quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A "rica" flora asiática da arborização de Lavras e região...


     
       No mês de setembro de 2009 foi publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (Esalq - USP), artigo científico sobre a arborização urbana do município de Lavras da Mangabeira.
      Que pena que não possamos desfrutar de boas notícias relativas a este assunto, pois a atual situação é bastante grave, e diante de todas as atitudes que são tomadas para se resolver o problema, temos a certeza que estamos caminhando por estradas que não tem fim. O texto informa o número de árvores existentes nas ruas, avenidas, praças e principais prédios públicos da zona urbana do município, e aponta, além do número insuficiente de árvores (2.784), uma homogeneidade arbórea representada por apenas 3 espécies (mais de 95%). O imbróglio é causado por um trabalho de arborização urbana feito de forma inconsequente, desastrosa e sem planejamento algum. É duro ver que erros que foram cometidos no passado, em administrações anteriores, são cometidos da mesma forma, e em proporções até maiores no presente. O nim indiano (Azadiractha indica) por exemplo, é uma planta que deve urgentemente ser exterminada de nossas ruas, e ainda mais urgentemente da zona rural. Trata-se de uma verdadeira bomba biológica, uma espécie exótica com um poder avassalador de invasão biológica, que imputa competição veemente com algumas de nossas nativas. Países do centro africano por exemplo, já estudam há muito tempo técnicas de erradicação desta praga que afeta a biodiversidade local e se alastra facilmente por entre a vegetação. Quem não conhece o parque do Cocó, em nossa capital? Pode-se ver facilmente o nim indiano por entre a vegetação, invadida drasticamente pela espécie, que já se faz presente abundantemente naquele resquício de mata atlântica da capital alencarina.
      Mais catastroficamente ainda, é ver que entidades governamentais que deveriam ser pioneiros em tentar erradicar esta praga biológica desse ecossistema tão negligenciado (caatinga), são os que mais fazem alusão à propagação da espécie. Agricultores cada vez mais, plantam ao redor de suas moradias o nim, iludidos pelo rápido crescimento e pelo fato da planta "espantar os mosquitos". Não estamos discutindo o potencial medicinal da planta, que aliás é dona de muitos, nem o seu poder repelente. Apontamos para o prejuízo ecológico avassalador que a espécie causa, e também ao fato de termos em nossas matas, plantas com características semelhantes e até melhores, caso da craibeira (Tabebuia aurea) que também apresenta propriedades repelentes contra alguns insetos.
      A abundância apontada no estudo e a baixa heterogeidade florística apontam para a necessidade de se trabalhar de forma séria com a arborização urbana em Lavras da Mangabeira.
      Arborizar, não é só plantar qualquer muda de qualquer espécie nas ruas, por que disseram que é bom, que dá sombra logo, e sim é planejar e estudar através de inventário e plano de manejo florestal, quais espécies melhor se adaptam em determinada localidade, tendo em vista, parâmetros a serem seguidos como, distância da calçada, altura da fiação, etc. A grande abundância do Ficus em Lavras também é alarmante. Planta que apresenta um enraizamento altamente prejudicial por afetar as calçadas e se alastrar em encanamentos domésticos e públicos à procura de água, causando prejuízos em grande escala.
      O que queremos é sem dúvida um melhor planejamento na arborização urbana, tendo em vista uma maior quantidade de árvores que sejam úteis à população, que sejam efetivamente atenuadoras da qualidade de vida da população. Segundo a UNESCO, para se ter uma boa qualidade de vida, relativo à dados de arborização, recomenda-se no mínimo 2 árvores por habitante. Lavras apresenta um percentual 4 vezes menor, ou seja, nem 1/4 de árvore por habitante.
      Esperamos que diante de tantas mazelas ambientais do município, que tem um rio inudável de tempos em tempos e nada se faz, a arborização seja levada a sério. O plantio a base de frutíferas e nativas específicas seria uma boa estratégia para se garantir uma maior heterogeneidade da flora urbana, da mesma forma que o não plantio das já existentes também seria algo louvável. Somos o país da megadiversidade!!! E por que trazer plantas do outro lado do mundo pra fazer parte da nossa flora ?? Estejamos mais atentos daqui pra frente e valorizemos o que é nosso, mas de forma coerente e responsável, sem acharmos no entanto, que carnaúbas transplantadas e bromélias pontiagudas resolverão o nosso problema.

 
João Tavares Calixto Júnior - Biólogo - Mestre em Ciências Florestais

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