sábado, 28 de janeiro de 2012

Subsídios à História da Freguesia do Menino Deus - Aurora, CE.





Registraremos em rápidos traços neste ensejo, algumas achegas para a história da Igreja Católica Apostólica Romana no município sertanejo de Aurora, denominado outrora, e antes de se proclamar Vila d'Aurora, de Venda ou Venda Grande, pertencente em primórdios à circunscrição de Icó e posteriormente, Lavras da Mangabeira.
            Antes, entretanto, de quanto interessa neste tocante, lembremos que, de fato, não foi a atual igreja do Senhor Menino Deus de Aurora, o primeiro domo erigido nesta comuna cearense. Trata-se o primeiro, conforme adjutórios documentos recolhidos nas Paróquias de Icó, Missão Velha, Lavras da Mangabeira e na Cúria Diocesana em Crato, assim como em escritos dos mais abalizados historiadores cearenses, da Capela de São Benedito, solevada por Benedito José dos Santos, ao qual, oportunamente, e em outra ocasião, destacaremos.
            Importante diante do ineditismo que o cerca, pomos termo ao vertente delineamento observando o que consta no Livro de Tombo da Matriz do Senhor Menino Deus, escrito aos 30 de julho do ano de 1943 pelo Padre Murillo de Oliveira Campos, secretário da visita do Bispado Diocesano à citada Freguesia, em virtude da comemoração dos 50 anos de sua criação (1893-1943).
Segue na íntegra a transcrição da Ata solene com convenientes atualizações ortográficas:

Ata da Sessão Solene comemorativa do Cinquentenário da criação da Freguesia do Senhor Menino Deus de Aurora.

            “Aos trinta dias do mês de julho do ano de mil e novecentos e quarenta e três, nesta cidade de Aurora, Estado do Ceará, no Auditório da “Associação Beneficente Aurorense”, na presença dos Exmos e Revmos Srs. D. Francisco de Assis Pires (1), Bispo Diocesano, Pe. Vicente Augusto Bezerra (2), Vigário desta Paróquia, Pe. Januário Campos (3), Pe. João Begon, Pe. Francisco Blieste, estes dois últimos missionários da Sagrada Família, e de uma numerosa e seleta assistência, realizou-se a sessão solene comemorativa da criação da Paróquia do Senhor Menino Deus de Aurora.
            Antes de aberta a sessão foi cantado pela assistência um hino de saudação ao Exmo. Sr. Bispo, sendo as últimas notas abafadas por uma calorosa salva de palmas.
            Abriu a sessão o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra que passou a presidência ao Exmo. D. Francisco.
            Em primeiro lugar, ocuparam a tribuna o Revmo Pe. Januário Campos, que proferiu brilhante e comovedora oração (ilegível), sobre a criação da Paróquia de Aurora, elogiando o desbravamento dos ex Vigários e enaltecendo a laboriosa obra espiritual e moral do Pe. Vicente Augusto Bezerra, que empregou e sacrificou a sua mocidade em fazer o bem a esta terra.
            Lembrou, também, a signa humilde e respeitável de Luiz Gonçalves Maciel (4), zeloso fundador, nesta terra, das confrarias de S. Vicente de Paulo, sob cujos auspícios foram celebrados estas festas.
            Terminando, fez uma linda e justa saudação ao Exmo. Sr. Dom Francisco.
            A Professora Ivone Macêdo (5) recitou uma encantadora poesia intitulada “Prece de uma Brasileira”. Em seguida usou a palavra o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra, que numa piedosa alocução, disse da emoção que estava possuído, agradecendo a colaboração sincera de seus paroquianos para um desfecho tão lindo desta grandiosa festa.
            Agradeceu, ainda, com palavras cheias de reconhecimento, as referências feitas à sua pessoa pelos oradores dessa sessão. Leu a provisão que criou a Freguesia de Aurora e o certificado de posse do primeiro Vigário Mons. Vicente Pinto Teixeira, de saudosa memória.
            A senhorita Maria José, recitou a linda poesia “No Jardim das Oliveiras”. Com a palavra o Exmo. Sr. Dom Francisco de Assis Pires, Bispo Diocesano, fez uma conferência repleta de belos ensinamentos e luminosos conceitos em torno da situação atual do mundo, salientando a necessidade imperiosa de uma coação perfeita no seio pela Santa Igreja, onde não devem mediar desfalecimentos.
             S. Exa. multiplicando as razões porque se dignara compartilhando-se das alegrias desta festa que era (ilegível) ser esta Paróquia pela integridade da fé católica e de sua disciplina irrepreendendo almas das mais importantes da sua diocese. Destacou-se a pessoa do Revmo. Pe. Vicente Augusto Bezerra, pelo zelo ardente que abrasa a sua alma de sacerdote piedoso e apostólico.
            Finalizando, congratulou-se com o povo aurorense nas festas comemorativas da criação canônica da Paróquia.
            Numa demonstração de sadio patriotismo e de amor a nossa querida Pátria, foi encerrada a sessão com o “Hino Nacional”.
            E para constar, lavrei a presente ata que vai assinada pela mesa. Eu, Murillo de Oliveira Campos, servindo de Secretário, a escrevi e assino. Francisco, Bispo Diocesano.”

