quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Um grito em defesa dos Ecossistemas do Cariri

Luiz Domingos de Luna*
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A História da humanidade foi toda baseada na destruição do espaço geográfico para a preservação da espécie humana, milhares de espécies foram extintas pela ação contínua, dos seres racionais. O Ato destruidor do homo Sapiens está impregnado no DNA biológico e cultural; conscientizar o humano de que são desumanas suas ações para com a sua própria existência civilizatória é tarefa de gigante. Inconcebível à luz do pensar existencial e de sua carga genética cultural, advinda desde a era cenozóica no período do pleistoceno. Um grito isolado de defesa ambiental no meio da multidão soa como ridículo esdrúxulo. Creio que os devoradores do planeta são os grandes grupos empresariais, porém, eles fazem isto porque a vida no modelo atual exige isto, o qual é uma cadeia alimentar, social, política, econômica {...}, o padrão; parar isto seria parar o desenvolvimento da sociedade dentro do foco que conhecemos. Logo a questão ambiental está ligada à linha de consumo, hábitos que foram bem elaborados no processo histórico civilizatório da humanidade. Ora, O rio salgado no cariri cearense até meados de 1835 era um rio perene e saudável, hoje virou um esgoto do lixo cultural do cariri, porém, sem este esgoto não teria outra forma de desenvolvimento de uma das regiões que mais crescem no interior do Ceará. – Cariri, pela ótica do processo interativo de convívio humano conhecido e vivido, assim: ou se mata o rio ou se mata o cariri. Creio que, assim com os demais seres humanos estamos agindo na lógica da corrente do tempo no processo existencial. A Questão do grande lixão que estamos transformando o planeta terra é conseqüência de todo um processo civilizatório contido na epistemologia genética da humanidade. Mudar o curso da história, para a preservação do planeta terra; seria primeiro: a necessidade de mudar toda a forma de pensar, de agir, de existir - um novo renascimento. Agir isoladamente, com um aplicativo psicológico para amainar consciências as questões ambientais é mero paliativo. Enfrentar a problemática de frente teria que, antes, mudar toda uma mentalidade, toda uma forma de viver, onde todo o processo civilizatório consumista seria jogado no lixo e criado outro padrão humano para dar vida plena ao corpo vivo do planeta terra. É possível conciliar progresso, evolução, desenvolvimento econômico em escala planetária sem lesionar a bola azulada?

(*) Colaborador do Blog de Lavras

sábado, 23 de outubro de 2010

Algodão: A Nostalgia da Época do Ouro Branco em Terras Semiáridas


       Nos últimos 35 anos a cultura do algodão passou por períodos de crise e de recuperação.  O setor passou por quatro grandes crises. No final do século XX, na década de 80, foram plantados no Brasil 4,1 milhões de hectares de algodão, sendo 3,2 milhões de algodoeiros arbóreos no Nordeste, sendo a região Centro-Sul e do Salgado, destaques. Neste período, o sistema de exploração que predominava era o familiar ou em parceria. A mecanização ocorria em poucas etapas do cultivo e quase não se utilizavam insumos modernos. Outra característica da cadeia na época é a de que a agricultura empresarial ocorria apenas nas regiões Sul e Sudeste.
     Nesse período do cultivo do algodão no Nordeste surgiu a praga “bicudo do algodoeiro”, mais exatamente em 1983, que se instalou nos algodoais dos Estados da Paraíba  e São Paulo, e se espalhou com muita rapidez para outros campos de cultivo em todo o estado do Ceará. Isso provocou mudanças no trabalho de melhoramento e fez com que mais uma crise se instalasse no setor. A mudança na política de crédito rural, que dificultou o acesso de pequenos produtores, contribuiu para o alastramento do problema. Também fizeram parte do pacote da crise neste período as intervenções governamentais, que restringiram as exportações e a redução da alíquota de importação de 55% para 10% (em 1988) e para 0% (em 1991), além do câmbio defasado, que favoreceu a importação de grandes volumes de algodão, a prazos longos. 



       Por causa dessa  crise o país, e mais especificamente o setor, perdeu um milhão de empregados na lavoura, o fechamento de mais de 1.200 indústrias têxteis de pequeno e médio porte, com a redução de 500 mil empregos, e a perda do mercado exportador de pluma de algodão, além do prejuízo para milhares de pequenos e médios produtores.
      A recuperação da produção do algodão nacional começa a se estabelecer a partir de 1990 com a definição de novas estratégias para garantir o mercado. Duas metas foram definidas e trabalhadas: o algodão colorido no semiárido Nordestino e o algodão em bases empresariais no cerrado do Centro-Oeste e Nordeste.
     Novas cultivares foram desenvolvidas para a implantação do algodão colorido no semiárido, e foi trabalhada a valorização da produção artesanal, orgânica e familiar, com apoio a pequenas indústrias locais, geração de moda própria, consolidação da marca e marketing nacional e a organização da cadeia produtiva.  
     Os resultados colhidos foram significativos e impulsionaram a cotonicultura na região, como, por exemplo, o desenvolvimento e a validação de um sistema de produção de algodão colorido orgânico. A produção orgânica envolve hoje seis municípios e 50 associações de produtores. Na safra de 2005, na Paraíba por exemplo, a área plantada era de 4.600 hectares, com a geração de 1.300 empregos diretos.
     O Brasil tem condições de aumentar a área de produção em 30 a 50%  e a região Centro-Sul do estado do Ceará tem um grande potencial de expansão na cotonicultura. Outra projeção é que em 2010 sejam plantados dois milhões de hectares, abrangendo os Estados de Mato Grosso, Bahia, Goiânia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Tocatins, Maranhão e Distrito Federal, além do nosso Nordeste. 
     Uma ótima alternativa para a volta da produção do algodão em nossas terras seria o plantio em consórcio do algodão com outras culturas. Essas culturas consorciadas com algodão são destinadas à  subsistência  do agricultor familiar, enquanto o algodão é direcionado ao mercado, sendo responsável pela geração de renda desses pequenos produtores. Os pesquisadores da Embrapa Algodão (Campina Grande/PB), por meio de diversos projetos, incentivam essa prática como alternativa para o controle de pragas visando consolidar a produção dealgodão colorido dentro de um sistema de cultivo orgânico de maneira rentável e sustentável. Segundo os entomologistas da Unidade, os sistemas de cultivo em consórcio, também conhecidos como cultivo em faixas ou policultura, aumntam a biodiversidade do agroecossistema, tornando o ecossistema mais estável e reduzindo o problema de pragas em comparação com o sistema de monocultivo. 

 
     Poderíamos certamente ver o nosso orgulho resgatado se a nossa maior riqueza - o nosso ouro branco - pudesse ressurgir denovo. Em questão de lavoura, só se falava em algodão. Foi uma febre que atacava a todos, indistintamente. Funcionários, comerciantes, gente das cidades vizinhas que nunca lidou na terra, todos se aventuravam a ganhar dinheiro com algodão.
     A colheita, no município de Lavras por exemplo, chegava anualmente (década de 70) ao aprecíavel rendimento de 15 mil toneladas. Nossa região viveu o apogeu econômico entre as décadas de 60 e 70 justamente quando o algodão era a cultura mais representativa. Viveram-se dias de glória, de abundância, de mesa farta... Depois veio o declínio e ninguém mais banhava os cavalos com cerveja, nem mais lograva de  posição social por ser proprietário, nem era chamado de coronel por abastecer a cooperativa dos preciosos novelhos brancos. O sonho da riqueza foi substituido pela utopia da migração e nossos trabalhadores do cultivo algodoeiro foram parar em São Paulo.  Hoje, mutios deles ainda resistem, amparados por políticas sociais humilh  antes e desencorajadoras, que fazem com que o sertanejo, o cabra bom de roça, se ausente do prazer de ter em suas costas uma bolsa cheia de algodão, para ter uma BOLSA FAMÍLIA que o indignifica e o retrograda a cada dia...


Apogeu da safra do algodão em Aurora - CE (1974) - Cortesia: Site da Prefeitura Municipal de Aurora-CE.


Por: João Tavares Calixto Júnior - Biólogo, Mestre em Ciências Florestais
Fonte: Adaptado - Nordeste Rural/Embrapa Algodão 

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os Ambientalistas Instantâneos

    
  
     Na tentativa de cortejar quase 20 milhões de eleitores da candidata derrotada do PV à Presidência, Marina Silva, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) decidiram abraçar a causa verde no segundo turno. Mas a preocupação com o meio ambiente passou ao largo da propaganda eleitoral da petista e do tucano no primeiro turno.
     Dilma usou cerca de cinco minutos, dos 400 a que teve direito em seus programas de TV, para abordar o tema, o que corresponde a 1,25% do tempo. Serra gastou 2 minutos num total de 280 minutos, ou 0,71%.
     O levantamento feito pelo GLOBO levou em conta qualquer menção a obras, projetos ou compromissos ligados ao meio ambiente nos 40 programas de TV de Dilma e Serra no primeiro turno (de 17 de agosto a 30 de setembro).
     Nesse pálido discurso verde, o saneamento foi, de longe, o tema mais explorado. O assunto foi mencionado em 17 programas de Serra e em dez de Dilma. Por outro lado, problemas como as queimadas na Amazônia ou as mudanças no Código Florestal, que geraram calorosos debates, ficaram fora da propaganda da petista e do tucano.
     Depois de 3 de outubro, o discurso dos dois candidatos mudou. Serra disse, em São Paulo, que é um ambientalista convicto. Quatro dias depois, em entrevista a uma rádio de Chapecó, em Santa Catarina, voltou a desfraldar a bandeira verde: - Sou ambientalista, defendo muito o patrimônio florestal.
     Serra defendeu a flexibilização no projeto do Código Florestal, de modo a respeitar as características de cada região. E disse que a discussão não deveria ocorrer em ano eleitoral: - Nós vamos pegar isso ano que vem e discutir com todo mundo. E ter em mente a necessidade de preservar e ter incentivos econômicos para o desenvolvimento do país. Acho perfeitamente possível compatibilizar.
     Dilma também afinou o discurso. Tentou apagar o incêndio causado pelo fato de o governo ter realizado um seminário para discutir mudanças no Plano Amazônia Sustentável (PAS), herança da ex-ministra Marina Silva: - O meu programa de meio ambiente é o programa desenvolvido no governo nos últimos anos. É aquela base. É preciso avançar. Agora, as bases do Plano Amazônia Sustentável, eu acho que elas estão absolutamente corretas. Até porque seria uma contradição comigo mesma. Eu ajudei a elaborar, a participar. Coordenei uma parte.
     Os motivos pelos quais o meio ambiente ficou fora da propaganda dos dois candidatos são muitos. Para José Eli da Veiga, professor da USP e escritor, tanto na coligação que apoia a petista quanto na que está com o tucano, a maior parte das pessoas pensa o meio ambiente como "uma espécie de gavetinha".
- Num debate, uma jornalista perguntou para a Marina, que falava sobre meio ambiente: "Mas e as questões maiores do Brasil?". Para ela, o meio ambiente era menor. Ora, o meio ambiente é maior do que o Brasil. Os candidatos do PT e do PSDB não acordaram para essa questão. Se é que vão acordar. Eles estão com uma agenda do século passado. E esse discurso adotado agora é puramente oportunista - diz José Eli.
     O cientista político e jornalista Sérgio Abranches cita três razões para o fato de a questão ambiental ter passado em branco. Em primeiro, diz ele, as pesquisas que orientam os programas eleitorais no Brasil são focadas nos problemas, diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, onde elas são mais amplas, retratando as expectativas dos eleitores.
      Por último, diz que nem Dilma nem Serra pensam a questão ambiental como ela deveria ser no século XXI: - Eles acham que o meio ambiente é um capítulo, não a espinha dorsal. E, como ele não está na lista de problemas, eles tratam muito pouco disso. A mídia também não pergunta muito, porque não está na agenda da sociedade brasileira. O Brasil está atrasado nisso. Os candidatos expressam o atraso da sociedade na qual vão buscar os votos.
     Estudioso de programas eleitorais, o cientista político Emerson Cervi, professor da Universidade Federal do Paraná, diz que quase 50% do tempo da propaganda são gastos para passar a imagem do candidato, ficando a parte temática reservada para a outra metade. - A gente tem percebido que metade do programa é usada para apresentar a trajetória, a família, para mostrar pessoas falando do candidato - afirma Emerson. Na outra metade, diz ele, a propaganda fica atrelada às pesquisas de opinião, que ressaltam os problemas de sempre: - Há quem diga que meio ambiente importa para uma sociedade pós-economia consolidada. Se você tem problemas sociais, de educação, se você ainda tem mortes por doenças do século XIX, o meio ambiente não vai aparecer.
     Na saída de uma reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a coordenação da campanha de Dilma o presidente do PT, José Eduardo Dutra, admitiu que houve uma cobrança ao publicitário João Santana sobre a pouca abordagem, nos programas de TV, de temas ambientais: - Com certeza, é um dos temas que vamos abordar mais no segundo turno. Tivemos uma posição ousada em Copenhague, houve diminuição do desmatamento na Amazônia no governo Lula. Temos de ter capacidade de mostrar que esse conceito sempre fez parte do nosso ideário. 

João Tavares Calixto Júnior - Adaptado de O Globo (Paulo Marqueiro 16/10/2010)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Um pouco sobre a polítca ambiental pós-eleições no Brasil e em Lavras

   

      Os 135 milhões de brasileiros que foram às urnas neste domingo (3) tinham nas mãos a maior biodiversidade do planeta e a responsabilidade de escolher governantes preocupados com a temática. Entre os principais desafios brasileiros estão: reverter a derrubada de florestas, garantir meio ambiente saudável nas pequenas e grandes cidades e aliar crescimento econômico com preservação.
      Principal vitrine natural do país, a Amazônia já perdeu mais de 15% da cobertura florestal original. Em 2009, a taxa anual de desmatamento da região, medida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foi a menor dos últimos 20 anos, o que ainda representou 7,4 mil quilômetros quadrados (km²) de floresta derrubada em 12 meses.
      No Cerrado, a situação é mais crítica. O bioma já perdeu quase metade de sua vegetação original, principalmente para dar espaço à formação de pastos, áreas agrícolas e produção de carvão. Por ano, o Cerrado perde 14 mil km² de cobertura nativa, segundo cálculo do Ministério do Meio Ambiente.
      Os números mais recentes do desmatamento da nossa Caatinga mostram que 45% do bioma já foi derrubado. Apenas entre 2002 e 2008, a região perdeu 16,5 mil km², área equivalente a metade do estado de Alagoas.
      No Sul, o Pampa também está ameaçado, e atualmente está reduzido a 46% de sua área original, com 95 mil km² de vegetação derrubados até 2008, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
      Fora das florestas, os números também apontam desafios ambientais compatíveis com o tamanho do país. Depois de quase 20 anos em tramitação no Congresso Nacional, a Política Nacional de Resíduos Sólidos terá agora que ser implementada. Com a sanção da lei, o Brasil passou a ter um marco regulatório na área de resíduos sólidos. O texto prevê mecanismos para reverter, por exemplo, o baixo nível de coleta seletiva no país – apenas 8% dos municípios brasileiros têm o serviço – e a má destinação do lixo.
      Nas negociações ambientais internacionais, no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil tem o desafio de conseguir ser um dos mediadores entre os países ricos e os pares emergentes para garantir a preservação da biodiversidade e, em outra frente, tentar chegar a um novo acordo sobre redução de emissões de gases de efeito estufa.
      O certo é que os novos governantes terão que enfrentar problemas ambientais muito sérios no Brasil. Problemas estes, meandros de políticas desorganizadas elaboradas por esta mesma gente que sempre chega ao poder, a qualquer custo.
     Esperemos agora as próximas eleições, daqui a dois anos para prefeito e vereadores. Esperemos também, anciosos, que durante estes dois anos e alguns meses que ainda restam deste pleito em Lavras, possa ser feita alguma coisa em favor da causa ambiental e da educação.
     Colecionadora de uma grande quantidade de atitudes deselegantes, a atual prefeita municipal de Lavras da Mangabeira conseguiu ainda mais aumentar seus índices estatísticos de hostilidade com a população. Um desrespeito sem tamanho com o povo tão sofrido, desta terra que padece diante de tanto despreparo político coronelístico e feudal. Não se admite um descaso tão grande com a educação, ao ponto de se cortar o combustível do transporte escolar da zona rural, em virtude de indignação pessoal da excelentíssima gestora com o povo de sua terra, que começa de vez a dar o troco a esta forma de governo perversa e hostil.
      O ocorrido foi que o candidato a deputado estadual apoiado pela prefeita (Seu filho - Danniel Oliveira), não obteve uma votação representativa em sua terra natal. Alunos do Distrito de Iborepi, por exemplo, ficaram privados de irem à escola por causa desta "pirracinha" da nossa querida prefeita. Ora, ela queria ter votação expressiva numa terra abandonada por ela, onde os porcos acirradamente disputam com jumentos o título de maior população distribuída em suas ruas. Um distrito onde não existe água para o povo beber! É um absurdo!
      O imbróglio surgiu por que a soma da votação dos deputados estaduais contrários à vontade da nossa inquisitora foi de quase 3000 votos de maioria, sobre a votação de Danniel. Isto sem falar em mais de 7000 pessoas que não compareceram às urnas para manifestar o seu direito democrático. O Distrito de Quitaiús que praticamente não tem assistência nenhuma em segurança, saúde e habitação foi prova sucinta que o povo está mudando o seu pensamento diante da oligarquia implantada por um grupo que agora diz que não manda somente em Lavras, mas em todo o Ceará!
      O Rio Salgado terá grande enchente em breve (fenômeno natural sazonal em rios de ambientes semiáridos), nada foi feito após a última terrível inundação, existem ruas sem saneamento, o aterro funciona como lixão a céu aberto, o Riacho do Rosário está sendo contaminado por agrotóxicos, a arborização urbana está esquecida e a final, para onde está indo os 2% do orçamento do município destinado ao meio ambiente?

João Tavares Calixto Jùnior é Biólogo, Mestre em Ciências Florestais, Professor de Botânica e Saúde Ambiental da Faculdade Santa Maria - PB e de Biologia da Escola Alda Férrer em Lavras.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Lavras terá Workshop sobre Ações Prioritárias para Conservação do Boqueirão

   



          Lavras da Mangabeira poderá de uma vez por todas ver protegido o seu maior patrimônio natural: O Boqueirão. Trata-se da apresentação de um Workshop sobre estratégias a serem seguidas para criação da  Unidade de Conservação que envolve o Boqueirão, e a importância  da preservação de sua biodiversidade. O evento, ainda sem data marcada para acontecer, realizar-se-á na Câmara Municpal  e deverá contar principalmente com a participação popular, entidades não governamentais, escolas, líderes políticos, poder público municipal, representantes da sociedade civil e ONGs  até de municípios circunvizinhos.
       O Objetivo é sensibilizar a todos sobre a necessidade de se ter naquela área, um espaço preservado e administrado pelo poder público federal, onde práticas de educação ambiental, pesquisa científica, valorização cultural e ecológica da vida silvestre sejam resguardadas para as populações locais e regionais, podendo ser abertas ou não à visitação com intuito de lazer, de acordo com o tipo de unidade a ser criada. 
      O Workshop vem a ser o primeiro passo para a criação da Unidade de Conservação, onde os esclarecimentos iniciais sobre a importãncia desta implantação, assim como todos os seus resultados e impactos para as populações, são discutidos abertamente com o público presente que participa de forma ativa das discussões.
      Uma área com cerca de 650 ha de terra foi estipulada para servir de base para a dermacação total do local de estudo. O fato, é que se faz necessário um grupo de pesquisadores, estudiosos e especialistas técnicos em diversas áreas da ciências naturais para se elaborar um projeto técnico-científico a ser enviado ao MMA (Ministério do Meio Ambiente), que depois será repassado ao ICMBio ou IBAMA. Este projeto abrange estudos como levantamentos de fauna (insetos, mamíferos, aves, répteis, anfíbios, peixes, etc...), flora herbácea e lenhosa, levantamentos topográfico-geológicos, geomorfológicos, espeleológicos, cartográficos, análises de solo, água, estudo de impactos ambientais, estudos etnobotãnicos e etc.
      Atualmente 10 projetos para criação de novas Unidades de Conservação na Caatinga estão em trêmite segundo o governo federal, nas quais 7 são de proteção integral, 2 de uso sustentável e 1 ainda não definida.  
       Estão sendo investidos no ano de 2010 o valor de R$ 200 milhões  para a implementação dessas novas áreas e a expectativa é que haja um aumento de 761.658  ha (0,92% do bioma) para 2.466.037 ha (2,98%) das áreas de Caatinga conservadas. Os principais projetos são para o Parque Nacional da Serra Vermelha e Amplliação da Serra das Confusões (PI), o Monumento Natural dos Canyons do São Francisco (AL, SE e BA), Parque Nacional do Boqueirão da Onça (BA), Parque Nacional Dunas do Sçao Francisco (BA) e Parque Nacional Serra do Teixeira (PB).
      Esperamos que após a apresentação do Workshop, que priorizará a divulgação dos resultados de estudos realizados desde o ano de 2006, e a importância do "porque preservar o Boqueirão", tenhamos ferramentas de convencimento, para que se abra processo licitatório para contratação de empresa pública especializada em realizar o  projeto técnico que será o ponto culminante para a criação da UC, e que representará grande vitória para os Lavrenses que virão seu bestial cartão postal caatingueiro ser  mostrado pro mundo como dádiva da persistência, um oásis em um torrão um tanto quanto "negligenciado".

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dia da Árvore na Terra de São Vicente...

     


      O dia 21 de Setembro prenuncia a chegada da primavera, no dia 23, estação onde a natureza parece recuperar toda a vida que estava adormecida pelos dias frios de inverno.
      No Brasil, carregamos fortes laços com a cultura indígena que deu origem a este país; um deles é o amor e respeito pelas árvores como representantes maiores da imensa riqueza natural que possuímos. Os índios também utilizavam este período para iniciar a época de plantio, organizando-se pelo calendário lunar.
      Confirmando o carinho e respeito pela natureza, no Brasil, em 24 de fevereiro de 1965, formalizou-se o dia 21 de Setembro como o Dia da Árvore - o dia que marca um novo ciclo para o meio ambiente.
      Em Lavras da Mangabeira pôde-se perceber um certo "frenesi" causado por estudantes engajados em um movimento ambientalista que tenta sufocadamente dar importância às árvores na cidade. Desde o início do mês de setembro (2010), estudantes do ensino médio da Escola Alda Férrer participam do projeto de recontagem do numero de árvores existentes nas ruas, avenidas, praças e principais prédios públicos da cidade. O levantamento tem por objetivo diagnosticar os atuais problemas da arborização, apontar estratégias para um melhor manejo da flora urbana e comparar os novos dados com os do levantamento já realizado no ano de 2007 por estudantes da mesma escola. 
      Os alunos medem a altura total da árvore, sua circunferência à altura do peito e tratam de anotar de qual espécie estão se referindo. Os moradores de Lavras, por curiosidade e respeito, tentam sempre ajudá-los no que for necessário, e a partir disso, agradecemos à contribuição do povo da cidade.
      Infelizmente não existiu por parte da gestão pública nenhum movimento ativo, ou manifestação, ou pelo menos ato simbólico de se plantar uma muda sequer.
      O número de árvores em Lavras ainda é insuficiente. Segundo o levantamento realizado em 2007, e artigo científico publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana da USP, existiam naquele ano 2784 árvores, o que correspondia a 0,24 árvores por habitante, o que é irrisório se compararmos com a média estipulada pela UNESCO de 2 árvores por habitante. 
      Para se ter uma boa qualidade de vida em uma população, a existência de árvores nas ruas é de importância imensa. A existência de uma flora estruturalmente forte permite melhores condições de aeração, sombreamento mais intenso e um microclima que amenize as temperaturas tão exageradamente altas no período mais seco do ano.
      Além do número insuficiente de árvores, tem-se ainda o problema da homogeneidade de espécies, onde apenas 3 corresponderam ao total de 96% de todas as 23 espécies inventariadas no último levantamento. 
      Esperamos que um dia,  as árvores para Lavras possam ser algo indissociável. Algo que venha a ser considerado como ação prioritária e que se expanda com mesma intensidade para os distritos ainda mais esquecidos.
      Um Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente, desenvolveu a Campanha "Plante 7 Bilhões de Árvores". É um projeto mundial com o objetivo de encorajar o plantio de árvores nativas e de árvores que são apropriadas ao meio ambiente local, com o apoio de cidadãos e governantes. Este programa (O Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente) existe desde 1972 como agência da ONU que catalisa as ações brasileiras e internacionais que visam a proteção do meio ambiente por meio do desenvolvimento sustentável.
     O dinheiro para financiamento das ações existe, assim como a sua disponibilidade, o que faltam na verdade são projetos, ações, atitude e respeito com o Meio Ambiente.
      Para finalizar, aponto com louvor o ato isolado da Escola Alda Férrer que plantou uma muda de Juazeiro em seu pátio. Espera-se com isto, que nos próximos dias da árvore se possa lembrar da vez em que aquela foi plantada, mas suas irmãs negligenciadas e esquecidas principalmente por quem lhe aponta tanta importância nestas terras férteis de São Vicente Ferrer.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Temperatura na Região Semiárida aumenta mais que a média mundial


     De acordo com metereologistas, as temperaturas máximas e mínimas registradas na região semiárida nordestina, estão, de fato, ficando, ano após ano, mais elevadas, atingindo níveis muito superiores à média global. Por sua vez, as chuvas estão ocorrendo com maior intensidade, porém com menor frequência. "Estamos observando, com base nas séries históricas de dados de estações metereológicas continentais, que há uma tendência de aridização do semiárido nordestino, ou seja, que a temperatura do ar está aumentando e as chuvas estão se tornando mais episódicas na região", afirma o metereologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Nobre.



"Em alguns lugares do sertão nordestino a temperatura máxima diária aumentou até 3º C nos últimos quarenta anos, que é um número muito superior à média do aumento da temperatura global verificado no mesmo período, de 0,4º C", compara. De acordo com Nobre, em Vitória de Santo Antão, no sertão pernambucano, por exemplo, a temperatura máxima diária aumentou mais de 3º C nas últimas quatro décadas, saltando de 31,5º C para 35º C. Devido a esse aquecimento, a água disponível no solo da região está evaporando mais rapidamente e dando origem a nuvens maiores e mais carregadas de vapores de água que, ao se precipitarem, resultam em chuvas mais intensas, seguidas de longos períodos de estiagem. "Em outras regiões do País, como São Paulo e na Amazônia, isso também está acontecendo", indica o especialista. "Mas como chove muito nessas regiões, essa variabilidade climática demora mais tempo para ser percebida", explica.
     O especialista aponta que um dos principais impactos dessas mudanças climáticas no semiárido nordestino, onde as chuvas são anuais e costumam ocorrer no período de fevereiro a maio, é a diminuição da disponibilidade de água no solo da região.
     Em função disso, a prática da agricultura de sequeiro, que depende da água de chuva para o cultivo de culturas de subsistência, como feijão e milho, deve se tornar cada vez mais inviável no interior do nordeste. "Hoje, em várias regiões do semi-árido nordestino, e no futuro, em todo o sertão, as culturas agrícolas que apresentam uma alta demanda de água para plantio de sequeiro estão definitivamente condenadas", alerta. Por outro lado, Nobre analisa que essas mudanças no ciclo hidrológico nordestino beneficiam o cultivo de frutas pelo sistema de irrigação por gotejamento, que é praticado em cidades nordestinas como Petrolina, no Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia, em que são utilizadas pequenas quantidades de água para a plantação de uva e manga, entre outras frutas (MODELO SEMELHANTE PODERIA SER IMPLANTADO EM LAVRAS DA MANGABEIRA). Porém, como nem todo o solo do nordeste é apropriado para esse tipo de atividade agrícola e a água está sendo tornando escassa e cara na região, a recomendação do metereologista é que a economia nordestina seja baseada cada vez mais em atividades que apresentem menor dependência desse recurso natural.   
      Na opinião do pesquisador, as mudanças climáticas estão sendo vistas de uma maneira apocalíptica. Mas se forem tomadas as medidas necessárias, será possível se beneficiar das alterações do clima no futuro.  
     Para tanto, é preciso que haja uma capacitação em metereologia no Brasil em nível municipal, de forma que os tomadores de decisão recebam informações detalhadas sobre previsões de eventos extremos, como chuvas e secas intensas, e possam planejar suas ações de intervenção.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Onde estão as Mangabeiras de Lavras da Mangabeira?

