quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Escola da Malandragem - Bullying!!!



Luiz Domingos de Luna*


Com o fluxo normativo da interação social, com a frouxidão da ética como padrão a convivência dos seres humanos em sociedade, com as mutações sociais que ocorrem diariamente, novas agressões ao tecido sociológico vão aparecendo e fomentando a violência no seio da própria sociedade.
O Que no passado dos coronéis, era comum, a seu círculo de amizades, um bando de capachos, coiteiros e outros afins, perturbarem a ordem pública constituída para mostrar a sociedade o poder do coronelismo, praga que dizimou o progresso acentuado de nosso Pais.
A pratica de não tolerar a heterogenia social, infelizmente, sempre esteve presente na nossa história, outrossim, por um mecanismo desconhecido, fica bem fácil observar que grupos de vândalos a bailar na orla urbana de forma organizada a assediar moralmente os transeuntes, escolhem as pessoas para eles, talvez mais frágeis, pela ótica destes monstros e começam uma voz, solitária a colocar pecha e mais pechas à medida que vai aumentando o sadismo social, as vitimas do preconceito ou do ódio setorizado destes vândalos, praticamente indefesos não sabem nem a quem recorrer, pois na maioria das vezes ficam em lugares de difícil acesso de visibilidade, e,quando as vitimas destes preconceituosos passam, é formado um coro sincronizado para aniquilar moralmente os cidadãos.
Creio ser oportuno aos autoridades constituídas, prestarem mais atenção a esta prática que começa, ainda de forma embrionária, a nascer e a ganhar corpo no espaço social, pois se nada for feito, com certeza em breves dias teremos uma Escola do Sadismo social implantada dentro da própria sociedade para intimidar, violar e descaracterizar a civilidade, ao convívio interativo e harmônico a que todos nós aspiramos.
(*) Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora – Ceará.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Padre Alzir Sampaio (1901 - 1971)

Por: João Tavares Calixto Júnior.


Padre Alzir Sampaio (Na primeira fila, da esquerda para a direita) Acervo: Sala de História Eclesiástica do Ceará.



     Nascido no ano 1901 em Barbalha, no Cariri cearense, foi Alzir Ferreira Sampaio, pároco em Lavras da Mangabeira por 33 anos, sendo, portanto, o segundo a mais tempo passar diante à Paróquia de São Vicente Ferrer. 
     Integrante do clã dos Sampaios, importante família de régulos caririenses, toma posse como vigário de Lavras em 8 de maio de 1938, iniciando assim, uma jornada paroquial que o faria ser um dos maiores bem feitores de toda a história do município lavrense.  
     Adquire o prédio da casa paroquial, logo providenciando reforma de sua estrutura física. Constrói para a igreja o seu patamar e as calçadas com degraus que o circundam, além de terminar a construção da  mesma Igreja matriz que o recebera sem fecho integral.
    Instaura, nos anos 1940, o Círculo dos Trabalhadores Cristãos, constrói a gruta de Nossa Senhora de Lourdes e reforma a Capela de Nossa Senhora do Rosário, em Quitaiús, inexistente esta nos dias atuais.          
     Cria, em 1952, o Patronato São Vicente Ferrer, atual Colégio São Vicente, tomadas as rédeas, durante muito tempo, por sua irmã Stela Sampaio, contribuidora idem, de significância vultuosa para a educação do município. 
     Participa o Padre Alzir, como professor da primeira turma do Colégio de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira, em 1954, lecionando a disciplina de ensino religioso. O mesmo, conquanto, negou-se a efetivar-se como funcionário federal, quando acontecido isto com os demais colegas em 1962.
     Funda a Associação de Proteção e Assistência à Maternidade e à Infância, com ambulatório da paróquia, ajudando a socorrer muitos dos lavrenses em reais necessidades por debilidade. Esta associação, no entanto, denomina-se, a posteriori, Hospital São Vicente Ferrer, com o qual a população nos dias atuais contam.
     Conhecido pelo respeito aos dogmas da Igreja e apego à missão evangelizadora, foi Padre Alzir, em Lavras da Mangabeira, exemplo de atuação filantrópica e desenvolvimentista que dificilmente se vê por estas datas atuais.
     Veio a falecer no dia 5 de setembro de 1971 deixando saudades aos paroquianos que continuam ainda, por gerações que se seguem, homenageando-o ao batizar seus filhos como "Alzir", o Padre do amparo à pobreza de Lavras da Mangabeira.





segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Contribuição à História Natural de Lavras, CE

Por: João Tavares Calixto Júnior.   




    O município de Lavras da Mangabeira, centro sul cearense, já conhecido por de tão longe fazer-se presente na configuração sócio-política do Nordeste brasileiro, seja pelo escopo de sua criação, seja pela robustez histórica de seus régulos, apresenta, conquanto, uma gama de narrativas na orbe da história natural.


O Naturalista João da Silva Feijó (1800)

     A primeira manifestação literária sobre o lugar, tristonha vilela parva ainda, no entanto, data de 1800. Por volta do segundo semestre, atravessava, indo à zona do Cariri, a comitiva do governador da então capitania cearense, Bernardo Manuel de Vasconcelos. Com ele, o naturalista João da Silva Feijó (1760 - 1824), homem que, através de decreto da Rainha Dona Maria, assinado pelo regente Dom João de Bragança (01 de fevereiro de 1799), recebeu patente no posto de sargento-mor das milícias da capitania do Ceará, sendo incumbido de vários estudos e exploração no campo das ciências naturais. A comitiva, no lugar Mangabeira, inspeciona as já antigas lavras de ouro, que demonstraram ser pouco produtivas, adequando-se porém, ao emprego da faiscação e não por conta da Real Fazenda, obrigando-se possíveis interessados a pagar o quinto e sendo submetidos ao controle por denúncias públicas, dada a facilidade de contrabando possibilitada pela localização das lavras. Os trabalhos eram prejudicados pela escassez de água em detrimento da seca.