        _______________________________________x x x______________________________________

(1)    – Foi o segundo Bispo do Crato, natural de São Salvador na Bahia. Tomou posse aos 10 de janeiro de 1932, ficando à frente do Bispado até 21 de abril de 1955. Aposenta-se em 11 de julho de 1959. Faleceu em 10 de fevereiro de 1960 como Bispo Emérito.
(2)    – Foi o segundo Padre da Freguesia do Menino Deus da Vila da Aurora, e o que permaneu por mais tempo, tomando posse aos 18 de novembro de 1906, por provisão do Exmo Revmo D. Joaquim José Vieira, 2º Bispo do Ceará. Faleceu como Pároco desta Freguesia no dia 1º de fevereiro de 1953, na capital federal (Rio de Janeiro). A 16 de outubro de 1951 foi agraciado pelo Papa Pio XII com o título de Monsenhor. Faleceu o lavrense Vicente Augusto Bezerra aos 72 anos de idade, 50 anos de sacerdócio e 47 anos de Paroquiato nesta Freguesia, tendo sido homenageado com nome de rua no Distrito de Boa Esperança (hoje Iara, Barro, CE) e nome de Escola Pública em Aurora, cidade a qual dedicou a sua juventude em favor do seu desenvolvimento religioso e social.
(3)  – Aurorense, nasceu aos 19 de setembro de 1898, filho de Cândido Ribeiro Campos (Coronel Cândido do Pavão) e Ana Ribeiro Campos. Ordenou-se na cidade cearense de Sobral, aos 7 de março de 1925, celebrando a sua primeira missa, três dias depois em Canindé, CE. Foi vigário da cidade de Palmas, CE (hoje Coreaú), durante quatro anos, dez anos como pároco em Santa Quitéria (9 de fevereiro de 1930 a 5 de fevereiro de 1936), onde fez intensas reformas na atual igreja matriz, e três anos em Jucás, CE. Residiu e trabalhou vários anos em Iguatu, CE, onde exerceu o cargo de Coadjutor do então vigário Monsenhor Coelho e, depois, Capelão e Professor no Colégio Senhora Santana. Passou a residir em Fortaleza, em 1949, onde foi Capelão do Carmelo, Delegado de Ensino, Diretor do Departamento de Proteção ao Menor, Professor no Liceu e no Ginásio Municipal. Faleceu em 19 de dezembro de 1965, vítima de desastre automobilístico (desastre de jipe), na rodovia BR-13, proximidades de Cajazeiras, Paraíba, aos 67 anos, deixando saudades aos seus familiares, amigos e conterrâneos. É homenageado através de empréstimo de seu nome à uma rua na capital cearense (Parque Manibura), assim como à uma escola municipal em Iguatu, decorrente de seus importantes trabalhos enquanto diretor da delegacia de ensino.
(4)    – Era o Fabriqueiro da Freguesia do Menino Deus de Aurora, à época do Pe. Vicente Bezerra. Era o seu braço direito. Residia na casa situada vizinha ao casarão construído pelo Cel. Xavier e a casa do Prof. José Gonçalves Primo (Zezinho Saburá). Exercia ainda a função de boticário local, professor de música e ministrava os sacramentos na ausência do Pe. Bezerra.
(5)    – Nasceu em Aurora (9 de julho de 1921), filha de Antônio Landim de Macêdo (Quarto filho de Marica Macêdo e Cazuzinha do Tipi) e Rosa Teixeira Leite (Filha do Coronel Manuel Teixeira Leite). Foi professora pública de relevantes serviços prestados em Aurora e no Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira.




 Por: João Tavares Calixto Júnior
 Professor e pesquisador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário