Registraremos em rápidos traços neste
ensejo, algumas achegas para a história da Igreja Católica Apostólica Romana no
município sertanejo de Aurora, denominado outrora, e antes de se proclamar Vila d'Aurora, de Venda ou Venda Grande, pertencente em primórdios à circunscrição de
Icó e posteriormente, Lavras da Mangabeira.
Antes, entretanto, de quanto
interessa neste tocante, lembremos que, de fato, não foi a atual igreja do
Senhor Menino Deus de Aurora, o primeiro domo erigido nesta comuna cearense. Trata-se
o primeiro, conforme adjutórios documentos recolhidos nas Paróquias de Icó,
Missão Velha, Lavras da Mangabeira e na Cúria Diocesana em Crato, assim como em escritos dos mais
abalizados historiadores cearenses, da Capela de São Benedito, solevada por
Benedito José dos Santos, ao qual, oportunamente, e em outra ocasião,
destacaremos.
Importante diante do ineditismo que o cerca, pomos termo ao
vertente delineamento observando o que consta no Livro de Tombo da Matriz do
Senhor Menino Deus, escrito aos 30 de julho do ano de 1943 pelo Padre
Murillo de Oliveira Campos, secretário da visita do Bispado Diocesano à
citada Freguesia, em virtude da comemoração dos 50 anos de
sua criação (1893-1943).
Segue na íntegra a transcrição da Ata
solene com convenientes atualizações ortográficas:
Ata
da Sessão Solene comemorativa do Cinquentenário da criação da Freguesia do
Senhor Menino Deus de Aurora.
“Aos trinta dias do mês de julho do
ano de mil e novecentos e quarenta e três, nesta cidade de Aurora, Estado do
Ceará, no Auditório da “Associação Beneficente Aurorense”, na presença dos Exmos
e Revmos Srs. D. Francisco de Assis Pires (1), Bispo Diocesano, Pe.
Vicente Augusto Bezerra (2), Vigário desta Paróquia, Pe. Januário
Campos (3), Pe. João Begon, Pe. Francisco Blieste, estes dois
últimos missionários da Sagrada Família, e de uma numerosa e seleta
assistência, realizou-se a sessão solene comemorativa da criação da Paróquia do
Senhor Menino Deus de Aurora.
Antes de aberta a sessão foi cantado
pela assistência um hino de saudação ao Exmo. Sr. Bispo, sendo as últimas notas
abafadas por uma calorosa salva de palmas.
Abriu a sessão o Revmo Vigário Pe.
Vicente Augusto Bezerra que passou a presidência ao Exmo. D. Francisco.
Em primeiro lugar, ocuparam a
tribuna o Revmo Pe. Januário Campos, que proferiu brilhante e comovedora oração
(ilegível), sobre a criação da Paróquia de Aurora, elogiando o desbravamento
dos ex Vigários e enaltecendo a laboriosa obra espiritual e moral do Pe.
Vicente Augusto Bezerra, que empregou e sacrificou a sua mocidade em fazer o
bem a esta terra.
Lembrou, também, a signa humilde e
respeitável de Luiz Gonçalves Maciel (4), zeloso fundador, nesta
terra, das confrarias de S. Vicente de Paulo, sob cujos auspícios foram
celebrados estas festas.
Terminando, fez uma linda e justa
saudação ao Exmo. Sr. Dom Francisco.
A Professora Ivone Macêdo (5)
recitou uma encantadora poesia intitulada “Prece de uma Brasileira”. Em seguida
usou a palavra o Revmo Vigário Pe. Vicente Augusto Bezerra, que numa piedosa
alocução, disse da emoção que estava possuído, agradecendo a colaboração
sincera de seus paroquianos para um desfecho tão lindo desta grandiosa festa.
Agradeceu, ainda, com palavras
cheias de reconhecimento, as referências feitas à sua pessoa pelos oradores
dessa sessão. Leu a provisão que criou a Freguesia de Aurora e o certificado de
posse do primeiro Vigário Mons. Vicente Pinto Teixeira, de saudosa memória.
A senhorita Maria José, recitou a
linda poesia “No Jardim das Oliveiras”. Com a palavra o Exmo. Sr. Dom Francisco
de Assis Pires, Bispo Diocesano, fez uma conferência repleta de belos
ensinamentos e luminosos conceitos em torno da situação atual do mundo,
salientando a necessidade imperiosa de uma coação perfeita no seio pela Santa
Igreja, onde não devem mediar desfalecimentos.