     A decadência aurífera que se aferiu no povoado de São Vicente se deu, muito provavelmente, em conseqüência do mal aproveitamento, acontecimento idem noutras partes do país, como Minas Gerais.

     Sabe-se, contudo, que o ouro brasileiro é, em sua maior parte, de aluvião, ou seja, depositado, ao longo dos milênios, nos leitos dos rios e nas margens próximas, pelas águas que atacaram rochas matrizes. Daí a pequena concentração e o rápido esgotamento das jazidas, a mais importante causa da decadência da mineração. Raras e pobres, as rochas matrizes não puderam ser exploradas no século XVII pela simples razão de que eram deficientes os recursos e os conheci­mentos técnicos dos mineradores.
     
     Feijó cita ainda jazidas de ferro e amianto que os acha excelentes e escreve uma memória sobre as lavras de ouro da mangabeira, enviada de Fortaleza, em anexo a carta do dia 11 de dezembro de 1800 para Dom Rodrigo de Souza Coutinho, Secretário do Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar. Pode este anexo à carta, resguardadas às devidas proporções literárias, ser equiparado em importância histórica, à celebre Carta de Pero Vaz de Caminha que enviada a Portugal, revelava pioneiramente o "achamento" do Brasil em prosa poética ao Rei. Lavras, era portanto, não especificamente "achada", mas registrada sob as impressões do naturalista que redigiu ao seu "El-Rei", fragmentos da conceituação natural do lugarejo.

     Necessário se faz outrossim, salientar publicação do Barão de Studart de 1912, intitulada: "Memoria sobre as Antigas Lavras do Oiro da Cappitania do Siará". O próprio vem a achar que este escrito parece ser o citado pelo Professor Caminhoá (Membro do Conselho do Imperador Pedro II), possivelmente, o original com outro nome: "Memória sobre as Minas de Ouro do Ceará." No texto, o médico e historiador reforça o argumento histórico da implantação da exploração do ouro: "... são antigas escavações de minas de ouro, que há 40 ou 50 anos se abriram nesta capitania, no Distrito da Vila do Icó, por ordem ministerial, e que por motivos de fraudes, ou talvez por vaxações, foram sustadas e proibidas, passando-se poucos anos..." .Cita a localização das lavras (..."dez léguas ao Sudoeste da Vila do Icó, nuns montes áridos, à margem esquerda do rio chamado Salgado..."). Relata a existência de povoação: "... uma pequena Povoação ou Arraial, denominado de S. Vicente...". 

George Gardner (1838)

     Grande contribuinte à história natural brasileira foi George Gardner (1812-1849), naturalista escocês, percorredor de áreas ainda não exploradas até então por outros europeus, como Spix e Von Martius. Gardner adentra os sertões da província do Ceará, indo à parte austral saindo de Aracati, passando por Russas (antes São Bernardo), Icó e Lavras da Mangabeira (constante de umas 80 a 100 casas na época), antes de chegar ao aprazível Cariri.

     Cita em suas obras literárias, deixadas como prova de suas passagens pela região seca da província cearense, a mudança da vegetação a partir do Icó, prosseguindo por Lavras, até apartar-se fisiograficamente na região do Araripe, onde as carnaúbas dariam lugar aos pés de macaíba. Cita-se frustrado pelo fato de estar seca a vegetação herbácea no período de sua passagem, embora, somente em Crato, quando passou cerca de cinco meses, tenha herborizado cerca de 600 plantas. Na região que compreende Icó e Crato, provavelmente região de Lavras, coleta e descreve uma nova espécie: Mikania variabilis, uma Asteraceae herbácea, comumente encontrada.


A Comissão Científica de Exploração (1859)

     Contudo, se faz de importância suprema, a consideração do texto de Renato Braga de 1962 sobre a História da Comissão Científica de Exploração. Nascido no Acre, mas filho de cearense de Acopiara, Raimundo Renato de Almeida Braga consegue destacar com imensa riqueza de detalhes, o trabalho da comissão científica designada pelo Imperador Pedro II em 1856. O autor cita, inclusive, a passagem e a estada da Comissão na Villa de São Vicente das Lavras da Mangabeira por 12 dias, onde os mesmos elucidaram efantasticamente o Boqueirão e a gruta pela primeira vez na história.

Jules Jean Revy (1880)

     Visitou Lavras em setembro de 1880 para fazer estudos sobre o melhor local para a construção de um reservatório de água, sendo fruto desses estudos o trabalho, que apresentou sob o título: Relatório da Comissão de Açudes sobre o Reservatório de Lavras, apresentado ao Ministro da Agricultura, Manoel Buarque de Macêdo, 1881.

    Vários planos do ponto por ele proposto foram contrariados pelo Engenheiro P. O’Meara, com relação, por exemplo, ao local escolhido para represa e a forma que se lhe devia dar, opinando Revy pela forma circular e O’Meara pela reta através do rio, ou curva rio acima.

Patrick O’Meara (1883)

    Esteve em Lavras em setembro de 1893 com o objetivo de realizar estudos sobre a viabilidade da construção do reservatório do Boqueirão. Segundo ele, cheio o reservatório, as águas passariam a 3 metros acima da torre da matriz de São Vicente Ferrer, e ocupariam um espaço superior a 34 km. Como resultado de importantes investigações acerca das condições ambientais em Lavras, ficou o trabalho: Irrigation of the Jaguaribe Valley, que inédito permaneceu por muitos anos e posteriormente, foi vendido por sua viúva ao governo por 2 contos de réis.



continua...

