NOTAS SOBRE O POETA SERRRA AZUL
Trecho publicado em O Ceará, de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho, Edição de 1939 – editora Fortaleza. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1977
Nos idos de 1919 chegava a Fortaleza o poeta Serra Azul. Tinha 26 anos, pois nascera a 3 de maio de 1893 no sítio Pau Branco do município de Aurora – CE. Aos 4 anos de idade ficara órfão de pai e mãe, sendo criado por uns tios que não tinham filhos. Aprendera a ler valendo-se de retalhos de jornais, fragmentos de livros escolares, almanaques e folhetos que conduzia, às escondidas, para a sombra do marmeleiro e do mofumbo, arbustos que caracterizam as caatingas do nordeste. Aos 15 anos recebera de Luiz Gonçalves Maciel as primeiras noções. Esse Luiz Gonçalves Maciel havia sido seminarista e era tudo em Aurora: professor, mestre de música, sacristão e farmacêutico. Como sacristão, substituía o vigário nas suas ausências, ministrava sacramentos e fazia pregações; como farmacêutico, era o médico do lugar e das aldeias vizinhas. Maciel encontrava-se em Malhada Funda, na zona do ribeirão Tipi, afluente do Salgado, foragido de Aurora, quando a cidade fora invadida, incendiada e saqueada, em 1908, pelas cabras de José Inácio, do Barro, e de Cândido Ribeiro, mais conhecido por Cândido Pavão. De Lavras, onde residiu o nosso perfilado algum meses, saiu a peregrinar pelo sertão como professor de meninos, detendo-se na Serra azul, a leste de Quixadá, em 1912, quando tratou de construir família. Participando de reuniões na chamada Cidade dos Monólitos, começou a fazer sucesso como improvisador, sucesso que repercutiu em Fortaleza. Juvenal Galeno, Rodolfo Teófilo, Antonio Sales, Quintino Cunha e Leonardo Mota convenceram-no a fixar-se na capital, onde conseguiria emprego. Mas do dinheiro que esse emprego lhe rendia nada sobrava para a compra de livros. A família aumentava de ano em ano. Assim, passou a freqüentar todas as noites, a biblioteca pública. Lia muito, lia até se apagarem as luzes do prédio. Ás vezes era visto em companhia de literatos, e os jornais começavam a publicar as suas poesias. A conselho de Rodolfo Teófilo resolveu adotar o nome de Serra azul, Não mais como apelido, porém como nome de família. Hoje além de poeta, é o professor de história natural e geografia. .
Francisco Leite Serra Azul. De uma memória de anjo, sabe de cor mais de 100 sonetos de Bilac, o seu preferido, e conhece, a fundo, as geografias físicas do Brasil, sendo capaz de responder sobre qualquer dos seus acidentes. Publicou Serra azul em 1924 o Alfabeto das Musas e em 1938 Natureza Ritmada. Ambos esgotados. Alfabeto das Musas contém os versos da fase lírica do autor. Alice é o modelo dos demais sonetos dessa fase. Francisco Leite, que veio do interior quase inculto, fixou-se aqui e vencendo terríveis dificuldades conseguiu cultivar seu espírito, manter e educar sua numerosa família. Hoje é professor, e com o nome de Serra Azul tornou-se um de nossos poetas mais conhecidos. É de sua autoria o volume Natureza Ritmada, aparecido ultimamente e que foi uma vitória para o seu talento. Trecho publicado em O Ceará, de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho, Edição de 1939 – editora Fortaleza. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1977. Meu prezado poeta Francisco leite Serra Azul ( Serra Azul )Alameda das Verbenas, 322 – Q. 13 Aldeota Fortaleza – CE. Pax Tenho participado de vários livros do Aparício, menos deste último: anuário de poetas do Brasil – 1 vol. 77, onde, com satisfação acabo de ler os seus 10 sonetos, sob a denominação Versos bucólicos. Confesso – lhe, meu preclaro poeta, que estou maravilhado são 10 sonetos bucólicos muito bons, o que é bastante raro, hoje em dia, acontecer. Meus efusivos parabéns. Gostei muito dos seus: A farinhada Aurora, pequeno munduru e a lua, todos de um fino lavor e bela inspiração. São difíceis de se fazer. Bravos. Queira dar – me a honra de ler o meu segundo livro de poesias: pensamentos poéticos, propaganda anexa, com 134 novos sonetos, entre alexandrinos, decassílabos e sonetinhos que tenho absoluta certeza de que irá gostar. Não o decepcionarei, meu estimado confrade e, desde já, aceite o meu abraço agradecido e os votos de boa saúde e inspiração. Do seu admirador. A poesia de Serra Azul. Francisco Leite Serra Azul é inconfundível com os demais poetas do Brasil. Inconfundível porque a sua poesia é de cunho científico – filosófico ainda não cultivado no Brasil, filiando-se aos gêneros de Lucrécio, Ovídio e Goethe. Seu livro Natureza Ritmada é uma prova disso. E o livro Versos Bucólicos pelas amostras que temos e pelo que verificamos na intimidade do poeta, não é mais do que uma continuação daquele no seu gênero predileto. Apenas a variante está em que Natureza Ritmada é cosmogônico. Dedica-se aos assuntos da astronomia, da física, da química, da meteorologia, da biologia e da fisiologia e anatomia humana. E matematicamente, entra pelos campos da geometria, onde descreve na Força cósmica um universo de círculos, eclipses, triângulos e linhas, falando sobre a curva do tempo e as Dimensões do Espaço, onde entram em choque as leis da gravitação universal de Newton com as da relatividade de Einstein. Penetra ao fundo dos abismos estelares onde se acha a estrela Antares com seus 370 anos de luz distante de nós e que nenhum poeta como Bilac tem ouvidos para ouví-la ou entendê-la. E com a mesma facilidade desce ao profundo vale submarino onde emitido luz como os radiários, fala do motu-continuo e da evolução na luta universal. Este é o enredo de natureza ritmada. Ao passo que versos bucólicos é geogênico ou geofísico. Trata de assuntos relativos ao adubo da terra, aos minerais, as plantas e aos animais. É todo dividido em ordem metódica. Há uma série de poemas e sonetos sobre plantas industriais e alimentícias outra sobre plantas medicinais, ornamentais e hortenses, outra sobre árvores frutíferas, árvores nativas e árvores.
(*) Transcrição – Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora - Ceará
Trecho publicado em O Ceará, de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho, Edição de 1939 – editora Fortaleza. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1977
Nos idos de 1919 chegava a Fortaleza o poeta Serra Azul. Tinha 26 anos, pois nascera a 3 de maio de 1893 no sítio Pau Branco do município de Aurora – CE. Aos 4 anos de idade ficara órfão de pai e mãe, sendo criado por uns tios que não tinham filhos. Aprendera a ler valendo-se de retalhos de jornais, fragmentos de livros escolares, almanaques e folhetos que conduzia, às escondidas, para a sombra do marmeleiro e do mofumbo, arbustos que caracterizam as caatingas do nordeste. Aos 15 anos recebera de Luiz Gonçalves Maciel as primeiras noções. Esse Luiz Gonçalves Maciel havia sido seminarista e era tudo em Aurora: professor, mestre de música, sacristão e farmacêutico. Como sacristão, substituía o vigário nas suas ausências, ministrava sacramentos e fazia pregações; como farmacêutico, era o médico do lugar e das aldeias vizinhas. Maciel encontrava-se em Malhada Funda, na zona do ribeirão Tipi, afluente do Salgado, foragido de Aurora, quando a cidade fora invadida, incendiada e saqueada, em 1908, pelas cabras de José Inácio, do Barro, e de Cândido Ribeiro, mais conhecido por Cândido Pavão. De Lavras, onde residiu o nosso perfilado algum meses, saiu a peregrinar pelo sertão como professor de meninos, detendo-se na Serra azul, a leste de Quixadá, em 1912, quando tratou de construir família. Participando de reuniões na chamada Cidade dos Monólitos, começou a fazer sucesso como improvisador, sucesso que repercutiu em Fortaleza. Juvenal Galeno, Rodolfo Teófilo, Antonio Sales, Quintino Cunha e Leonardo Mota convenceram-no a fixar-se na capital, onde conseguiria emprego. Mas do dinheiro que esse emprego lhe rendia nada sobrava para a compra de livros. A família aumentava de ano em ano. Assim, passou a freqüentar todas as noites, a biblioteca pública. Lia muito, lia até se apagarem as luzes do prédio. Ás vezes era visto em companhia de literatos, e os jornais começavam a publicar as suas poesias. A conselho de Rodolfo Teófilo resolveu adotar o nome de Serra azul, Não mais como apelido, porém como nome de família. Hoje além de poeta, é o professor de história natural e geografia. .