        
                                                                             Foto: Fernando Tatagiba

        A mangabeira (Hancornia speciosa Gomes) é uma árvore frutífera de clima tropical, nativa do Brasil e encontrada em várias regiões do País, desde Tabuleiros Costeiros e Baixadas Litorâneas do Nordeste, onde é mais abundante, até os cerrados das regiões Centro-Oeste, Norte e Sudeste. Apresenta frutos aromáticos, saborosos e nutritivos, com ampla aceitação de mercado, tanto para o consumo in natura, quanto para a indústria.
        A palavra mangaba é de origem indígena e significa coisa boa de comer . A mangaba ou mangabeira pertence ao grupo das Eudicotiledoneas, ordem Gentianales e a família Apocynaceae  É uma árvore de porte médio, possuindo de 2 a 10 m de altura, podendo chegar a até 15 m, dotada de copa irregular, tronco tortuoso, bastante ramificado e áspero; ramos lisos e avermelhados. Toda a planta exsuda látex. Apresenta folhas opostas, simples, pecioladas, glabras, brilhantes e coriáceas. Sua inflorescência possui de 1 a 7 flores perfumadas e de coloração branca.       
        A mangabeira é uma planta perenifólia de clima tropical, ocorrendo, sobretudo, em áreas de vegetação aberta, com temperatura média ideal entre 24 e 26°C. Apresenta maior desenvolvimento vegetativo nas épocas com temperatura mais elevada e, a pluviosidade ideal pode estar entre 750 e 1.600 mm anuais. Os solos nos quais se desenvolve são pobres e arenosos, predominantes na região do Cerrado e Tabuleiros Costeiros.
       Apesar de ouvirmos falar nesta planta que empresta o seu nome a nossa cidade, não temos indícios desta árvore por aqui (Lavras e Microregião de Lavras da Mangabeira). A mangaba, que tem um potencial de aproveitamento muito variado, onde principalmente os frutos tem um valor comercial significativo é caracterizada antes de tudo por ter maior aplitude em ambientes de cerrado, e não de caatinga arbóreo-arbustiva e arbórea como temos acá.
        Estudos etnobotânicos realizados com populações tradicionais em Lavras não apontam a presença desta espécie como sendo típica da região. Os mesmos estudos em outras localidades indicam a eficiência da planta quando empregada contra tuberculose, úlceras, herpes, dermatoses e verrugas., já na região em questão, são outras espécies as citadas como úteis para os mesmos fins. Não há registros históricos que a citem como produtora de látex na região, já que foi bastante explorada no período áureo da borracha, entretanto, o melhor desempenho da borracha de Hevea brasiliensis se impôs sobre a sua produtividade.
          Nunca se saboreou na região, um sorvete de mangaba, ou um doce, ou compota, ou geléia ou licor, que fosse feito com o fruto retirado da planta no quintal de casa. Nunca se ouviu comentar por parte de nenhum apicultor local, de mel coletado em floração da planta e nem se viu também, a árvore que batiza a cidade querida, em suas ruas, praças ou avenidas.


          É preciso saber para onde foram as mangabeiras, quem as retirou, ou se pelo menos existiram um dia. Retifiquemos neste blog, portanto, o uso incorreto ou pelo menos incoerente, do termo: "Árvore muito comum na região" como tem-se visto em textos alusivos à etimologia do nome da cidade, inclusive no site Wikipédia e no próprio portal da Prefeitura Municipal. Muito provavelmente, a verdadeira toponímia explica o nome da cidade atribuída à exploração mineral (Lavras), realizada em grande parte na Fazenda do Padre Antônio Gonçalves Sobreiro (Fazenda Mangabeira) em meados do século XVIII. Por que o nome da cidade vêm da homenagem à árvore que insistimos hoje em procurá-la e não encontramos, nem parte de seus resquícios? Poderia desta forma, se elaborar um trabalho etnobotãnico, histórico, dirigiido, onde se pudesse resgatar a origem da mangaba em nossa terra e o motivo do verdadeiro nome da cidade.

                                                      Foto: Fernando Tatagiba
                                                  
        Já que não se pode ignorar a homenagem batizada há tanto tempo e imortalizada, que pelo menos se plante a espécie em nossos fincões, e que seja divulgada como sendo de importância histórica e cultural, pra que um dia possamos falar de suas vantagens ecológicas e se lambuzar com o delicioso doce de sua fruta retirada do pé em frente a calçada de casa.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Os dez anos mais quentes do milênio


         Embora não possa ser cientificamente comprovado (ou, a propósito, negado) que o aquecimento mundial causou algum evento extremo em particular, podemos dizer que o aquecimento mundial muito provavelmente torna vários tipos de condições meteorológicas extremas mais frequentes e mais intensas", escreve Stefan Rahmstorf, professor de Física dos Oceanos na Universidade de Potsdam e membro do Conselho Consultivo Alemão sobre Mudanças no Mundo, em artigo publicado pelo jornal Valor, 17-08-2010.
         Segundo o cientista, "com ações débeis, como as prometidas pelos governos na conferência de Copenhague em dezembro do ano passado, estaremos a caminho de 3º ou 4º Celsius de aquecimento mundial. Isso provavelmente ultrapassará a capacidade de adaptação de muitas sociedades e ecossistemas. E se nada for feito, o planeta poderá até mesmo aquecer entre 5º e 7º Celsius até o final deste século - e ainda mais, depois. Marchar conscientemente nesse caminho seria insano".



 Sobre o artigo:

         Este verão tem apresentado extremos relacionados com o clima na Rússia, Paquistão, China, Europa, no Ártico - e muitos outros lugares. Mas terá isso algo a ver com o aquecimento mundial, e serão as emissões humanas as culpadas?
        Embora não possa ser cientificamente comprovado (ou, a propósito, negado) que o aquecimento mundial causou algum evento extremo em particular, podemos dizer que o aquecimento mundial muito provavelmente torna vários tipos de condições meteorológicas extremas mais frequentes e mais intensas.
        Durante semanas, a Rússia central esteve nas garras da sua pior onda de calor na história, que provavelmente causou milhares de mortes. Como resultado da seca e do calor, mais de 500 incêndios grassaram, descontrolados, sufocando Moscou com fumaça e pondo em risco várias instalações nucleares. O governo russo proibiu as exportações de trigo, o que fez disparar os grãos em todo o mundo.
         Enquanto isso, o Paquistão está lutando com inundações sem precedentes que já mataram mais de mil pessoas e afetaram outros milhões. Na China, as enchentes já mataram mais de mil pessoas e destruíram mais de um milhão de casas. Em menor escala, países europeus como a Alemanha, Polônia e República Checa também sofreram graves inundações.Enquanto isso, as temperaturas mundiais nos últimos meses estiveram em seus níveis mais elevados em registros que remontam a 130 anos. A capa gelada do mar Ártico atingiu seu mais baixo nível médio registrado num mês de junho em todos os tempos. Na Groenlândia destacaram-se dois enormes pedaços de gelo em julho e agosto.
           Todo clima é influenciado por energia, e o sol, em última instância, fornece essa energia. Mas a maior mudança na conta corrente energética terrestre deve-se, de longe, à acumulação, na atmosfera, de gases causadores do efeito de estufa, que limitam a transmissão de calor para o espaço. Devido às emissões de combustíveis fósseis, há hoje um terço a mais de dióxido de carbono na atmosfera do que em qualquer momento há pelo menos um milhão de anos, como revelou a perfuração da mais recente amostra de gelo na Antártida.
           As mudanças no balanço energético do planeta causadas por variações solares são pelo menos dez vezes menor, em comparação. E elas vão na direção errada: nos últimos anos, o sol tem estado mais fraco desde que as mensurações por satélites começaram em 1970. Assim, quando eventos climáticos extremos sem precedentes ocorrem, o principal suspeito é, naturalmente, a maior mudança na atmosfera ocorrida no curso dos últimos cem anos - que foi causada por emissões humanas.
          O fato de ondas de calor como a registrada na Rússia se tornarem mais frequentes e extremas num mundo mais quente é fácil de compreender. A ocorrência de chuvas extremamente fortes também se tornou mais frequente e intensa em um clima mais quente, devido a outro simples fato da física: ar quente pode reter mais umidade. Para cada grau Celsius de aquecimento, 7% mais água fica disponível para despencar de massas de ar saturado. O risco de secas também aumenta com o aquecimento - mesmo onde a chuva não diminui, maior evaporação seca o solo.
         O efeito do dióxido de carbono também pode alterar os padrões dominantes da circulação atmosférica, o que exacerba extremos de calor, secas ou chuvas em algumas regiões, reduzindo-os em outras. O problema é que a redução nesses extremos aos quais já estamos bem adaptados resulta em benefícios apenas modestos, ao passo que novos extremos aos quais não estamos adaptados podem ser devastadores, como mostram os recentes acontecimentos no Paquistão.
          Com ações débeis, como as prometidas pelos governos na conferência de Copenhague em dezembro do ano passado, estaremos a caminho de 3º ou 4º Celsius de aquecimento mundial. Isso provavelmente ultrapassará a capacidade de adaptação de muitas sociedades e ecossistemas. E se nada for feito, o planeta poderá até mesmo aquecer entre 5º e 7º Celsius até o final deste século - e ainda mais, depois. Marchar conscientemente nesse caminho seria insano.
         Devemos encarar os fatos: nossas emissões de gases estufa são, provavelmente, ao menos parcialmente culpadas por esse verão de extremos. Apegar-se à esperança de que tudo é fruto de acaso e natural parece ingênuo. Esperemos que este verão de extremos seja um grito de alerta de última hora a ser ouvido por autoridades decisórias, pelo mundo empresarial e pelos cidadãos.

Fonte: IHU - João Tavares Calixto Jùnior (Adaptado - Portal do Meio Ambiente)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O Uso do "SAP" para o Combate à Desertificação no Semiárido.


       O Brasil passa a ter, a partir deste mês (08/2010), uma importante ferramenta para combater e controlar a desertificação na região do semiárido. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, assinaram um acordo que trata da elaboração do Sistema de Alerta Precoce de Secas e Desertificação (SAP). A cerimônia foi na sede do Ibama, em Brasília, durante a II Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD).
      Com o SAP, o Governo Federal terá informações fidedignas que serão capazes de prever períodos de seca no semiárido brasileiro e, dessa forma, identificar exatamente os cenários atuais de vulnerabilidade resultantes do uso da terra, com ênfase nas questões da desertificação. Além disso, o sistema pode traçar situações futuras em decorrência das mudanças climáticas. "Esse monitoramento vai permitir que haja uma antecipação nas ações contra a desertificação, e não esperar acontecerem os problemas para depois agir", argumentou Izabella Teixeira.
      No primeiro ano do acordo será elaborado o banco de dados estatísticos e meteorológicos de sensoriamento por satélite, com informações que assegurem a observação dos danos em regiões afetadas e ampliem o conhecimento e avaliação dos efeitos da seca e desertificação. Isso permitirá o acompanhamento das consequências do aumento da temperatura global sobre a região do semiárido. Essas informações vão orientar a construção de políticas públicas integradas, em conjunto com a sociedade, para enfrentar a degradação das terras nas regiões mais secas do País.
      A ministra do Meio Ambiente fez uma ressalva em relação ao período de transição que o mundo está passando por causa das mudanças climáticas. "Estamos falando do uso sustentável dos recursos naturais, da conservação da biodiversidade, da conservação da vida. Com as ações desse novo acordo e com todas as decisões que o Governo Federal tem tomado, queremos chegar a um ponto: ter o menor dos prejuízos do prejuízo que inevitavelmente vai acontecer", afirmou Izabella Teixeira, referindo-se às incertezas climáticas.
      O diretor do Inpe, Gilberto Câmara, frisou que o SAP vai apoiar a Comissão Nacional de Combate à Desertificação (CNCD) num momento em que o mundo está vivendo uma "tragédia anunciada" por causa dos efeitos das mudanças climáticas. "Com o sistema, vamos ampliar a qualidade das informações. Em particular, no Nordeste, onde há aumento da vulnerabilidade", citou Câmara, acrescentando que a falta de ação mundial, principalmente por parte de alguns países desenvolvidos, possibilitou a piora desse quadro.

Rogério Ippoliti (Icid + 18) - Adaptado

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Nossa Flora em Chamas: Boqueirão de Lavras pactua com aumento de 85% dos focos de incêndio no Brasil.

      Pesquuisador Luiz Domingos de Luna em visita ao Boqueirão de Lavras - período antecedente aos incêndios . (Julho de 2010). 

      Ao se prolongar o período de estiagem (época das secas nas caatingas nordestinas), vê-se normalmente o hábito das queimadas em áreas agrícolas e florestais a se alastrar, agravando o problema que tende a crescer a cada dia, de Norte a Sul. Vê-se entretanto, grandes dificuldades de logística para a sua contenção. De acordo com relatório do Inpe, é a primeira vez, desde 2007, que se registra crescimento no número de focos de incêndio. Este número, acumula-se desde o dia 1.º de janeiro até ontem (15/08) e cresceu 85% em comparação ao mesmo período de 2009. O satélite NOAA-15, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou 25.999 focos de incêndio em todo o País. De janeiro a agosto de 2009 haviam sido registrados 14.019 focos.
      Em Lavras da Mangabeira, boa parte da vegetação caducifólia espinhosa intacta existente na Serra do Boqueirão está ardendo. O fato acontece de forma sazonal constante e é principalmente inflamado pela falta de fiscalização e controle na região. A ação de caçadores e dos moradores do entorno da Serra  ajudam  a dar início às queimadas descontroladas, que aliada às caracteríticas naturais do ambiente xeromórfico, facilmente são disseminadas. Não existe uma política de punição a infratores, trabalhos de educação ambiental (salvaguardando alguns projetos isolados em alguns educandários), ou mecanismos de prevenção e controle de focos de incêndio.

Presença do fogo: Rastro visível de destruição da biodiversidade

      A flora do boqueirão, por vegetar em condições geo-litológicas diferentes da parte mais baixa do municipio, apresenta peculiaridades que gritam por conservação. Espécies arbóreas que frequentam a lista do IBAMA das ameaçadas de extinção, se transformam lentamente em carvão em meio ao descaso e impunidade vigentes. São Mulungus, Aroeiras, Braúnas, Golçalos-Alves, Carobas que gritam por socorro e pedem urgência. A caatinga é o bioma mais negligenciado com relação à conservação de sua biodiversidade, e apenas 3% de seus domínios estão protegidos sob forma de Unidades de Conservação, sendo apenas 1,7% em Unidades de Proteção Integral. 
      O Boqueirão de Lavras, área de relevante beleza cênica, paisagística e ecológica, suplica por um olhar, por um abraço amigo que deixe transparecer respeito e gratidão, e atente ao fato da inigualável importância que o mesmo tem para Lavras da Mangabeira e o Estado do Ceará. Esquecido como está, sem haver sequer uma sombra de interesse em  transforma-lo em  Unidade de Conservação (nunca se pensou em abrir licitação para contratação de empresa especializada para esta função), o Boqueirão está padecendo, e sucumbirá num futuro não muito distante, diante de ações e omissões que o assemelham mais a um comentário besta no jornal de ontem, do que prontamente a um cartão postal bestial, de tamanha imponência e magnitude como o é.


Aspecto da Composição Florística da Serra do Boqueirão de Lavras (Antes e após incêndio) 














Imgens: João Tavares Calixto Júnior
Cortesia: Blog do Geopark Araripe (incêndio)

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Lavras: Política Municipal de Educação Ambiental completa 1 ano (de esquecimento)!