     

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Aurora - Artistas Ilustres

Por: João Tavares Calixto Júnior.

  
     Berço de respeitável penca de personas gratas à cultura cearense, o município de Aurora, fronteiriço das regiões centro sul e cariri do estado, conta honrosamente em seus anais artísticos, uma história gloriosa.        
    Aproximando-se a data em que se comemora a alforria enquanto município, a terra que se ensopa d'águas doces do salgado, respira hoje um misto de ares culturais merencórios e coetâneos.  
     Saudosismo se vê, em exemplo, quando se dita lista de artistas brotantes de seus rincões, que não mais conosco estão, ainda que a obra de contribuição marcante entre os vivos o esteja. Na contemporaneidade, é Aurora mãe de lendas vivas. Das que se figuram em seus meios, entre as maiores do país! 
     Este oxigênio de mistura temporal-cultural que se respira é motivo de orgulhamento para os filhos da terra. Num momento de expansão da dimensão de apoio à cultura na qual se encontra o lugar, vê-se na orbe dos famosos, discretos aurorenses, que se destacam sem perseguir notoriedade. Exemplo este é Geraldo Simplício, o Nêgo. Artista plástico renomado, conhecido por ser pai de técnica pioneira em esculpir rochedos. Nascido em Aurora a 24 de fevereiro de 1943, Simplício integra um clã de artistas, sendo vários com contribuição autóctone no município. Cizim e Zé Simplício não me deixam errar. O aurorense que há 40 anos vive na cidade serrana de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, tem em sua residência - Km 53 da estrada Teresópolis-Nova Friburgo - um jardim com esculturas gigantescas talhadas em barrancos que se encobertam com musgos nativos, dando impressões únicas ao trabalho. 
     O menino pobre que saíra de Aurora para o mundo ganhar, recebera antes, do saudoso Padre Luna, elementar alcunha: Nêgo. E assim ficou batizado, antes mesmo de ingressar no monsteiro de São Bento, onde seria reconhecido como escultor de talento.
     Fez Geraldo Simplício em 1966, a sua primeira exposição ainda em Crato, no Ceará, e antes de mudar-se para o Rio de Janeiro. Expôs ainda na capital cearense em 1967 e em 1968, foi a vez da capitania que deu mais lucro aperceber as obras do futuro grande artista a se criar, e em dupla ocasião, na capital pernambucana, viu-se exposição de Nêgo no IBEU e na EMPETUR.
     É Geraldo hoje dono de um jardim considerado único no mundo, com trabalhos conhecidos por gente das partes distantes do planeta, que sabem através da existência do Nêgo, a importância do município de Aurora, no Ceará, como importador de excepcional talento singular.

Família - Jardim do Nêgo
Nêgo e escultura - Jardim do Nêgo

     Aurorense outro que grande renome e fama trajava, atendia por Aldemir Martins. Deixou triste o país em 2006, a 6 de janeiro, por receber pedido de morar no céu, e aceitar. Em Ingazeiras, distrito aurorense, nascia que por coincidência do destino, a 8 de novembro do ano da maior manifestação artística da história tupiniquim - 1922 - um artista pronto, e com polivalência. Filho de Miguel de Souza Martins e Raimunda Costa Martins, foi Aldemir viver com a família no município de Pacatuba, aos 11 de idade. No Colégio Militar em Fortaleza, já se destaca em 1934, por habilidades com desenhos. Ganha seu primeiro prêmio em concurso promovido ainda no exército, quando serviu de 1941 a 1945. Trabalha no início da década de 40 como ilustrador em jornais e revistas, e juntamente com outros artistas, funda o SCAP (Grupo Artys da Sociedade Cearense de Artistas Plásticos). 
     Para São Paulo, muda-se em 1946, onde se fixara de vez, apesar de viver em Roma entre 1960-1961. Começa-se então, o amadurecimento do estilo que lhe seria peculiar por sempre: A retratação do Nordeste e a transgressão. Ora com lirismo, ora com dramatização e aspereza, o artista transcreve o "Norte" e o "ser brasileiro" e participa de vários salões pelo Brasil, angariando prêmios e derramando voga. Notória era já a obra do rapaz Nordestino, que trazia a Nordestindade à tona brilhantemente. Foi considerado por muitos como um dos maiores artistas plásticos brasileiros da história, e o maior desenhista do mundo (Bienal de Veneza - 1956), até parar, em 2006, deixando este lado da existência na capital argentina.


Aldemir Martins
Aldemir Martins - Cangaceiro (1988)



