A retirada de areia do leito e das margens do Rio Salgado está provocando uma drástica devastação de sua qualidade e de suas características gerais. O fato é que a extração ao longo dos seus meandros, que acarreta a formação de portos de areia, está provocando inúmeras mudanças no seu curso natural, aprofundando o leito central, criando braços mortos, alargando suas margens e baixando rapidamente o nível da lâmina d'água. Essas alterações ainda podem provocar outros problemas, como o descobrimento do sistema de captação de água das cidades banhadas pelo mesmo, além da diminuição da velocidade das águas e da capacidade de dispersão de poluentes e detritos, aliado a um completo descontrole de sua vazão. A reação do Rio a essas mudanças ocorre de forma em que fauna e flora aquáticas vão se adaptando aos poucos às novas condições ambientais.
O índice de extração aumentou muito desde a segunda metade da década de 1990 e alcançou seu ápice exatamente nos dias atuais, devido principalmente ao estímulo à construção civil. Nunca se construiu tanto em Lavras da Mangabeira e cidades adjacentes (Missão Velha, Aurora, Icó) e o resultado desta aceleração é o desaparecimento dos bancos de areia, a retirada quase que total da flora ciliar e o crescimento vertiginoso da exploração ilegal e predatória.
O que se faz hoje com a exploração de areia do Rio Salgado é tão criminoso quanto as várias formas de poluição que o atingem desde o seu nascedouro, na Chapada do Araripe.
É importante salientar ainda, que essas práticas tendem ainda a aumentar com a completa ausência de fiscalização e conivência de algumas autoridades competentes.
Nunca existiu um estudo aprofundado sobre as alterações provocadas pela extração de areia no Rio Salgado, mas de acordo com inventário realizado e publicado no trabalho intitulado "Estrutura e utilização da flora ciliar do Rio Salgado, Lavras da Mangabeira", publicado nos anais da XXX Reunião Nordestina de Botânica (2007), demonstra que a exploração de areia, com a consequente retirada da vegetação ciliar provocou alterações no curso das águas. Em estudo etnobotânico, realizado durante a elaboração do mesmo trabalho, foi possível evidenciar que os moradores ribeirinhos sentem a falta de espécies vegetais antes existentes nos leitos do rio, assim como um grande desgaste do percurso das águas causado pela extração de areia.
Um Rio tão importante como o Salgado, que corta cidades com tanta significância para o Ceará, não pode viver ao sabor de "alavancamentos" da construção civil e sem nenhum respeito às suas caracteírsticas físicas e bióticas. Recomenda-se neste blog, que sejam realizados estudos específicos para indicar os locais mais adequados à extração de areia, assim como estratégias de controle, fiscalização e inibição desta prática que desrespeita a vida.
Por: João Tavares Calixto Jùnior
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