o faser é minha fraca e limitada intelligencia; porem, sr. Redactor, chegando me ás mãos uma folha do Pedro 2º cujo numero ignoro (que um meu amigo fes me o especial favor de mandar me) vi um (ilegível) em título de correspondencia sem nenhum estilo, sem encadiamento de ideias, com erros de Retorica, Grammatica, e Orthografia; em fim obra que mostra evidentemente quem seja o seu dono - sendo a sua epigrafe um dos membros da família Favella. Antes pois de entrar na analyse dos factos da correspondencia desse Favella é da mais estreita precisão declarar ao publico sensato quem foi este Favella e quem é a sua decendencia. Esse herói foi um pobre matuto, q' morava no Riacho do Machado, alli vivia lutando com a fome com a miseria, e com a nudez, o Major João Carlos Augusto compadecendo-se delle chamou-o para esta Villa e obteve para elle o lugar de Delegado, o qual não soube desempenhar, porque a sua vida publica foi uma serie de corrupção não interrompida."
     "Pela morte desse Delegado succedeu seu Sobrinho Ildefonso Correia Lima: este matuto não só aqui como na Cidade de Icó serve de espetaculo publico pelos seus continuados desfrutes, é um individuo bastante pobre, e dis que está muito bem, que tem muitos contos de reis, e com toda esta fortuna colossal apenas toma no Icó, a credito, um conto e poucos mil reis. Se elle não tivesse casado com uma filha do Major João Carlos estaria redusido a sua triste condição de 1848 - 1849, que era vender nos sambas garrafinhas de aguardente enfiadas estas na ponta de uma tualha. Chega a tal o estado de sua desmoralisação neste lugar, que um negro desta Villa de nome José Branco contou-o na folha chamando-o mentiroso. É pois a um homem destes que o Governo encarrega de grande puder de prender e processar. Temos mais aqui um membro da família Favella, o qual é Sub-delegado , e muitissimo conhecido pelo Vicente Burundanga, este espoleta tem sido muitas veses sensurado no Cearense e as qualidades que o cercam são a crapula, a devassidão, a corrupção, a trapaça, a manha e a velhacaria. Agora passo a responder os factos da correspondencia desse Favella. Diz elle que nesta Villa tem quatro chimangos sem familia, sem prestigios, e sem fortuna, um deste é o Tenente Coronel José Joaquim da Silva Brasil, cidadão muitissimo respeitável, bem conhecido nesta Província nascido no Icó, e filho legítimo de paes ilustres e que tem prestado relevantes serviços no estado nas commoções políticas, como fosse em 17, 21, e 32, e tem occupado alem disto os empregos mais vantajosos no município em que mora, cujos empregos tem sabido desempenhar com toda honradêz, e dignidade e bastante actividade; o segundo de que trata-se, é o ajudante  José de Sousa Mattos, este benemerito cidadão é muitissimo conhecido nesta província pelos seus precedentes honrosos, dedicou-se a carreira militar, prestou bastantes serviços a Patria e ao Estado. O terceiro é o Vigario collado desta Freguesia Luis Antônio Marques da Silva Guimarães, homem este bastante rico e de uma posição elevada, a sua família é uma das primeiras da província da Parahyba, os seus manos o Vigário José Antônio, e o Dr. Açanã, passão por uma das illustrações daquella província. O quarto que menciona-se que é filho do Rio do Peixe e que é bem conhecido pela sua família do Umary, esta pessoa responde-vos que não o enxerga, e nem o ouve, e que só se lembra deste membro Favella, assim como lembra dos porcos quando os incontra na rua; que para não o imporcalhar da-lhe com os saltos dos botins nas ventas. São estes infelises e manivellas que tem a coragem de quererem menoscabar a reputação de homens que tem sabido adquirir em tempos e epochas em que o espírito da corrupção se tem mais estendido. Não quero ser mais infadonho aos meus leitores e por isto quero findar esta no firme propósito de não dar o menor cavaco a estes desgraçados, o que se agora faço foi em satisfação ao publico, pois acosto-me a maxima do Marquês de Maricá, - quem disputa com a canalha fica a nível  com ella. Tenha pois a bondade de inserir estas linhas que são de seu constante leitor. O Lavrense."
     Enfatizemos o que comenta O Cearense de 4 de abril de 1856 (p. 4), no quadro Notícias da Província, acerca do famigerado Padre Luis Antônio Marques, figura emblemática dessa fase provinciana regional: “O vigário de Lavras o revd. Luis Antônio Marques da Silva Guimarães acaba de ser insultado em sua própria matriz por uma sedição promovida pela autoridades policiais, tirando-lhe a chave da matriz, e passando a outro sacerdote, a quem investirão de jurisdição paroquial” (CALIXTO JÚNIOR, 2012).
     Como visto, eram frequentes as acusações entre divergentes políticos nas edições dos jornais regionais, sobretudo no liberal O Araripe. Para Alves (2010), tornou-se perceptível em vários número de O Araripe que há sempre o cuidado em rebater as ofensas feitas pelos conservadores através da Gazeta do Cariri, bem como o de publicar em seus números, insultos e comentários sobre os artigos publicados pelos adversários. Dessa forma, os jornais haviam se tornado espaços em que os políticos seus projetos, além de acusarem-se mutuamente, expondo naquele meio suas respectivas representações acerca de assuntos variados.



Referências Bibliográficas:
ALVES, Maria Daniele. Desejos de civilização. representações liberais no jornal O Araripe 1855-1864. Dissertação (Mestrado em História e Cultura). Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2010.
CALIXTO JÚNIOR, João Tavares. Venda Grande d'Aurora. Expressão Gráfica e Editora, Fortaleza, 2012.
NOBRE, Geraldo. Introdução à História do Jornalismo Cearense. Edições NUDOC. Departamento de História - UFC. Fortaleza, 2006.