O Conflito de Lavras em 1922

Joaryvar "Imortal" Macêdo


     Os dias que marcaram a transição de 1921 para 1922 carrearam para a então vila de Aurora momentos de agitação e pavor, em virtude de reiterados choques envolvendo a polícia, desafetos e homens de Isaías Arruda de Figueiredo, cuja liderança política começava a firmar-se, mas já despontando ele com um séquito de capangas.
     Aos 6 de janeiro do citado ano de 1922, os embates tornaram-se mais violentos. Famílias abandonaram a localidade, fugindo, espavoridas aos repetidos tiroteios no meio das ruas e até as casas residenciais.
     Todavia, um dos mais deploráveis conflitos e de mais larga repercussão em todo o Estado e além dele, notadamente porquanto redundaria no assassinato do prestigioso coronel Gustavo Augusto Lima, um ano depois, ocorreria em Lavras da Mangabeira, aos 9 de janeiro daquele agitado 1922.
     Já nos são bastante conhecidas as antigas rivalidades no seio da família Augusto de Lavras da Mangabeira, ou, mais precisamente, entre os descendentes das irmãs, dona Fideralina Augusto Lima e Dulcéria Augusto de Oliveira - dona Pombinha, protagonistas alguns deles do lutuoso episódio, provocado, no momento, por um filho do coronel Gustavo, Gentil Augusto Lima, que entretanto, se afastou do campo da pugna.
     Naquela data, em pleno centro da cidade, exaltaram-se em luta armada primos e cunhados entre si, com exceção do cabra Andrelino Jacó, partícipe da contenda. De uma das facções beligerantes, saiu baleado Raimundo Augusto Lima, então prefeito municipal, filho do coronel Gustavo e neto de dona Fideralina e de dona Pombinha. Da outra, perderam a vida, além do major Eusébio Tomás de Aquino, sobrinho das sobreditas dona Fideralina e dona Pombinha, e os irmãos Simplício Augusto Leite e José Leite Filho, Zezinho, netos de dona Pombinha, genro o último, Zezinho, do coronel Gustavo (*).
     A notícia da tragédia, que abalara, profundamente, a população lavrense e da região, circulou pela imprensa livre de Fortaleza e do Rio de Janeiro. O estro popular também encarregou-se de divulgá-la, através de versos plangentes. Familiares dos três mortos da chacina de 1922 distribuíram, largamente m folheto contendo um ABC, cujas estrofes, a primeira e a última, ora se transcrevem:

Acabou-se José Leite,
a flor desta freguesia,
deixou pena a muta gente
pelas coisas que fazia.
Foi a nove de janeiro
às doze horas do dia.

Zombaram deste ABC,
todo ele feito por mim;
se tem alguma pessoa
que reclame ou ache ruim,
a derradeira desgraça
é se morar com mau vizim.

     Após a perda dos filhos Simplício e Zezinho, no conflito, o coronel José Leite de Oliveira, líder oposicionista e concunhado do coronel Gustavo Augusto Lima, em face do clima de insegurança em Lavras da Mangabeira, abandonou os haveres e negócios, transferindo-se para Juazeiro. Ali, ainda se tentou contra sua vida. Achando-se na sala de visitas de sua nova residência, atiraram nele. Correndo para o interior da casa, saiu ileso do atentado. Viveria ainda, por cinco anos, o sofrido coronel Zé Leite, vindo a expirar aos 3 de janeiro de 1927.
     No começo de abril de 1922, havia três meses, portanto, do conflito sangrento, na residência do bacharel Antônio de Alencar Araripe, no Crato, o coronel José Leite de Oliveira foi entrevistado por Gazeta do Cariri, relatando os pormenores do que o jornal chamou "a hecatombe de Lavras".



Transcrição do Livro: Império do Bacamarte
Joaryvar Macêdo, Casa de José de Alencar, UFC, 1990
p.197-199.
(*) MACÊDO, Joaryvar. Um Bravo Caririense. Crato, Empr. Gráfica Ltda., 1974
p.74-75.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Boqueirão e a Gruta: Origem dos primeiros relatos

Por: João Tavares Calixto Júnior.

A passagem da Comissão Científica de Exploração pela Vila de São Vicente de Lavras


   Acampamento da Comissão Científica de Exploração retratado por José Reis de Carvalho, naturalista e pintor oficial da expedição em 1859 (Acervo do Museu Histórico Nacional)


     Pôs-se a caminho, então, a célebre Comissão Científica de Exploração do Rio de Janeiro ao Siará, às 11 da manhã do dia 26 de janeiro de 1859 a bordo do vapor Tocantins, contratado pelo governo de Pedro II por 15 contos de réis. O maior grupo de intelectuais até então visitante das terras da província cearense, chega a 4 de fevereiro em Fortaleza, cidadela parva com cerca de 15 mil habitantes e 800 casas de tijolo. Ovacionando os científicos, como assim ficaram conhecidos, a multidão curiosa e o governo da época (João Silveira de Sousa era o presidente da província). A comissão, que no Ceará se fez presente por mais de dois anos, foi organizada em cinco seções e composta foi a priori, por Francisco Freire Allemão, encarregado da seção botânica, Guilherme Capanema (Geológica e Mineralógica), Manuel Ferreira Lagos (Zoológica), Giácomo Gabaglia (Astronômica e Geográfica) e Gonçalves Dias (Etnográfica e Narrativa da viagem).

     Era grandioso o tentame. Surreal, utópico, talvez. A maioria assim o achava, principalmente os populares, que tipicamente obedecendo aos costumes provincianos da época, comungavam com a ideia da loucura de se adentrar às matas interioranas quase que desconhecidas ainda. Os visitantes, porém, carregavam a crença dos conquistadores. Traziam a esperança e o entusiasmo na bagagem, objetivando trazer, ao final da expedição, boas novas aos que lhes investiram.

      Depois de seis meses na capital, partiu-se, na quinzena segunda de agosto, a comissão ao interior do Ceará. Era já a época de cresta, e a mata branca e seca fazia jus ao nome dado pelos tupis. Dividiu-se o conluio em três turmas: I - Seções Botânica e Zoológica; II - Seções Geológica e Etnográfica; e III: Seções Astronômica e Geográfica. Pactuou-se o reencontro em Crato, para assim, se refazerem os planos de continuidade da expedição, e ainda para merecido descanso, além de balanço dos resultados. Este evento aconteceu em janeiro de 1860 e contou menos com a presença de Gabaglia, que pela natureza dos trabalhos, não podia apressar-se.