      No dia 03 de junho de 2009 foi promulgada na Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira o projeto de Lei nº 012/2009 que insituiu a política de Educação Ambiental no municipio de Lavras da Mangabeira e outras providências. O texto foi colocado em apreciação e posteriormente aprovado pelos vereadores de forma unânime. Seria este um passo importantíssimo para uma maior valorização do Meio Ambiente na Terra de São Vicente Ferrer. O projeto de autoria do vereador Nilton Alves de Queiroz trouxe à tona uma importante ferramenta à educação e ao meio ambiente do município: A implantação da disciplina de educação ambiental no currículo da rede pulibca municipal de ensino, além de outros pontos. Depois de feitas as discussões sobre o tema no próprio paço municipal e sugeridas modificações e incrementações ao projeto, a Lei foi criada e divulgada aos lavrenses perante os meios de comunicação, a exemplo a Rádio Boqueirão FM.  Um passo importante para uma real valorização do que temos de mais precioso: o futuro dos nossos jovens.
      A problemática está na ação (ou omissão) dos que realmente deveriam dar execução ao projeto (PODER EXECUTIVO), já que a parte primordial já tinha sido feita pelo Legislativo (A LEGISLAÇÃO). Na teoria seria tudo muito bonito, o legislativo legislando (fazendo a lei) e o executivo executando-a. Acontece que até agora nada foi feito pela atual gestão municipal que virou as costas para os problemas ambientais do município.
      Se já não bastasse todo o imbróglio vivido pela educação municipal (INGERÊNCIA ADMINISTRATIVA, ATRASO NO PAGAMENTO AOS PROFESSORES E MOTORISTAS DO TRANSPORTE ESCOLAR, DISCUMPRIMENTO DA LEI DO PISO, DESVALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DO MAGISTÉRIO, INOPERÂNCIA DE PCC, IRREGULARIDADES NA MERENDA ESCOLAR, FECHAMENTO DE ESCOLAS NA ZONA RURAL, ENTRE OUTROS), temos que conviver agora com todo esse descaso para com o meio ambiente.
      Não cabe neste momento ao autor deste blog sugerir ações a serem tomadas, o mais oportuno é, entretanto, esperar por dias melhores.. Pedir a Deus que ilumine a cabeça dos eleitores nestas próximas eleições e nas que se seguem, para que escolham representantes que não nos façam vergonha ou pelo menos que não riam tanto, e de forma tão escrachada da nossa boa vontade.

sábado, 17 de julho de 2010

Extração de areia do Rio Salgado: Isso é bom ou ruim?

 

     A retirada de areia do leito e das margens do Rio Salgado está provocando uma drástica devastação de sua qualidade e de suas características gerais. O fato é que a extração ao longo dos seus meandros, que acarreta a formação de portos de areia, está provocando inúmeras mudanças no seu curso natural, aprofundando o leito central, criando braços mortos, alargando suas margens e baixando rapidamente o nível da lâmina d'água. Essas alterações ainda podem provocar outros problemas, como o descobrimento do sistema de captação de água das cidades banhadas pelo mesmo, além da diminuição da velocidade das águas e da capacidade de dispersão de poluentes e detritos, aliado a um completo descontrole de sua vazão. A reação do Rio a essas mudanças ocorre de forma em que fauna e flora aquáticas vão se adaptando aos poucos às novas condições ambientais.
    O índice de extração aumentou muito desde a segunda metade da década de 1990 e alcançou seu ápice exatamente nos dias atuais, devido principalmente ao estímulo à construção civil. Nunca se construiu tanto em Lavras da Mangabeira e cidades adjacentes (Missão Velha, Aurora, Icó) e o resultado desta aceleração é o desaparecimento dos bancos de areia, a retirada quase que total da flora ciliar e o crescimento vertiginoso da exploração ilegal e predatória. 
    O que se faz hoje com a exploração de areia do Rio Salgado é tão criminoso quanto as várias formas de poluição que o atingem desde o seu nascedouro, na Chapada do Araripe.
    É importante salientar ainda, que essas práticas tendem ainda a aumentar com a completa ausência de fiscalização e conivência de algumas autoridades competentes.
    Nunca existiu um estudo aprofundado sobre as alterações provocadas pela extração de areia no Rio Salgado, mas de acordo com inventário realizado e publicado no trabalho intitulado "Estrutura e utilização da flora ciliar do Rio Salgado, Lavras da Mangabeira", publicado nos anais da XXX Reunião Nordestina de Botânica (2007), demonstra que a exploração de areia, com a consequente retirada da vegetação ciliar provocou alterações no curso das águas. Em estudo etnobotânico, realizado durante a elaboração do mesmo trabalho, foi possível evidenciar que os moradores ribeirinhos sentem a falta de espécies vegetais antes existentes nos leitos do rio, assim como um grande desgaste do percurso das águas causado pela extração de areia.

    Um Rio tão importante como o Salgado, que corta cidades com tanta significância para o Ceará, não pode viver ao sabor de "alavancamentos" da construção civil e sem nenhum respeito às suas caracteírsticas físicas e bióticas. Recomenda-se neste blog, que sejam realizados estudos específicos para indicar os locais mais adequados à extração de areia, assim como estratégias de controle, fiscalização e inibição desta prática que desrespeita a vida.

Por: João Tavares Calixto Jùnior

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Morte do Rio Salgado - Por Luiz Domingos de Luna*-

É urgente uma política de conscientização sobre a importância da relação entre o homem e seu espaço geográfico, pois, o nível de harmonia entre os seres vivos e o meio ambiente é condição básica para a continuidade da vida no planeta. Este artigo é um sinal de alerta para que as autoridades, as instituições e a sociedade como um todo possam refletir que o progresso, a ocupação humana de forma desordenada e, a interatividade social, sem uma preocupação com o meio ambiente, sem uma política consistente de avaliação sobre os ecossistemas, e, principalmente, sobre a agressão gratuita ao Rio Salgado pode se converter numa situação irreversível e danosa a toda a população da região do Cariri; com implicações devastadoras para todo o sul do Estado do Ceará, Os Impactos ambientais causados pela violência com o Rio Salgado, já são visivelmente sentidos pela diminuição e, até mesmo, extinção da fauna fluvial e da flora ciliar, pois, ao primeiro contato com os habitantes mais antigos que viveram toda sua vida ao lado do leito do rio, se observa um clima de saudosismo, tristeza, onde enumeram inúmeras espécies de peixes, aves e vegetação que já não existem e, muitas vezes, são raros os exemplares que até bem pouco tempo existiam em abundância. O Rio Salgado é uma prova viva da rapidez de destruição deste ecossistema, tão importante e vital para a nossa região. As recentes enchentes, onde centenas de casas, pontes e barragens, foram destruídas pelo Rio Salgado (janeiro/fevereiro, 2008) é uma reação violenta da natureza, quando esta, é agredida, gratuitamente, sem nenhum planejamento, sem nenhum estudo científico prévio, e, quando é tratada sem seriedade pelo homem. Enquanto a água está sendo reconhecida mundialmente como o bem mais precioso do século, o Rio Salgado está morrendo, pois os dejetos e resíduos domésticos, industriais, hospitalares e públicos estão sendo despejados no rio que corta os municípios de Crato-Ce, Juazeiro do Norte-Ce, Barbalha, Brejo Santo, Missão Velha, Milagres, Caririaçu, Aurora, Lavras da Mangabeira, Cedro e Icó desembocando no Rio Jaguaribe abaixo do açude Orós, {após a ponte de Piquet Carneiro} ao longo deste percurso, o Salgado é poluído e como conseqüência contamina o lençol freático da região. O Rio Salgado necessita urgentemente de uma limpeza geral, uma política educacional escolar de conscientização ecológica, a, também, mapeamento de todas espécies que são o relato vivo "de priscas eras" do renomado patrimônio geográfico do Ceará, na compreensão da consistência do solo, fauna e flora – BUQUEIRÃO DE LAVRAS DA MANGABEIRA Certidão de nascimento da composição química e biológica(amostras de plantas do cerrado),( amostras de morcegos em extinção) ao sabor de sua caverna, um historia que porta no seu DNA o fragmento de uma geografia que não deve calar.
Urge assim, que iniciativas como a do renomado pesquisador e biólogo caririense João Tavares Calixto Júnior, seja, Praza Deus! Uma constante, a todos nós biólogos e estudiosos dos fragmentos de uma bola por enquanto – Ainda azulada – Planeta Terra.
(*) É colaborador do blog de Lavras

