Por: João Tavares Calixto Júnior.
(*) 1784 (27 de
agosto) – Crato: Viu a luz do dia Carlos José dos Santos Alencar, filho de José
Gonçalves dos Santos, português comerciante de tecidos em Crato (de alcunha
Surubim–pintado, em virtude de pequenas manchas apregoadas à face) e Bárbara
Pereira de Alencar (heroína dos movimentos libertadores de 1817 e 1824).
Segundo consta no livro de batismos da Paróquia de Nossa Senhora da Penha
(livro 9, 1778-1786), recebeu as bênçãos batismais um dia após ter nascido,
tendo como padrinhos o Padre Carlos José Mesquita e Iria Franca de Alencar
(irmã de sua mãe).
Em ordem cronológica, é o segundo filho dos cinco do
casal, tendo sido encaminhado ao seminário de Olinda, onde alcançou o
presbiterato em janeiro de 1815. Juntamente à mãe e irmãos (o também padre José
Maritiniano de Alencar e Tristão Gonçalves), foi dos grados revolucionários das
ações independentistas de 1817 e 1824, esta última, conhecida por movimento
libertário da Confederação do Equador.
Sobre sua morte, ocasionada em 1824 por questões
políticas decorrentes do movimento do Equador, ocorrem versões cômpares. Conta
Irineu Pinheiro em O Cariri (Fortaleza,
1950), ter sido o religioso assassinado num sacovão de serra conhecido por Saco
dos Macacos, na fazenda Ponta da Serra, serra dos Beijus, em Aurora. Grafa o
historiador nesta obra, em capítulo dedicado ao misticismo, religiosidade,
fanatismos e superstições do povo do Cariri, sobre a existência de uma cruz de
madeira, cercada de pedras, à beira da estrada do local predito. Segundo o
autor, contavam os velhos das redondezas que, há mais de um século (o livro foi
publicado em 1950), um padre de nome Carcará se refugiou, por motivos
ignorados, seguido de um “cabra” que servia de pagem, no Saco dos Macacos, bem
em frente à cruz que, depois, a piedade haveria de erguer à margem do caminho.
Havia notado este companheiro do padre, que o mesmo, nos
alforjes de couro que trouxera por baixo da capa de sua sela, guardava um
tesouro: moedas de prata e de ouro que reluziam, convidando-o ao crime,
irresistivelmente.
Acharam ambos, um dia, um canudo - Scaptotrigona depilis (Moure, 1942) – espécie de abelha existente
nas caatingas, produtora de mel de paladar deleitoso. Assim, teria então dado
por terra o escudeiro do padre, a machado, com o pau onde se arranchara a
Mellipona, abrindo bem o oco onde estavam os favos de mel, conseguindo desta
forma, tirá-los e saboreá-los.
Em dado momento, veio ao armígero, que seria de más entranhas,
a tentação de matar e roubar o desavisado sacerdote, e num momento de descuido
deste, abateu-o à traição o malvado acompanhante, com machadadas na cabeça,
arrebentando-lhe os ossos do crânio.
Teria ainda o pagem, enterrado o corpo numa cova por ele
mesmo cavada, sobre a qual teria armado fogueira, cujas chamas iluminaram,
durante horas, aquele quinhão aurorense, lúgubre e ermo.
Todavia, assegura o escritor, não ter sido o padre
Carcará assassinado neste episódio, e sim, o padre Carlos José dos Santos,
filho da heroína Bárbara de Alencar, morto não por ter sido vítima da ira do
simplório ajudante, mas sim, por ser “crismado com o doce nome de patriota”.
Faz Joaryvar
Macêdo identicamente em São Vicente das
Lavras (Fortaleza, 1984), menção ao assassinato do sacerdote na Serra do
Beiju, antigo território lavrense, hoje Aurora, assim como um de seus maiores
mentores, o padre Antônio Gomes de Araújo, versa no esclarecedor Naturalidade de Bárbara de Alencar (Fortaleza,
1951), sobre a morte a machadadas do padre filho de Bárbara, irmão de José
Martiniano de Alencar e Tristão Gonçalves.
Raimundo Oswald
Barroso em Tristão Araripe: alma afoita
da revolução (Fortaleza, 2006) compactua com o citado quando escreve: “cai
assassinado em Saco dos Macacos, na serra de Beiju, Comarca de Missão Velha”,
adversando somente sobre o município ao qual sucumbe o recôndito mártir
patriota.
Ao examinar os
acervos dos livros de registros das Paróquias de Aurora, Lavras da Mangabeira e
Missão Velha (A Paróquia de Nossa Senhora da Expectação de Icó perdeu seus
arquivos em virtude de incêndio), na busca por documentação apodítica, não se
encontrou o assentamento do falecimento do sacerdote cratense, abolicionista
aguerrido, herói autóctone que a própria história tratou de negligenciar.
(*) Trecho de obra em elaboração: No Orbe do Salgado - Esboço Histórico- Científico.
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