Francisco Leite Serra Azul. De uma memória de anjo, sabe de cor mais de 100 sonetos de Bilac, o seu preferido, e conhece, a fundo, as geografias físicas do Brasil, sendo capaz de responder sobre qualquer dos seus acidentes. Publicou Serra azul em 1924 o Alfabeto das Musas e em 1938 Natureza Ritmada. Ambos esgotados. Alfabeto das Musas contém os versos da fase lírica do autor. Alice é o modelo dos demais sonetos dessa fase. Francisco Leite, que veio do interior quase inculto, fixou-se aqui e vencendo terríveis dificuldades conseguiu cultivar seu espírito, manter e educar sua numerosa família. Hoje é professor, e com o nome de Serra Azul tornou-se um de nossos poetas mais conhecidos. É de sua autoria o volume Natureza Ritmada, aparecido ultimamente e que foi uma vitória para o seu talento. Trecho publicado em O Ceará, de Raimundo Girão e Antonio Martins Filho, Edição de 1939 – editora Fortaleza. Rio de Janeiro, 9 de julho de 1977. Meu prezado poeta Francisco leite Serra Azul ( Serra Azul )Alameda das Verbenas, 322 – Q. 13 Aldeota Fortaleza – CE. Pax Tenho participado de vários livros do Aparício, menos deste último: anuário de poetas do Brasil – 1 vol. 77, onde, com satisfação acabo de ler os seus 10 sonetos, sob a denominação Versos bucólicos. Confesso – lhe, meu preclaro poeta, que estou maravilhado são 10 sonetos bucólicos muito bons, o que é bastante raro, hoje em dia, acontecer. Meus efusivos parabéns. Gostei muito dos seus: A farinhada Aurora, pequeno munduru e a lua, todos de um fino lavor e bela inspiração. São difíceis de se fazer. Bravos. Queira dar – me a honra de ler o meu segundo livro de poesias: pensamentos poéticos, propaganda anexa, com 134 novos sonetos, entre alexandrinos, decassílabos e sonetinhos que tenho absoluta certeza de que irá gostar. Não o decepcionarei, meu estimado confrade e, desde já, aceite o meu abraço agradecido e os votos de boa saúde e inspiração. Do seu admirador. A poesia de Serra Azul. Francisco Leite Serra Azul é inconfundível com os demais poetas do Brasil. Inconfundível porque a sua poesia é de cunho científico – filosófico ainda não cultivado no Brasil, filiando-se aos gêneros de Lucrécio, Ovídio e Goethe. Seu livro Natureza Ritmada é uma prova disso. E o livro Versos Bucólicos pelas amostras que temos e pelo que verificamos na intimidade do poeta, não é mais do que uma continuação daquele no seu gênero predileto. Apenas a variante está em que Natureza Ritmada é cosmogônico. Dedica-se aos assuntos da astronomia, da física, da química, da meteorologia, da biologia e da fisiologia e anatomia humana. E matematicamente, entra pelos campos da geometria, onde descreve na Força cósmica um universo de círculos, eclipses, triângulos e linhas, falando sobre a curva do tempo e as Dimensões do Espaço, onde entram em choque as leis da gravitação universal de Newton com as da relatividade de Einstein. Penetra ao fundo dos abismos estelares onde se acha a estrela Antares com seus 370 anos de luz distante de nós e que nenhum poeta como Bilac tem ouvidos para ouví-la ou entendê-la. E com a mesma facilidade desce ao profundo vale submarino onde emitido luz como os radiários, fala do motu-continuo e da evolução na luta universal. Este é o enredo de natureza ritmada. Ao passo que versos bucólicos é geogênico ou geofísico. Trata de assuntos relativos ao adubo da terra, aos minerais, as plantas e aos animais. É todo dividido em ordem metódica. Há uma série de poemas e sonetos sobre plantas industriais e alimentícias outra sobre plantas medicinais, ornamentais e hortenses, outra sobre árvores frutíferas, árvores nativas e árvores.
(*) Transcrição – Professor da Escola de Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra – Aurora - Ceará
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