A estada em Lavras da Mangabeira




     Durante a viagem, que edificara um pensamento intuitivo nos comissionários como um verdadeiro sonho áureo-argênteo, se fez a realidade crua a fincar sua presença perante os olhos dos grupais. Eram indícios pobres de ouro em alguns lugares, e quase nada em outros. O Ceará não tinha tanto do metal precioso quanto se iludidamente lhes era julgado.


   Este sonho, conquanto, pode vir a ser considerado como o embrião de toda uma genealogia folclórica fulgurada em invencionices sobre a gruta do Boqueirão de Lavras, resistentes ainda nos dias de hoje. Na época em que a expedição preparava-se na capital para adentrar ao interior, via-se a distribuição e compartilhamento do sonho que opulentou os sertões de jazidas inacabáveis. Essa crença na riqueza mineral séssil supostamente duradoura nessas terras, fez com que o imaginário popular se expandisse e estórias das mais vãs às mais persistentes, se encravaram e enraizaram por poder oferecer riqueza repentina aos que se aventuravam. Estórias como a do carneiro encantado de ouro, baixelas de prata, e sala de luxo atapetada existentes no interior da caverna, podem ser reflexos da semeadura desses tesouros ocultos levados ao interior como um anemocórico.

     Chega, portanto, a Comissão à Vila de São Vicente das Lavras da Mangabeira por volta do dia 21 de novembro de 1860, e vinda de Icó, arranchara-se no local por 12 dias. Durante este período, que se deu até 03 de dezembro, onde partiram em busca do Cariri, os doutores apontaram idiossincrasias. Resquícios foram observados, da época da exploração do ouro que, por carta régia de 12 de setembro de 1758, acabara com tal exploração, por ser já comprovadamente desvantajosa ao Estado e ao erário. "(...) pouco além da Vila de Lavras existem ainda as antigas escavações donde se tirava ouro, porém em pequena quantidade; posteriormente apareceram dois ingleses que formaram uma companhia e começaram a lavrar denovo, mas desapareceram repentinamente e a melhor mina que tinham descoberto foram as algibeiras dos acionaistas."

     Apontou-se o lugar como grande produtor de fumo (8000 arrobas/ano), mais notadamente, além de outras culturas. Voltando às idiossincrasias, a comissão chega ao Boqueirão. É este o momento em que pela primeira vez na história, se escreve, se estuda ou se requer do monumento natural, cunho científico. Trata-se do primeiro registro sobre o Boqueirão de Lavras. E sua gruta também. O Poeta Gonçalves Dias, alcandorado, assim descreve conjuntamente a passagem: "(...) demoramo-nos no Boqueirão, ponto notável por ter ali o Rio Salgado solapado um travessão de rocha silicosa, que corria perpendicular ao rio e servia de dique; com o tempo foram desabando aos poucos os fragmentos desagregados por numerosas fendas verticais com coisa de 120 palmos de altura; e em meia altura na direção das camadas desapegaram-se lascas, que pela decomposição eram esbroadas e despeadas no rio pelas águas infiltradas na rocha, do que resultou uma caverna que se vai estreitando para dentro com 300 palmos de profundidade; nos dois terços do seu comprimento, apagam-se as luzes; para poder penetrar até o fundo ascendeu-se uma fogueira com capim seco (...)"

    Contou-se ainda, sobre a gruta, que seria aproveitada em qualquer outro lugar para a cura de moléstias, pelo suor infalível que se fazia gotejar em quem nela penetrasse. Comentou-se sobre as miriadas de morcegos formando um tapete nas paredes e nos tetos da gruta...



Trechos extraídos de obra em elaboração (no prelo)
João Tavares Calixto Júnior



Bibliografia consultada:

Renato Braga. História da Comissão Científica da Exploração, Imprensa Universitária do Ceará, Fortaleza, 410p, 1962.



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

AURORA JUVENIL -SIM - REDE DE PEDOFILIA NUNCA!!!

Por Luiz Domingos de Luna*

Já, próximo ao dia das crianças, elo na grandeza temporal de renovação da espécie humana, novas gerações, vão ocupando na cadeirinha do carrossel existencial, no palco do sopro do vendaval do poder do existir, novos rumos, no compasso do se fazer presente no tempo que pulsa vivo no relógio do agora.

Aurora que significa nascer do sol, inspiração para grandes poetas, sempre foi e creio eu, continuará sendo o berço de nascimento do astro rei, bem como o nascimento de criancinhas que irão formar o pomar do paraíso de luz as novas gerações.

Hoje é comum, ler nos grandes Jornais de circulação mundial, criancinhas sendo estupradas, violentadas, uma vida tirada, milhares de vidas, ainda nos primeiros sopros de oxigênio a vomitar todo um Hálito da covardia humana, que como se fosse uma rede organizada, planejada, Calculada talvez, pois, como pode tanta repetição em espaço de tempo tão reduzido de seres humanos indefesos, beleza de um novo por vir, ter a linha existencial roubada por “Terroristas Sexuais”, que se infiltram nas instituições religiosas, municipais, civis, e até no próprio estado para de posse da legalidade institucional, praticar o vandalismo sexual com uma juventude sedenta de conhecimento, de instrução, de moldação de caráter, mas o que acontece, os marginais vestidos de um profissionalismo de legalidade constituída, avançam sobre a sociedade e vão destilar sua tara sexual em criancinhas, que como um franguinho criado em granja são o principal alvo destes terroristas sexuais!!!