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Nascimento da Consciência Ecológica


Por: Luiz Domingos de Luna*

O cheiro dos seres humanos é algo muito forte, via de regra, usamos os nossos sentidos como janelas para o mundo individual, de fato, a silhueta do homo sapiens corrobora para a o egocentrismo do nosso ser, nós somos meros captadores e consumidores de meio externo, porém, não há uma preocupação com a natureza, até parece, que esta despreocupação está timbrada no nosso DNA, em prosseguimento, as formas sociais vão desenhando o espaço pensamental de cada um, pois, vive-se numa eterna fábrica de seres humanos, ou desumanos, o circulo cultural permeado, tem um potencial modificador, capaz inclusive, de mascarar o direcionamento biológico na conspiração cotidiana de destruição do espaço, ao custo de reclames da mãe natureza, a chorar eternamente em berço esplêndido. Por enquanto e até quando?

O Contrato Social é a base, ou motor primeiro, para a harmonia do homem no espaço tempo, vez que, um contrato obsoleto cria sempre a preocupação com o substrato dos seres humanos na fixação no planeta terra, masmorras para sociedade, ou presilhas inoportunas, que inviabilizam a harmonia na floresta humana e, na maioria das vezes, um deserto árido para o meio ambiente.

O Nascimento pleno da consciência ecológica nasce, quando o ser humano for capaz de colocar a sua objetiva para o mundo exterior, observar a paisagem existencial geográfica, observar que o disforme ecológico, é uma coletânea dos disformes individuais e sociais, a elasticidade do tempo, esta geléia vai ganhando corpo, solidez e unicidade. É este monstro que assusta a sociedade e a coletividade humana como um todo - O Homem como o centro de destruição do planeta terra.

Falta ao ser humano o pigmento radioativo do bem comum, em todas as suas dimensões, desde o menor tecido sociológico ao maior.

Desde o mais frágil ecossistema(...)

Enquanto não existir uma conscientização de contrato social que dê a legitimidade, a legalidade as inúmeras espécies que formam a variante do conjunto da totalidade, do todo em partes, da biodiversidade existencial, das forças internas presente em cada um, para a disposição, da aptidão do estar sempre a serviço do bem comum e, do crescimento com sustentabilidade ecológica, por que no final das contas, somos a massa humana planetária em movimento, num carrossel giratório, na roldana deste tapete tortuoso – todo planeta sofre, se abala e chora.

(*) Professor- Aurora -Ceará

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Festas Juninas: Enquanto se festeja a vida, a natureza lamenta a morte.

Um mês inteiro em que as pessoas se confraternizam, numa época de fartura, tendo em vista que corresponde a época da colheita do milho e do feijão. Neste período ocorrem os festejos juninos, onde tem forte expressão a queima da lenha em fogueiras que são acesas principalmente nas datas comemorativas do Dia de Santo Antonio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06).

Há mais de 2000 anos, por exemplo, quando estas festas ocorriam inicialmente como um culto do paganismo romano, posteriormente adaptado como um culto católico, a pressão sobre os recursos naturais era muito baixa, os avanços científicos eram incipientes e a população mundial, segundo a enciclopédia Britânica, era de aproximadamente 300 milhões de habitantes.

Atualmente a população do planeta chegou a 6,5 bilhões de habitantes, com um desenvolvimento tecnológico e industrial inimaginável, resultando em forte pressão sobre os elementos naturais, degradando o meio natural e com a produção de resíduos artificiais.

No caso da região de clima semiárido um grave problema ambiental, além da pobreza é o desmatamento da vegetação nativa, em termos gerais inexistem ações voltadas para o manejo da caatinga.

A madeira proveniente dos desmatamentos vai alimentar fornos de olarias, padarias, siderúrgicas; para o cozimento de alimentos, aquecimento de ambientes; como material de construção, incluindo estruturas de madeira, produção de móveis e utensílios domésticos e objetos de arte.

O período junino alimenta fogueiras. Diante do perigo de desertificação a que está sujeito o semiárido é preciso repensar este hábito milenar com base na ética da sustentabilidade ambiental, tendo em vista que no século XXI precisamos pensar em alternativas que causem menores impactos ambientais.

No município de Lavras da Mangabeira uma fogueira tem um volume médio de madeira empilhada de 0,74 st, considerando que 30% das residências acendem uma fogueira no período junino, tem-se 2900 fogueiras. A área desmatada para fornecer lenha para estas fogueiras corresponde a 69 hectares de caatinga medianamente preservada.

As espécies mais utilizadas no município para se confeccionar a fogueira são Catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tull), Jurema-Preta (Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir.), Mofumbo (Combretum leprosum Mart), Marmeleiro (Croton sonderianus Muell. Arg.).

As florestas têm um importante papel na manutenção da vida: influem no clima, tornando-o mais ameno; conservam as fontes de água, favorecem que as águas da chuva infiltrem e ocorra menor erosão do solo; diminuem a velocidade dos ventos. Servem de abrigo e alimentação para os animais terrestres e alimentação para os aquáticos; aumenta a fertilidade natural do solo. Além de ser espaço para o lazer.

A falta de uma cultura que valorize o replantio de árvores tem causado sérios problemas ambientais para o semi-árido, por exemplo, Segundo Maia, (2004) “o nosso sertanejo não se preocupou em repor essas árvores, porque pensou que ‘no mato tudo cresce sozinho, não é preciso plantar mato’. Ele continuou apenas colhendo durante várias décadas. Isso, junto com o sobrepastoreio pelos rebanhos, levou ao empobrecimento da vegetação nativa que se encontrava na propriedade dele. Vinte ou trinta anos depois quando seus filhos queriam construir uma casa para sua família não tinha mais madeira de aroeira ou outra espécie adequada nas dimensões desejadas”.

Se for impossível abrir mão desta tradição sugere-se as seguintes alternativas para minimizar o uso de lenha no período junino: fogueiras comunitárias (sem aumentá-la de tamanho!), Fogueiras com material de demolição (restos de construção) e uma maquete de fogueira.

Façamos a nossa parte por uma caatinga menos devastada!

“SE TIVÉSSEMOS CONSCIÊNCIA DO TEMPO QUE A NATUREZA LEVA PARA SE RECUPERAR DO MAL CAUSADO PELA RETIRADA INDISCRIMINADA DE LENHA, PRECISARÍAMOS DE UM MOTIVO MAIOR QUE A TRADIÇÃO PARA QUEIMAR FOGUEIRAS”