S. Exa. multiplicando as razões porque se
dignara compartilhando-se das alegrias desta festa que era (ilegível) ser esta
Paróquia pela integridade da fé católica e de sua disciplina irrepreendendo
almas das mais importantes da sua diocese. Destacou-se a pessoa do Revmo. Pe.
Vicente Augusto Bezerra, pelo zelo ardente que abrasa a sua alma de sacerdote
piedoso e apostólico.
Finalizando, congratulou-se com o
povo aurorense nas festas comemorativas da criação canônica da Paróquia.
Numa demonstração de sadio
patriotismo e de amor a nossa querida Pátria, foi encerrada a sessão com o
“Hino Nacional”.
E para constar, lavrei a presente
ata que vai assinada pela mesa. Eu, Murillo de Oliveira Campos, servindo de
Secretário, a escrevi e assino. Francisco, Bispo Diocesano.”
_______________________________________x x x______________________________________
(1) –
Foi o segundo Bispo do Crato, natural de São Salvador na Bahia. Tomou posse aos
10 de janeiro de 1932, ficando à frente do Bispado até 21 de abril de 1955.
Aposenta-se em 11 de julho de 1959. Faleceu em 10 de fevereiro de 1960 como
Bispo Emérito.
(2) –
Foi o segundo Padre da Freguesia do Menino Deus da Vila da Aurora, e o que
permaneu por mais tempo, tomando
posse aos 18 de novembro de 1906, por provisão do Exmo Revmo D. Joaquim José Vieira, 2º Bispo
do Ceará. Faleceu como Pároco desta Freguesia no dia 1º de fevereiro de
1953, na capital federal
(Rio de Janeiro). A 16 de outubro de 1951 foi agraciado pelo Papa Pio XII com o título de Monsenhor.
Faleceu o lavrense Vicente Augusto Bezerra aos 72 anos de idade, 50 anos
de sacerdócio e 47 anos de Paroquiato nesta Freguesia, tendo sido homenageado com nome de rua no Distrito
de Boa Esperança (hoje Iara, Barro, CE) e nome de Escola Pública em Aurora,
cidade a qual dedicou a sua juventude em favor do seu desenvolvimento religioso
e social.
(3) – Aurorense, nasceu
aos 19 de setembro de 1898, filho de Cândido Ribeiro Campos (Coronel Cândido do
Pavão) e Ana Ribeiro Campos. Ordenou-se na cidade cearense de Sobral, aos 7 de
março de 1925, celebrando a sua primeira missa, três dias depois em Canindé,
CE. Foi
vigário da cidade de Palmas, CE (hoje Coreaú), durante quatro anos, dez anos
como pároco em Santa Quitéria (9 de fevereiro de 1930 a 5 de fevereiro de
1936), onde fez intensas reformas na atual igreja matriz, e três anos em Jucás,
CE. Residiu
e trabalhou vários anos em Iguatu, CE, onde exerceu o cargo de Coadjutor do
então vigário Monsenhor Coelho e, depois, Capelão e Professor no Colégio
Senhora Santana. Passou
a residir em Fortaleza, em 1949, onde foi Capelão do Carmelo, Delegado de
Ensino, Diretor do Departamento de Proteção ao Menor, Professor no Liceu e no
Ginásio Municipal. Faleceu
em 19 de dezembro de 1965, vítima de desastre automobilístico (desastre de
jipe), na rodovia BR-13, proximidades de Cajazeiras, Paraíba, aos 67 anos,
deixando saudades aos seus familiares, amigos e conterrâneos. É
homenageado através de empréstimo de seu nome à uma rua na capital cearense
(Parque Manibura), assim como à uma escola municipal em Iguatu, decorrente de
seus importantes trabalhos enquanto diretor da delegacia de ensino.
(4) – Era o
Fabriqueiro da Freguesia do Menino Deus de Aurora, à época do Pe. Vicente
Bezerra. Era o seu braço direito. Residia na casa situada vizinha ao casarão
construído pelo Cel. Xavier e a casa do Prof. José Gonçalves Primo (Zezinho
Saburá). Exercia ainda a função de boticário local, professor de música e
ministrava os sacramentos na ausência do Pe. Bezerra.
(5) – Nasceu em
Aurora (9 de julho de 1921), filha de Antônio Landim de Macêdo (Quarto filho de
Marica Macêdo e Cazuzinha do Tipi) e Rosa Teixeira Leite (Filha do Coronel
Manuel Teixeira Leite). Foi professora pública de relevantes serviços prestados
em Aurora e no Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira.
Por: João Tavares Calixto Júnior
Professor e pesquisador.