Ainda bem que, em nossa sociedade atual, este quadro assustador ainda é muito resumido, e graças a Deus não tem potencial para sujar o tecido social como um todo do nosso querido e amado Brasil.

A Região do Cariri, o Estado do Ceará, Praza Deus!!! Não venha partilhar com esta hipotética possibilidade, que, para os que, se deleitam com a arte da palavra trabalhada ou não, desde a imprensa conservadora a todos nós, que em sites e blogs e outros afins, como defensores do Estado Democrático de Direito continuaremos defendo, como sempre fizemos, a construção de uma aurora onde todos possam ser de fato felizes!!! Aurora de luz a criancinhas indefesas!!!

(*) Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora – Ceará.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Contribuição à história institucional de Lavras, CE

Por: João Tavares Calixto Júnior.


PARTE I - O Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira. 


Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira (1959)



Era 1947 o ano. Neste tempo, em que o Brasil era regido pelo General Dutra, via-se o fechamento do partido comunista brasileiro e o rompimento de relações diplomáticas com a União Soviética, período coincidente à expansão norte-americana sobre o ocidente e à retomada brasileira à crise econômica.
Esta mesma época, em que o País efetivamente subordinava-se aos interesses políticos e econômicos norte-americanos, pode ser julgada uma das mais importantes da história de Lavras da Mangabeira, município antigo da região do centro sul Cearense. Naquele ano, em que no dia 20 de janeiro criava-se na capital federal através do decreto nº 22.470, a rede de estabelecimento de ensino agrícola no território nacional, Lavras da Mangabeira cravava como um dardo, um marco em sua tábua cronológica, o que dividiria sua história em antes e depois de até então.
Diante do exposto, e através de projeto de autoria do então deputado federal Raul Barbosa (Deputado de 1946 a 1951), surgiria a Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira, sendo já, em 02 de agosto do mesmo ano (1947), pela portaria nº 55 do Ministério da Agricultura, designado o Engenheiro Agrônomo Dr. José Aristóbulo de Castro Filgueiras, para inicialmente providenciar a instalação da referida. Era Aristóbulo homem de confiança do governo, e por ser possuidor de um conhecimento técnico da área agrária e mais precisamente da região semiárida, foi-se assim, durante a vida e em sua época, um dos poucos do país. Foi, portanto, indicado ao cargo de diretor da Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira em 22 de janeiro de 1953, pela portaria nº 87 do Ministério da Agricultura.  Ao chegar à cidade ainda desconhecida, logo após a indicação pelo governo, Aristóbulo conheceu o Dr. Waldemir de Albuquerque e Sousa, chefe então do posto Agropecuário local, ao qual foi seu auxiliar imediato no processo de viabilização para a construção do iminente estabelecimento.
O fato de o Dr. Aristóbulo ter sido nomeado diretor (janeiro de 1953), corresponde a caráter meramente burocrático, não tendo, entretanto, participado efetivamente como administrador da escola em seu exercício pleno.


 A Primeira Administração: Dr. Gustavo Augusto Lima (1954 – 1963) 


Jornalista João Coelho Cordeiro e Gustavo Augusto Lima (Jornal Gazeta de Notícias, Fortaleza -1959)


Integrante do clã dos Augustos, era prefeito de Lavras da Mangabeira em 1947, o Engenheiro Agrônomo Dr. Gustavo Augusto Lima, sendo assim por dois mandatos. O primeiro, entre março de 1946 e março de 1947, nomeado pelo Interventor Federal Dr. Pedro Firmeza. O segundo, eleito já pelo pleito municipal de 7 de dezembro de 1947, entre janeiro de 1948 e janeiro de 1951.
Portador de um pensamento desenvolvimentista extremamente ativo, o Dr. Gustavo Augusto antecipara através de pedido ao então deputado estadual lavrense, e seu primo Vicente Férrer Augusto Lima, prefeito de Lavras até 17 de novembro de 1945, que conseguisse juntamente ao deputado federal Raul Barbosa, a concessão de uma escola de porte agrícola para Lavras, para isto, em contrapartida, seria doado um terreno para instalação de suas dependências.
Feito tudo conforme o esperado foi assim, autorizada pelo Governo Federal, a criação da tão sonhada obra para Gustavo. Enquanto prefeito, cedeu conforme o prometido, um terreno com vastos 352 hectares denominado Sítio Pereiro à União. A doação foi oficialmente realizada pela Lei Municipal nº 32, de 11 de dezembro de 1950, que citava ainda, o incremento ao Governo Federal do então Posto Agropecuário local, localizado no Sítio Volta. 
Passados depois os mandatos de prefeito, nos quais o município adquirira ainda o prédio dos Correios e Telégrafos, o prédio da Prefeitura e o da Escola Filgueiras Lima, o grande nome lavrense irrequietou-se por não estar mais a participar de forma direta, do progresso de seu lugar de origem. Segundo a escritora Rejane Augusto, era o mesmo um imitador da conduta transparente de seu avô, o também denominado Gustavo Augusto Lima, vice-governador do Ceará e que era, segundo o historiador Joaryvar Macêdo, dono de 1/3 do eleitorado cearense.
Três anos sucederam-se à construção da escola e em 31 de dezembro de 1953 era nomeado pela portaria nº 1.861 do Ministério da Agricultura, o Engenheiro Agrônomo Dr. Gustavo Augusto Lima, enfim, como diretor da Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira, já tão esperada, e de forma entusiasmada pela população de Lavras e região a abrir seus imponentes portões emadeirados de ipè.
Formado pela Universidade Federal do Ceará em 1939, foi o Dr. Gustavo diretor da escola por quase 10 anos (da inauguração até 1963), quando renunciou ao posto para assumir vaga de deputado estadual na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.
Sendo prontamente entregue a escola à comunidade, iniciaram-se as aulas, enfim, em abril de 1954, já à sua frente o Dr. Gustavo Augusto. Com o curso de iniciação agrícola e a subseqüente introdução do curso de mestria agrícola, foram matriculados nas primeiras turmas um número que variava de 120 a 150 alunos sendo a maioria em regime de internato. Situado a 3 km da cidade, o grandioso terreno apresentava em seu início cerca de 200 hectares para o campo de pastagens, cultivo de cereais, cultura de algodão, etc.
O edifício principal, medindo 92 m de frente por 48 de fundos, era de suntuosidade inigualável e se confundia às grandes construções da capital. Suas inúmeras divisões internas foram edificadas quando da inauguração: dormitórios, centro social com palco e 150 cadeiras, salas de aula (salões), almoxarifado, gabinete médico e odontológico, cozinha, inspetoria de alunos, depósitos de bagagens (malarias), bibliotecas, secretaria, diretoria, sala de professores, bebedouros, banheiros industriais, etc.
Além do bloco principal, viu-se ainda o Dr. Gustavo Augusto erguer em antigas terras de sua propriedade: residência para o diretor, residência para o agrônomo auxiliar, residência para auxiliar de campo, estábulo para 24 bovinos, apiário, aviário, galpão de máquinas, pocilga, caixa d’água, casa de força, casa para abrigar a bomba d’água, e ainda, uma guarita de entrada.


