Município que emergiu
da busca incessante pelo ouro, lugarejo que logo se fez paragem pelo insucesso
da lavra, resolveu, São Vicente Ferrer, proteger a aldeota que logo se
constituiria em império verdadeiro em meio ao Salgado. Parte do Ceará de maior
predisposição a lutas e guerras recebeu de seu padroeiro guerreiro a inspiração
para triunfos, sabendo suportar, desde sua epigênese, os desfechos de episódios
marcados pela dor e pela glória.
Palco de fortes cenas
patrióticas, logo contemplou o desejo pela causa nobre da independência, e viu
ecoar, a partir das ideias e ações de seu primeiro filho herói – o Padre José
Joaquim Xavier Sobreira – os efeitos que logo se perpetuariam pela escrita de
crônica esplêndida da história deste País.
Em suas pequenas ruas, puerperais,
cenas bárbaras. A destruição do pelourinho, e a bandeira da independência,
hasteada como um “putsch” à monarquia no Brasil foram símbolos da coragem e da
luta instaladas e bem representadas no lugar. Logo a isso, a onomatopeia
tristonha ouvida pela prisão dos heróis da Confederação do Equador, na pequena
e ainda erma Vila de São Vicente das Lavras, foi expressa por Frei Caneca,
sublevando os heróis e soerguendo a memória desta terra.
Foram os resquícios dos
capítulos iniciais que ornamentaram com toda a opulência a história de Lavras
da Mangabeira. Formou-se esta trajetória pela vocação heroica de seus filhos. O
“heroica” aqui usado é pertinente, pois é arquetípico o que legou muitos deles.
É grande a contribuição dos filhos de Lavras ao Mundo dos humanos. Ao
imaginário também; que os digam o grande carneiro de ouro encantado da
enigmática e maravilhosa gruta do Boqueirão e a mula-sem-cabeça, que
escaramuçava nas noites de lua cheia na estrada do Riacho do Rosário. Contos do
Padre Luiz do Calabaço.
Notícias das “guerras” em Lavras ecoaram
muitas vezes através dos jornais pelo Brasil a fora. Foi assim em 1907, em 1910
e em 1922. Notícias do êxito intelectual de seus filhos, marcadas notadamente
por ordenações sacerdotais, formaturas acadêmicas, exposições artísticas e
publicações literárias que se configuraram como verdadeiros clássicos à
literatura nacional representaram, e representam ainda, a veia cultural que se
estabelece e se fortifica analogamente à vocação para os combates dos
ancestrais dos lavrenses.
Logros do passado,
auspícios do presente. Constitui-se assim uma vida de 200 anos. Seriam 200 os
motivos para cumprimentos? Os engenhos de rapadura, os banhos no gueguéu, os
carnavais tradicionais, a beleza do Boqueirão, a juventude universitária, a excelência
da formação agrícola, as quermesses de São Vicente, o ouro branco de
Amaniutuba, o Rosário de Quitaiús, a fé do povo de São José...
É esta terra, outrora
pedaço de Icó, e que fez emergir Várzea Alegre e Aurora, Baixio, Umari e
Ipaumirim que agora se faz bicentenária e é glorificada! É parte que o Ceará se
orgulha e que dignifica a Nação! É pedaço de Cerrado e Caatinga no chão do
Nordeste do Brasil que diversifica a essência e acrescenta a cada ano, a sua
gente, atos novos de grandeza, da resistência a Lampião, à solidariedade à
pequena Valentina. É a esta Lavras dos Buxaxás,
dos Quitariús, dos Calabaças, a esta Lavras da Mangabeira,
do Arrojado e do Iborepi, de Sinhá d’Amora e Filgueiras Lima, de Joaryvar e de
Cabral da Catingueira, que se voltam todos os demais brasileiros, neste dia 20 de maio de 2016 ,
para enaltecer e outorgar todas as homenagens, diante da relevância histórica
que se traduz na mais genuína gratidão de cada um de seus filhos.
Prof. João Tavares Calixto Jùnior
Juazeiro do Norte, Ceará
Abril de 2016.