De Iniciação Agrícola à Agrotécnica


Através do termo de aditivo publicado no D.O.U. de 22 de junho de 1959, a Escola de Iniciação Agrícola era transformada em Escola Agrotécnica, passando a formar agora técnicos em agricultura e não mais mestres agrícolas como antes, num total de sete anos de estudos. A sua elevação à esta categoria superior ocorreu graças ao empenho do deputado federal Dr. José Martins Rodrigues que, ao prever a referida transformação, apresentava emenda ao orçamento da união para o ano de 1959, equiparando a verba à prevista para o nível Agropecuário (passando de Cr$ 1.200.000,00 para Cr$ 3.000.000,00), tornando-se assim, necessária a admissão de novos professores.


                 Alunos da turma de 1959 da então Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira, CE.


Continua ...

Sobre o autor: 
Biólogo (CRBio: 36.967/5-D)
Especialista em Educação Ambiental
Mestre em Ciências Florestais
Doutorando em Biotecnologia
Professor: Rede estadual de ensino (CE), Universidade Regional do Cariri, Faculdade Santa Maria (PB)
Biólogo da secretaria de saúde do estado (CE)
Membro da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU)
Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia (SBEE)


Assembléia Legislativa Itinerante em Lavras da Mangabeira


   
     Emendas parlamentares, anúncios de obras, propostas, assinatura de convênios, projetos importantes, enfim, boas novas. É isso que se espera acontecer para Lavras e região nesta próxima sexta-feira (07/10), durante a realização da sessão itinerante da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará.
     Realizado desde 1996, o projeto faz com que os municípios virem sede do Legislativo Estadual, e tem como intuito maior, a discussão dos problemas mais aproximados à população, fortalecendo a relação entre ambas as partes. 
     Segundo o regimento interno da casa, a sessão deve ser realizada duas vezes por semestre. Será esta, a segunda da atual legislatura, já que a primeira realizou-se na cidade serrana de Guaramiranga.
     O município lavrense, de eloquência histórica em representatividade no legislativo cearense, anfitrionará parte dos congressistas em nome do suplente de deputado em exercício, Danniel Oliveira, estreante entre os parlamentares. Outro filho que se espera à casa tornar, é o experiente Deputado Heitor Férrer. Sem nada precisar varrer para debaixo dos carpetes, o deputado terá também a honra de fazer côrte aos parlamentares que chegam, e no paço municipal Raimundo Gomes de Holanda, poderá contribuir para a elevação do nível de discussão a realizar-se.
     Devem participar ainda, além de várias autoridades de municípios da região centro sul e cariri do estado, lideranças políticas locais, e mais especialmente, a população do município de Lavras da Mangabeira. 
     Convoca-se aqui a "plebem", portanto, a se fazer presente neste importante momento. Que se discuta o motivo da estagnação! Que não se preze a celeuma e que se faça valer pela presença e deslocamento dos deputados, cada centavo que sai do bolso do povo.  Que se levantem teses sobre a imobilidade municipal e que se busquem antídotos à maldição desta inércia que teima em se estabelecer. Que os representantes do povo cearense apenas não venham discursar em prol, ou contra desafetos ou aliados, e que se façam esmerecer pelo contato mais que necessário com a gente desta terra que precisa de tanta coisa, há tanto tempo...


Ver também em: http://redeblogsdoceara.blogspot.com
  

sábado, 1 de outubro de 2011

A Farmacopéia do Cangaço

Por: João Tavares Calixto Júnior


Os anais do cangaceirismo nos contam efantasticamente sobre os acontecimentos que beiram o surreal. Dentre estes, alcandorado, o fato de os tabaréus possuírem um conhecimento empírico extremamente apurado em alusão ao uso de plantas do lugar. A existência da “Farmacopéia do Cangaço” é fruto de séculos de experimentações, e ainda que permeada por erros e riscos, se mostrou adequadamente farta em utilidades às cabroeiras errantes.
A absorção do valor medicinal das plantas na caatinga é prática antiga, data do perpétuo domínio dos índios, antes mesmo da invasão européia e das capitanias já abrasileiradas. Comprido foi o tempo em que os itinerantes do cangaço unicamente se atearam a floris medicinalis. Segundo Araújo e Fernandes (2005), para se ter uma idéia, os cangaceiros só conheceram as propriedades do ácido-acetil-salicílico em 1929, através do Capitão-Médico do exercito Eronildes de Carvalho, que ofereceu um comprimido do analgésico para um bandoleiro com dor de dente. 
Particularmente sobre a era lampiônica do cangaço, foi dito por pouco mais de meio mundo de autores e pesquisadores, sobre a existência de um médico naturalista atrelada à estampa de Virgulino. Rumores inimigos!
Em Aglaê Lima (1970), por exemplo, Lampião representava o cirurgião, clínico,  ginecologista, parteiro e até dentista do bando. Essa mesma idéia, portanto, é fruto da imaginação recreativa de muitos, e da fantasia popular permeada pela mítica do cangaceiro. “Praticavam extrações dentárias com pontas de punhais e alicates. Em seguida bochechos de mandacaru. Raspa de juá evitava o aumento da cárie" (ALMEIDA, 2006).
O escritor Antônio Amaury, pesquisador dos maiores do assunto, colhe depoimentos de Dadá, também algoz de bedéis do sertão, que declara desconhecer Lampião removedor de balas, amputador de membros, parteiro em ocasiões complicadas ou muito menos arrancador de dentes. “Arrancar um dente ainda não "amolecido" pela piorréia é trabalho hercúleo (...)." É, portanto, balela afirmar ser lampião ou qualquer outro cangaceiro "dentista".
Entrementes, não é incomum se observar nas passagens, relatos de junção entre chás, lambedores, efusões, emplastos e defumadores, além de benzeduras, simpatias e orações aplicados por cangaceiros em busca de cura a seus achaques.  
A farinha de mandioca, por exemplo, além de alimento indispensável, ora era usada como emplastro, no tratamento dos abscessos. Acreditava-se o emplastro quente com farinha, sobre regiões inflamadas, evitar a lesão “vir a furo”. O fumo em pó, sobre feridas abertas, evitava infecções secundárias, ovoposição de moscas varejeiras e miíase. (ARAÚJO & FERNANDES, 2005). Para dor de cabeça, usavam-se folhas de algodão aquecidas e mascava-se gengibre. Contra faringite, o chá de formiga e o gargarejo com sal era a cura. Para doenças reumáticas, banha de capivara, chá de osso de jumento e carne de cobra cascavel. Para “fraqueza dos pulmões” era o leite de jumenta pela manhã, e para prisão de ventre, o chá da raiz de gitirana, retirada do nascente.
Quando alguém com asma, a banha de ema era ingerida. Para mau hálito, mastigavam-se folhas da goiabeira branca e se alguém atacasse por epilepsia, o chá de perna de garça era a solução. Para lombriga, a erva de cruz, e impotência sexual, quando acusava, chá de velame ou chá de cabeça de negro em jejum.
Segundo o ex-cangaceiro e escritor Joaquim Góis, Lampião e seus “cabras” traziam como parte integrante do seu “ carrego” uma botica improvisada com tintura de iodo, pó de  Joannes, água forte, pomada de São Lázaro, linha e agulha, algodão, um estojo de perfumes com brilhantina, óleo extratos e essências baratas.
O Juá e a arnica eram elementos sem igual para o tratamento de grandes traumatismos decorrentes de quedas, acidentes, esmagamentos, facadas ou tiros. O emprego das cascas de jenipapo nas  luxações, fraturas e contusões, eram de comum prática. Em traumatismo ocasionado por coice de burro usava-se emplasto de mastruço, carvão moído e esterco de animal. O chá de quixabeira também era recomendado para cicatrização (SERAINE, 1983). A raspa do pau  de quixabeira era misturada com álcool ou cachaça e ingerida ou colocada sobre o ferimento; segundo os cangaceiros a ingestão dessa mistura reanimava e dava uma sensação de força... (ARAÚJO & FERNANDES, 2005).
Relatos apontam ainda que, em ferimentos à bala, aguardente, água oxigenada e pimenta malagueta seca, eram introduzidos através do orifício de entrada. Sendo o tratamento doloroso ao extremo, e mais angustiante do que a própria lesão, disseram alguns sobreviventes que se ia ao céu e se voltava de lá.. 
Como em uma aula de fitoterapia ou de botânica, botânica fanerogâmica, e sobre plantas de caatinga sucintamente, citaram-se aqui, extraídas em parte do livro "Lampião, Cangaço e Nordeste" de Aglaê de Oliveira, plantas da região que, conhecidas e empregadas pelos itinerantes valentes das matas brancas e secas, e não muito pela geração contemporânea, eram de uso uniforme. Destaca-se a necessidade que se engendra de divulgar o potencial da flora da caatinga, tão usualmente acometida pelo cangaço, por necessidade, e por vocação instintiva do viver, talvez, e diante disso, expô-la aos seus verdadeiros donos, desconhecedores de uma opulenta herança enjeitada em detrimento da exploração midiática contemporânea...


Referências:
ALMEIDA, Isnaia Firmino Souza. Lampião: A Medicina e o Cangaço. Revista Eletrônica de Ciências Sociais, n.11, p.112-130, 2006.
ARAÚJO, Antônio Amaury Corrêa; FERNANDES, Leandro Cardoso. “Lampião a medicina e o cangaço”.Editora Traço. 1a edição, 2005

OLIVEIRA, Aglaê Lima. Lampião, Cangaço e Nordeste. Editora O Cruzeiro- 2ª Edição.